Primeiro embaixador da República lusófona na Santa Sé recebido por Bento XVI Bento XVI recebeu hoje, no Vaticano, o primeiro Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República de Moçambique junto da Santa Sé, Carlos dos Santos, manifestando a sua satisfação pela existência de “um compromisso de paz” neste país lusófono. “Construindo sobre uma reconciliação duradoura, que deriva do perdão e da decisão de olhar para a frente, os moçambicanos vivem hoje esperançados num futuro de maior serenidade. De facto, a sua nação já goza de estabilidade política, de significativo progresso económico e os inícios duma redução da pobreza”, assinalou. O Papa lembrou os anos da guerra civil, que devastou Moçambique, lamentando “as feridas, físicas e psicológicas, de inumeráveis homens, mulheres e crianças inocentes”. Sublinhando que a paz é mais do que mera “ausência de guerra”, Bento XVI defendeu que “cabe a todos os cidadãos – especialmente das autoridades civis, políticas e religiosas – contribuir com todos os meios possíveis para o respeito da pessoa humana e a promoção da justiça e equidade a fim de que indivíduos e comunidades possam crescer, livres da ameaça de opressão e corrupção, da afronta da pobreza, dívida ou discriminação”. “A prioridade dada à promoção de projectos sociais e comerciais capazes de criar uma sociedade mais justa e de dar trabalho aos mais necessitados, constitui um estímulo, não obstante a dificuldade do desafio, para todos os que orientam e trabalham no sector dos negócios”, acrescentou. Para o Papa, um autêntico desenvolvimento requer um plano coordenado de progresso nacional, “que respeite as aspirações razoáveis de todos os segmentos da sociedade”. Por isso, assinalou, os planos para “uma mudança duradoura para melhor, devem ser baseados no exercício de um governo responsável e transparente, e acompanhados por um sistema judicial imparcial, pela liberdade política e por uma Imprensa decididamente independente”. “Sem estes fundamentos comuns a todas as sociedades civilizadas, a esperança de progresso, a que todo ser humano aspira, permanece ilusória”, alerta. Família e SIDA O Papa fez questão de sublinhar que “a actividade diplomática da Igreja faz parte da sua missão de serviço à comunidade internacional” e visa, especificamente “promover a dignidade da pessoa humana e a encorajar a paz e a harmonia no seio das nações e entre os povos do mundo”. Bento XVI indicou que a Santa Sé se manifesta, com “insistência e tenacidade”, sobre “o respeito pelos indivíduos, a importância vital da família, como célula primária e vital da sociedade, e a necessidade de um bom governo que garanta a promoção dos direitos humanos fundamentais e das legítimas aspirações”. Nesse sentido, destacou a introdução de leis acerca da família pelo governo moçambicano, com as quais se tem “procurado proteger esta verdade e valor fundamental, que permanece na base de todas as civilizações”. “Todavia, ainda circulam no continente africano tendências para esvaziar o matrimónio do seu conteúdo próprio”, lamentou. Outra questão abordada neste longo discurso foi a tragédia da SIDA, com o Papa a recordar que “a Igreja em Moçambique serve a nação através de um vasto apostolado educativo e social”. “Entre as várias obras de caridade em que está comprometida, contam-se o cuidado dos órfãos, cujo número está aumentando devido à, clínicas sanitárias, projectos de desenvolvimento integral, escolas e uma universidade. Estou certo de que a comunidade católica continuará a responder generosamente às necessidades sociais e espirituais dos moçambicanos que vão surgindo”, assinalou. Em conclusão, o Papa deixou votos de que o Acordo entre a Santa Sé e Moçambique, em fase de estudo há alguns anos, “seja logo levado a cabo”.