Paquistão: Comissão Justiça e Paz apela à comunidade internacional por justiça após cristão ser condenado à morte por blasfémia

Ehsan Shan foi considerado culpado de ter divulgado imagens de um exemplar do Alcorão, que tinha sido objeto de ato desrespeitoso

Foto: ACN

Lisboa, 08 jul 2024 (Ecclesia) – O presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz da Igreja Católica no Paquistão apelou à comunidade internacional para se mobilizar em defesa da vida de Ehsan Shan, cristão condenado à morte por blasfémia, foi hoje revelado.

D. Samson Shukardin caracterizou, em declarações à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), como “muito dolorosa” a sentença do Tribunal Antiterrorismo de Sahiwal, que considera o jovem de 22 anos culpado de blasfémia por, alegadamente, ter republicado nas redes sociais conteúdos considerados insultuosos ao Islão.

Em agosto de 2023, alguns moradores acusaram dois homens cristãos de terem profanado, em Jaranwala, páginas de um exemplar do Alcorão, o livro sagrado do Islão, desencadeando um dos momentos mais graves de violência contra os cristãos no Paquistão na história recente do país, destaca a FAIS.

Multidões de extremistas queimaram dezenas de Igrejas e roubaram ou destruíram aproximadamente uma centena de casas.

Apesar de não lhe ter sido imputado a participação no ato de profanação, Ehsan Shan foi acusado de ter divulgado imagens do livro alvo de ato desrespeitoso, levando-o a ser multado em um milhão de rúpias paquistanesas, aproximadamente 3.300 euros.

“As grandes ONGs internacionais e organizações de direitos humanos devem sair e dizer algo opondo-se a esta decisão. Isso causará um grande impacto no governo”, afirmou D. Samson Shukardin sobre o caso, mais um relacionado diretamente com a perseguição religiosa no Paquistão.

O padre Khalid Rashid, diretor da CNJP da diocese de Faisalabad, explicou à FAIS que “[Ehsan apenas] compartilhou a imagem com uma pessoa, mas essa imagem já havia sido compartilhada por milhares e milhares de pessoas, incluindo autoridades como membros da polícia e do governo”, considerando, por isso, que o cristão está a ser um alvo.

“Condenamos este julgamento. Ele é inocente porque não tem formação. Ele vem de uma família muito pobre. Às vezes, as pessoas não entendem essas coisas — ele não tinha ideia de que compartilhar esse conteúdo seria considerado prejudicial. Durante aqueles dias [após os ataques em Jaranwala], todos compartilharam a notícia”, referiu.

O ataque em Jaranwala teve grande repercussão a nível global, tendo os incidentes sido considerados como dos mais graves ocorridos no Paquistão motivados pelo ódio religioso, exigindo uma resposta ao nível humanitário.

A Fundação AIS Internacional avançou na altura com um pacote de ajuda de emergência com a distribuição de primeiros socorros para cerca de 500 famílias cristãs vítimas da violência.

A comunidade cristã no Paquistão encontra-se sob enorme risco, como demonstra o caso de Nazir Gill Masih, de 70 anos, que a 25 de maio, em Sargodha, foi espancado após falsa acusação de ter queimado páginas do Corão, acabando por morrer no hospital.

Segundo informa a FAIS, o caso voltou à ordem do dia depois de se saber que a viúva, Alla Rahki, que se encontrava num estado de profunda depressão após o ataque, faleceu e que o Tribunal Antiterrorista de Sargodha havia concedido fiança a todos os acusados dos atos de violência e que estavam de alguma forma envolvidos no assassínio de Nazir Masih.

Todos receberam ordem de libertação imediata da prisão.

LJ/OC

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