Acompanhar de perto a viagem de Bento XVI a Portugal foi uma oportunidade única para confirmar, ao vivo, as impressões que o trabalho diário sobre a actualidade do Papa e da Santa Sé foram deixando.
Profissionalmente, houve sempre a exigência de estar para lá do espanto ou da surpresa que a presença, as palavras e os gestos de Bento XVI pudessem provocar: o Papa que estava no nosso país era a mesma pessoa que fora eleita em Abril de 2005 para suceder a João Paulo II, a mesma pessoa que empreendera já quase dezena e meia de viagens internacionais e o mesmo líder e teólogo que, há décadas, marca a vida da Igreja Católica.
Centenas de discursos, homilias e intervenções escritas depois, Bento XVI chegava ao nosso país e era essencial que cada palavra fosse entendida no contexto de um pontificado em que as questões definidas como centrais são tratadas com rigor e com frontalidade.
Mais do que um privilégio, a visita do Papa é, efectivamente, uma responsabilidade acrescida: descodificar mensagens e atender a tudo o que acontece num cenário tão intenso e marcado por diversas emoções nem sempre é tarefa fácil, mas é um desafio incontornável.
Desde a partida de Roma, o ritmo foi sempre frenético e os temas variados, da questão da pedofilia na Igreja à regulação dos mercados, passando pelo segredo de Fátima ou as relações entre tradição católica e secularismo em Portugal, no marco do centenário da República.
A abordagem que cada uma destas questões merecia variava em função do ângulo mais ou menos internacional que cada jornalista lhe quis oferecer, mas em solo luso foi evidente que a agenda era marcada pelas palavras do Papa e pela manifestação do povo português que respondeu “presente” aos encontros com ele.
Passada que foi esta tarefa de síntese e contextualização dos diversos momentos da visita – com a necessária atenção a todos os pormenores que iam marcando a informação dada praticamente ao minuto – parece agora evidente que o trabalho passou do mensageiro para quem o quiser escutar: há um peso específico nas palavras de Bento XVI que merecem uma leitura atenta, pessoal e colectiva, com consequências práticas na Igreja e na sociedade.
Octávio Carmo – AE