Para a história de 2004

Balanço dos consultores da Comissão Episcopal das Comunicações Sociais Reúnem-se quase mensalmente para dialogar sobre o que se passa. Alexandre Laureano Santos, medico; António Rego, padre e jornalista; José Eduardo Borges de Pinho, professor de Teologia; Manuel Clemente, bispo; Mary Anne d’Avillez, enfermeira; Oliveira Branquinho, mestre …. Jubilado. Para as reuniões na sede da Conferência Episcopal Portuguesa, estes Consultores da Comissão Episcopal das Comunicações Sociais, trazem preocupações e problemas que afectam ou não a suas vidas profissionais e pastorais. Dos encontros, coordenados por D. Manuel Clemente, Bispo Auxiliar de Lisboa e membro daquela Comissão Episcopal, surgem propostas de intervenção e tomadas de posições a tornar públicas. No fim do ano de 2004, foi por proposta do Programa Ecclesia que cada um dos Consultores avaliou um ano a terminar e lançou pistas para 2005. O essencial das opiniões que foram emitidas no Programa do dia 31 de Dezembro é transcrito nesta edição. Portugal Politicamente, foi um ano em sobressaltos… “Para um jornalista foi um ano muito animado, o que não quer dizer que tenha sido bom para o país!”. E não é difícil, sobretudo para o Director de Informação da Rádio Renascença, exemplificar com a saída de um primeiro-ministro, a entrada de outro que, pouco tempo depois, sai também agora por dissolução da Assembleia da República. Economicamente, Sarsfiel Cabral afirma a recuperação, embora débil, e que “parece estar a abrandar no fim do ano”. Por isso, “não foi um ano bom para maioria dos portugueses”. O desemprego, esse não pára de crescer (apesar de não tanto quanto em 2003). Mundo O Iraque esteve no centro do mundo. 2004 recebeu essa guerra do ano anterior e com ela as consequências de uma invasão que “foi um erro e sobretudo muito mal planeada”, sublinha Francisco Sarsfield Cabral. O pós-guerra foi esquecido, não sendo ainda certo o futuro de um país, cuja história se cruza com outra palavra que pairou em mais um ano: o terrorismo. Desta vez foi em Espanha que essa ameaça mais mortes provocou: aconteceu a 11 de Março Vaticano Atenção ao que se passa no mundo foi atitude constante no Vaticano ao longo de 2004. Desde logo a esse fenómeno que marca a sociedade dos homens de hoje: o terrorismo e suas causas. Borges de Pinho, Professor de Teologia na Universidade Católica, diz que a preocupação pelo terrorismo internacional está entre as principais atenções reveladas pela Santa Sé, nas posições que tomou publicamente e em fóruns internacionais e nas intervenções que João Paulo II fez, “revelando uma distância moral importante nesta matéria: não apenas chama a atenção para o problema, como para as suas causas e para a auto-critica que nós (Ocidentais) temos que fazer nesta matéria”. Alertas para a pobreza no mundo também estiveram na linha da frente das intervenções da Santa Sé. A Igreja insistiu muito na gravidade do problema e na necessidade de respostas, realça o Professor de Teologia. No espaço europeu, José Eduardo Borges de Pinho alerta para “um certo entendimento de laicidade que corre o risco de degenerar em laicismo”. A discussão da menção ou não das raízes cristãs no Tratado Constitucional Europeu é disso exemplo. Mas o problema é mais amplo: “toca, por exemplo, a questão do véu islâmico e a forma como se estão a ver os sinais religiosos”, exemplifica. A nível ecuménico, Borges de Pinho sublinha dois factos: gestos simbólicos do Papa João Paulo II, que devolveu à Igreja Ortodoxa Russa o ícone da Madre de Deus de Cazan; e das relíquias de S. Gregório de Nazianzo e de S. João de Damasceno ao Patriarcado Ecuménico de Constantinopla. “São gesto que mostram como, no ano de 2004, houve o esforço de desenvolvimento de aproximação com a Igreja Ortodoxa, nomeadamente a Igreja Ortodoxa Russa”. Concordata A assinatura da Concordata. A 18 de Maio, faz parte da história da Igreja Católica em Portugal durante o ano de 2004. “Poderá parecer que é um acto apenas político, mas é muito mais do que isso. É a sociedade portuguesa a reconhecer que a Igreja Católica tem um lugar histórico, patrimonial, no seu quotidiano e que existe um entendimento entre as duas sociedades, a civil, laica, e a Igreja Católica”. Realça António Rego ao destacar um facto de 2004 entre muitos que aconteceram, a maioria no silêncio e nos bastidores – refere o Director do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, porque não quer que se esqueçam na história deste ano. Nova Evangelização É uma iniciativa inter-diocesana e, para já, a nível continental. Em Outubro, Paris foi a segunda cidade que dinamizou o Congresso para a Nova Evangelização e Missão na Cidade (em 2003 fora, Viena; em 2005 será Lisboa, a que se seguem Bruxelas e Budapeste). Trata-se de um projecto aberto a todos os que quiserem participar e estejam interessados em “aprofundar esta temática maior da Igreja contemporânea que é saber não só como reafirmar o Evangelho, mas depois implantá-lo em termos comunitários nestas urbes novas que nem sabemos bem onde começam e onde acabam, movimentando milhares e milhares de pessoas todos os dias numa vida cada vez mais mexida e remexida não só em termos pessoais, mas também culturais”. É com estas palavras que D. Manuel Clemente faz a síntese de um projecto que marcou o ano de 2004 e fará história no que agora começa. Vida Pela primeira vez, o Plano Nacional de Saúde fez referência específica à importância da espiritualidade na cura de quem está doente. Alexandre Laureano Santos, médico, realça o facto como muito positivo. É também ajuda importante a “motivação para a cura” quando se fala na relação entre a pessoa e a doença. E se estes foram aspectos negligenciados, esquecidos mesmo na medicina tradicional e na organização dos cuidados de saúde, são agora acolhidas com expectativas positivas as referências que merecem no Plano Nacional de Saúde, sobretudo porque enquadradas num plano estabelecido até 2010, com objectivos, prioridades e atribuição de meios. Mary Anne Avillez, enfermeira, sublinha os passos dados na educação sexual. Com o apoio do Movimento Defesa da Vida, foram abertos gabinetes em 8 escolas com esse objectivo. Professores que agora os dinamizam formaram-se no MDV, que envia materiais para esses espaços da escola. 2004 tem na sua história repetidas discussões sobre a liberalização do aborto. A Conferência Espiscopal Portuguesa publicou a “Meditação sobre a Vida”: um documento que recentra o problema, oferecendo as bases éticas para a sua discussão, distanciando-a de políticas. Mary Anne d’Avillez sublinha a necessidade da formação e da reflexão sobre a vida. Só o conhecimento possibilita uma tomada de posição coerente. Justiça Foi ao redor da justiça que giraram muitos meses do calendário do ano 2004. Oliveira Branquinho, (Mestre ….. Jubilado) não sentiu necessidade em nomear casos específicos para denunciar o que não é benéfico para o exercício da justiça e para quem a ela recorre: “climas de estados de opinião que se criaram através de situações de particular interesse mediático”. O impacto nos media de casos de justiça, as manifestações junto aos tribunais quando os processos estão em apreciação são situações que não trouxeram benefícios ao exercício de uma “justiça justa”. Últimos 8 dias Foram questões de calendário que não permitiram qualquer referência aos acontecimentos trágicos na Ásia, por um lado, aos que decorreram na cidade de Lisboa nos últimos dias do ano, mas que se desejariam para muitos mais dias de todos os anos. A recolhe de opiniões aconteceu antes dos dias que os assinalarão na história de 2004: o primeiro, a recordar a força da natureza, que quer ser respeitada e preservada mesmo quando em aparente revolta com tudo e todos; o segundo, esse Encontro Europeu de Jovens, dinamizado pela Comunidade de Taizé, qual laboratório de paz entre todos os homens, oásis de entendimento religiosos e sinal de perfeita sintonia da criação com o Criador. 2005 “Tenho esperança que os portugueses tenham mais consciência dos problemas dos país”. Referindo o último documento do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa, Francisco Sarsfield Cabral, diz que mais do que discursos ou políticas, é necessário avaliar soluções concretas em ordem ao bem comum do país. Porque acha que população portuguesa está farta de “palavreado”, o Director de Informação da RR espera que maior parte dos portugueses “não vá atrás de promessas vás e que, finalmente, os políticos percebam que ganha quem falar verdade”. Laureano Santos espera que o novo ano ensine aos portugueses como se devem “comportar”. Quando as principais causas de morte em Portugal são doenças provocadas pelos comportamentos dos portugueses, Laureano Santos indica a urgência novas formas de relação com o ambiente, com a alimentação, com a famílias, com as sociedades. “São estes os factores dominantes na prevenção das grandes doenças que matam os portugueses”, refere. Esperança é a palavra de ordem para um ano que começa, para um cristão. Borges de Pinho, olha o terrorismo e a pobreza mundial como questões que a Igreja, a nível universal e local, tem de enfrentar. A questão do diálogo inter-religioso coloca-se, também, cada vez mais: um trabalho lendo, “sem fim”, diz mesmo. Borges de Pinho espera e deseja que, em 2005, haja uma intensificação de sinais nessa matéria. Exemplo disso (no âmbito do diálogo ecuménico) podem ser os documentos que deverão surgir durante este ano: um a nível do diálogo com a comunhão anglicana, sobre Maria; e outro, mais a nível inter-confessional, sobre a autoridade na Igreja.

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Agência ECCLESIA

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