Presidente da Comissão Episcopal da Educação fala sobre os objectivos da Semana Nacional da Educação Cristã e dos desafios que se levantam à Igreja nesta área De 2 a 9 de Outubro a Igreja Católica em Portugal é convidada a viver a Semana Nacional da Educação Cristã, tendo como pano de fundo o tema “Educar é um acto de amor”. Em entrevista à ECCLESIA, D. Tomaz Silva Nunes, presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã, fala dos objectivos desta Semana e dos desafios que se levantam à Igreja na área da transmissão dos saberes e dos valores. Ecclesia – Que propostas são apresentadas com esta Semana Nacional da Educação Cristã? D. Tomaz Silva Nunes – Para esta Semana há, como habitualmente, uma mensagem da Comissão Episcopal para a Educação Cristã, propondo-se ainda que as Dioceses organizem actividades no sentido de sensibilizar as pessoas, em particular os educadores, para a importância do tema. Este ano, após um trabalho de equipa no Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC), surgiu a ideia de dedicar a Nota Pastoral à relação da educação com o amor, daí o lema da Semana ser “Educar é um acto de amor”. O objectivo é levar as pessoas, educadores e educandos, a assumir a educação com expressão do amor: isso cria motivação nos educadores e motivação nos educandos, gerando um clima relacional de respeito, serviço, acolhimento mútuo, indispensável para a fecundidade da própria educação. Dirigimo-nos em especial aos educadores – pais, encarregados de educação, professores, sacerdotes, religiosos e religiosas -, no sentido de compreenderem que o amor é indispensável para a construção da sociedade. E – Que actividades vão marcar esta Semana? TSN – Para além da divulgação da Nota – com um cuidado especial para as celebrações dominicais -, há duas acções a nível nacional: no dia 6 de Outubro é apresentada a publicação “Fórum EMRC, no auditório da RR, obra que conta com o contributo de muitas personalidades e que apresenta uma visão panorâmica relativamente ao ensino religioso escolar. No dia 8 de Outubro é promovido o Colóquio “Educar é Amar”, no Colégio de São João de Brito (Lisboa), assinalando o Dia do Educador Cristão com a participação de pais, educadores e catequistas para debater a perspectiva da educação para o amor. Contamos que, nas Dioceses, haja iniciativas tomadas a nível local. E – O SNEC tem de dirigir-se a pais, professores, catequistas, crianças, jovens, adolescentes… Como conciliar, em termos de linguagem e de objectivos, todos esses âmbitos de acção? TSN – Como em tudo na Igreja, temos de estar permanentemente atentos às mudanças que se operam no mundo, para captar o significado dessas mudanças e lançar a luz do Evangelho sobre essas realidades. Nesse sentido, contamos com a contribuição de todos. O trabalho, nesta área, é feito em rede, contando com a implantação da catequese, das escolas católicas, do ensino religioso nas escolas estatais em todas as Dioceses. A Comissão Episcopal, com os seus quatro Bispos, tem uma atenção particular para os vários sectores: a escola católica, a pastoral catequética e a EMRC. E – A nova Comissão já se reuniu? TSN – Esta semana tivemos uma primeira reunião, que foi uma espécie de avaliação da grande herança que nos foi transmitida, ver o que há para depois tentar rentabilizar as coisas positivas e, porventura, corrigir algumas limitações. Fazemos isso cheios de esperança numa sociedade mais perfeita. E – O arranque dos trabalhos já permitiu identificar os principais desafios? TSN –Isso já foi feito em todos os sectores. Ao nível da pastoral catequética vamos procurar solidificar as equipas que estão a trabalhar na revisão dos catecismos, para definir melhor as metas temporais; quanto à catequese de adultos, por outro lado, verificamos que as situações são muito diversas, em termos etários e de história pessoal, pelo que tem de haver propostas diferentes e não só um modelo. Ao nível da escola católica, consideramos que o sector precisa de uma revitalização grande, entrando em diálogo com as associações do ensino particular e cooperativo para conhecer os problemas e intervir. Quanto ao ensino religioso escolar, está em curso a revisão dos programas e dos manuais, com um pouco mais de lentidão devido à revisão dos catecismos. A este nível constatam-se alguns problemas relativamente às relações institucionais: creio que, a partir dos anos 90, foi-se perdendo o sentido do diálogo entre as Instituições, mormente com o Ministério da Educação. É preciso enfrentar as questões com eficácia, o que não se concretiza apenas no emitir de ofícios ou pedidos de esclarecimento. E – Quais são os principais problemas identificados? TSN – Neste início de ano lectivo têm surgido muitas questões ligadas aos ATL’s, devido ao alargamento do horário escolar no 1º ciclo. Esta medida é, em si, positiva, porque todos sabemos que há escolas que distam dos locais de habitação e são precisas respostas para as famílias. Aquilo que é preciso é que estas medidas sejam tomadas no diálogo e numa conjugação de esforços. Como é por todos reconhecido, as IPSS – em grande parte ligadas à Igreja – desenvolvem há muitos anos este trabalho de ocupação de crianças e adolescentes, sobretudo nos tempos que vão para além do período escolar. Se as escolas chamam a si a ocupação do período de tempo até às 17h30, ignorando as instituições que já ocupavam as crianças, ficamos na presença de um corte perfeitamente desnecessário, porque todos devem trabalhar em conjunto. Nós estamos abertos ao diálogo, mas não se podem colocar em causa os postos de trabalho de milhares de pessoas contratadas pelas IPSS. Por outro lado, ao nível da EMRC no 1º ciclo do ensino básico tem havido algumas dificuldades que estão a ser resolvidas caso a caso: há situações muito diversificadas, agrupamento verticais, agrupamentos horizontais, escolas que trabalham isoladas. No meio desta diversidade as soluções são encontradas localmente, mas abre-se a porta a diferenças na interpretação da lei, pelo que já propusemos ao Ministério da Educação que propusesse uma regulamentação capaz de pôr toda a gente a trabalhar na mesma linha de orientação. De qualquer modo, penso que o alargamento do horário escolar no 1º ciclo irá permitir a resolução do problema do enquadramento da área disciplinar de EMRC, porque os alunos terão mais tempo de ocupação escolar. E – Até que ponto é que o ambiente cultural e político de crescente laicismo desafia o lugar da Religião nas escolas e na sociedade? TSN – Essa tendência afecta vários países da Europa e denota uma fragilidade cultural muito grande. Tentar de colocar o religioso no foro íntimo, da consciência de cada um, ou limitar a sua expressão pública e social aos espaços unicamente religiosos é, de facto, não compreender que a dimensão religiosa é intrínseca à natureza humana. A religião tem uma projecção na sociedade, gera cultura, não consiste apenas na prática de um conjunto de actos religiosos, mas é uma atitude perante a vida. Há critérios de valor que resultam de uma concepção da vida inspirada pela própria religião e é impensável isolá-la do todo da pessoa humana e do todo da sociedade. Como referiu recentemente Bento XVI, o Estado laico tem a obrigação de proteger todas as religiões, sem se identificar com nenhuma, acolhendo-as e reconhecendo-as sem medo. Esta dinâmica de secularização, por outro lado, convida-nos a aprofundar o sentido do religioso e a melhora a qualidade de toda a nossa expressão de vida cristã. Nota Pastoral da Comissão Episcopal da Educação Cristã • Educar é um acto de Amor
