A um mês do Congresso Eucarístico Nacional que terá lugar em Brasília, foi sobre o mistério e culto eucarístico na vida da Igreja que Bento XVI centrou a sua alocução a mais um grupo de Bispos brasileiros, na conclusão da respectiva visita “ad limina Apostolorum”.
Trata-se da Região Norte II, que abrange, como disse o Papa, “dioceses disseminadas na imensidão da região amazónica”. Nove dioceses e cinco prelaturas territoriais.
Partindo das manifestações do Senhor Ressuscitado, proclamadas na liturgia deste tempo pascal, Bento XVI declarou considerar que “o centro e a fonte permanente do ministério petrino estão na Eucaristia, coração da vida cristã, fonte e vértice da missão evangelizadora da Igreja”.
Razão por que se preocupa com “tudo o que possa ofuscar o ponto mais original da fé católica”.
“Uma menor atenção que por vezes é prestada ao culto do Santíssimo Sacramento é indício e causa de escurecimento do sentido cristão do mistério, como sucede quando na Santa Missa já não aparece como proeminente e operante Jesus, mas uma comunidade atarefada com muitas coisas em vez de estar recolhida e deixar-se atrair para o Único necessário: o seu Senhor. Ora, a atitude primária e essencial do fiel cristão que participa na celebração litúrgica não é fazer, mas escutar, abrir-se, receber”, disse.
Tal não significa, esclareceu o Papa, adoptar uma atitude de passividade ou desinteresse, mas sim “cooperar” segundo a “autêntica natureza da verdadeira Igreja, simultaneamente humana e divina”, “empenhada na acção e dada à contemplação”.
“Se na liturgia não emergisse a figura de Cristo, que está no seu princípio e está realmente presente para a tornar válida, já não teríamos a liturgia cristã, toda dependente do Senhor e toda suspensa da sua presença criadora. Como estão distantes de tudo isto quantos, em nome da inculturação, decaem no sincretismo introduzindo ritos tomados de outras religiões ou particularismos culturais na celebração da Santa Missa”, lamentou.
O Papa advertiu contra o risco de reduzir a celebração litúrgica a “um sinal correspondente a um vago sentimento de comunidade”.
Bento XVI concluiu as suas palavras aos Bispos da Amazónia referindo o XVI Congresso Eucarístico Nacional que vai ter lugar daqui a um mês na capital, Brasília.
“Jesus Eucaristia. Que Ele seja verdadeiramente o coração do Brasil, donde venha a força para todos homens e mulheres brasileiros se reconhecerem e ajudarem como irmãos, como membros do Cristo total. Quem quiser viver, tem onde viver, tem de que viver. Aproxime-se, creia, entre a fazer parte do Corpo de Cristo e será vivificado”, indicou.
Na saudação ao Papa, em nome deste grupo de bispos brasileiros, D. Jesus Maria Cizaurre, Prelado de Cametá, recordou que são pastores de “Igrejas particulares que, no meio da Amazónia, com todas as limitações de impostas pela geografia e pelo clima” e testemunhou o “admirável trabalho pastoral” dos líderes leigos “que, através das Comunidades Eclesiais de base, movimentos e serviços, com grande espírito missionário se alimentam da Palavra de Deus e a levam a todos os que a não conhecem suficientemente”. Isso sem esquecer da “presença testemunhal, no meio do povo mais pobre, das comunidades de vida consagrada”. “No âmbito social, estamos empenhados pela preservação do meio ambiente e a defesa da exploração racional e sustentável da floresta amazónica que, por causa da ambição de cunho capitalista, a cada ano vem sofrendo constante redução da área de cobertura florestal”.
“Olhamos com preocupação a situação de violência urbana alimentada pelo consumo de drogas, pela falta de educação familiar e pela busca de dinheiro fácil. Também nos preocupa a violência rural que tem como pano de fundo a questão da propriedade sobre a terra e é gerada pela ambição daqueles que para consegui-la, mandam matar. Entre os bispos aqui presentes, três deles já foram ameaçados de morte”, acrescentou.
“Queremos para o nosso povo, que é pobre, um modelo de desenvolvimento sustentável que traga progresso para todos e favoreça a promoção humana. Mas, infelizmente, não é esse o modelo de desenvolvimento que o Governo e as grandes empresas pensaram para a nossa região. Em diversas ocasiões temos nos manifestado contra os grandes projectos na Amazónia que não escutam nem levam em conta a opinião do povo”, disse ainda.
(Rádio Vaticano)