Papua-Nova Guiné: Papa apela ao fim das divisões e da «violência tribal»

Primeiro discurso no arquipélago sublinha importância de usar recursos naturais para promover justiça social

Porto Moresby, 08 set 2024 (Ecclesia) – O Papa alertou hoje na capital da Papua-Nova Guiné para a violência tribal que atinge o arquipélago, falando perante autoridades políticas e representantes da sociedade civil.

“Espero, de modo particular, que cessem as violências tribais, que infelizmente causam muitas vítimas, não permitem às pessoas viver em paz e impedem o desenvolvimento”, disse, na primeira intervenção pública no país da Oceânia, onde chegou esta sexta-feira, após ter iniciado a 45ª viagem internacional do pontificado na Indonésia.

Francisco apelou ao “sentido de responsabilidade de todos” para que se ponha termo à “espiral de violência”, num país que viveu motins e manifestações de protesto em janeiro deste ano, com várias mortes.

Após uma visita ao governador-geral da Papua Nova Guiné, Bob Bofeng, o Papa seguiu para a APEC Haus, principal centro de conferências do país, onde sublinhou a “riqueza cultural extraordinária” de um arquipélago com centenas de ilhas, nas quais se falam mais de 800 línguas.

“O vosso País é rico, não só em ilhas e idiomas, mas também em recursos terrestres e hídricos”, declarou

Francisco pediu que “as necessidades das populações locais sejam devidamente tidas em conta na distribuição dos lucros”, gerados com esses recursos.

Num país particularmente afetado pelas alterações climáticas, o discurso sublinhou a necessidade de um “desenvolvimento sustentável e equitativo, que promova as condições de vida de todos, sem excluir ninguém, através de programas exequíveis e mediante a cooperação internacional”.

Dirigindo-se aos responsáveis políticas da Papua-Nova Guiné, o Papa convidou todos a trabalhar em favor da “solidez institucional” e a “construir consensos sobre as escolhas fundamentais”.

“Agradeço-vos por me terdes aberto as portas do vosso bonito país, tão longe de Roma e, no entanto, tão próximo do coração da Igreja Católica. Porque no coração da Igreja está o amor de Jesus Cristo, que na cruz abraçou todos os homens”, disse ainda.

A intervenção aludiu à questão do estatuto da ilha de Bougainville, para pedir “uma solução definitiva, evitando o reacender de velhas tensões”.

A região autónoma, onde vivem cerca de 300 mil pessoas, tem sido marcada pela tensão entre movimentos independentistas e as autoridades papuas.

Mais de 97% dos eleitores da região insular, no leste da Papua-Nova Guiné, escolheram a independência, num referendo realizado em 2019.

O país, membro da Commonwealth, tem de 8,2 milhões de habitantes, 30,6% dos quais católicos, segundo dados do Vaticano; a maioria da população é cristã, sobretudo protestantes.

“Para todos os que se professam cristãos – a grande maioria do vosso povo – desejo ardentemente que a fé nunca se reduza à observância de rituais e preceitos, mas que consista em amar Jesus Cristo e segui-lo, e que possa tornar-se uma cultura vivida, inspirando mentes e ações e tornando-se um farol de luz que ilumina o caminho”, declarou o Papa.

Francisco concluiu com votos de que “todos os povos da Papua Nova Guiné, com a variedade das suas tradições, vivam juntos em harmonia e deem ao mundo um sinal de fraternidade”.

O Papa cumprimentou crianças e representantes dos povos nativos, em trajes tradicionais, presentes na sala, e também todos os membros da orquestra, antes de seguir para uma sala contígua, onde se reuniu com dirigentes de vários países e organizações do Pacífico.

Foto: Vatican Media

No livro de honra da Government House, Francisco deixou uma mensagem escrita pelo próprio punho: “Honrado em poder conhecer o povo da Papua-Nova Guiné, faço votos de que encontre sempre na oração luz e força para percorrer unido o caminho da justiça e da paz”.

Os percursos pelas ruas de Porto Moresby têm sido acompanhados por milhares de pessoas.

Esta é a terceira viagem de um pontífice ao país da Oceânia, onde São João Paulo II esteve em 1984 e 1995, tendo beatificado Pierre To Rot (1912-1945), mártir, morto durante a ocupação japonesa, na II Guerra Mundial.

O governador-geral da Papua-Nova Guiné saudou Francisco, recordando a história da Igreja Católica no arquipélago e as visitas de João Paulo II.

Bob Bofeng destacou o papel das instituições católicas na promoção social e na defesa dos direitos das mulheres, alertando depois para o impacto da crise climática no arquipélago.

O programa do dia prossegue às 17h00 locais (08h00 em Lisboa), numa visita crianças de rua e pessoas com deficiência, apoiadas por instituições de caridade, na ‘Caritas Technical Secondary School’, fundada pelas Irmãs da Caridade de Jesus, da família Salesiana, antes do encontro com representantes da comunidade católica da Papua-Nova Guiné e das Ilhas Salomão.

A viagem mais longa do atual pontificado, que começou na Indonésia (3-6 de setembro), passa pela Papua-Nova Guiné (6-9 de setembro), Timor-Leste (9-11 de setembro) e Singapura (11-13 de setembro).

OC

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Agência ECCLESIA

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