Bento XVI assinou «Deus Caritas est» quando se esperava que escrevesse sobre a fé
A encíclica Deus Caritas est (Deus é amor), primeira do pontificado de Bento XVI, foi uma surpresa, dado que se esperava que escrevesse sobre a fé.
O documento de 2006 foi tema de debate numa jornada de reflexão sobre o pensamento do Papa, na Universidade Católica Portuguesa.
António Martins, da Faculdade de Teologia, começou por dividir as várias temáticas abordadas na encíclica inaugural realçando a oposição entre amores “eros e ágape”. A forma como Bento XVI aborda todo o tema do amor com “um realismo incrível”.
A forma do amor deve ser entendida, como o Papa afirma, na sua totalidade, na extensão que não se reduz ao abstracto, mas que relaciona a história das pessoas. “A base da prática da caridade é amar a todos e amar e acolher cada um”, realçou o professor.
A opinião de estranheza quanto ao tema da encíclica foi também destacado pelo segundo orador, José Manuel Fernandes, jornalista, “com frontalidade e inesperadamente, mas com muito rigor foi a surpresa do Papa tratar a questão do amor erótico/paixão e contra o preconceito da Igreja que é domínio de proibições”.
Outra palavra que saltou no seu discurso foi a “perda do termo fraternidade que actualmente se substitui por solidariedade, aliviando as responsabilidades de todos e passando-as para o Estado. Aqui se perde toda a noção da verdadeira caridade”.
João César das Neves iniciou a sua intervenção esclarecendo que os que seguem o Papa e os outros que o atacam não o fazem por ele ser extremamente inteligente ou bom escritor mas pelo próprio cargo que tem. “Porque é Papa, vigário de Cristo.”
O comentador relembrou que Deus Caritas est foi das encíclicas mais demoradas, tendo demorado cerca de 250 dias para ser conhecida, e era esperado que o tema fosse a fé, tema abordado por Bento XVI durante vários anos.
A surpresa foi “uma das mais pequenas encíclicas onde são abordadas questões políticas, o ataque ideológico contra a caridade e a relação da justiça e caridade, presente no Estado”, destacou César das Neves.
Sendo um Papa que viveu variados confrontos com as ideologias, nomeadamente o nazismo, a revolução marxista e a ditadura do relativismo, Bento XVI é alguém “que apresenta o amor verdadeiro que está presente na Igreja e através do tema escolhido para a encíclica toca a caridade e a fé,” conclui.