Papa reabriu capela com últimas obras de Michelangelo

Bento XVI presidiu, na tarde de Sábado, à celebração das Vésperas por ocasião da reabertura da Capela Paulina, no Vaticano. O espaço contém as últimas obras de Michelangelo.

O Papa referiu-se explicitamente a estes dois grandes frescos, sobre a conversão de Paulo e a crucifixão de Pedro, os "últimos da longa existência" de Michelangelo Buonarroti.

Após cinco anos de restauro, a capela, situada "no coração do Palácio Apostólico", regressa ao seu esplendor. É uma obra desejada pelo Papa Paulo III, em meados do século XVI, "como lugar de oração reservado ao Papa e à Família pontifícia".

Na sua homilia, Bento XVI deteve-se na contemplação meditada das duas últimas obras de Michelangelo, fazendo notar que o que mais salta à vista é o rosto dos dois Apóstolos. "Surpreendentemente, Paulo é representado como um homem de idade", referiu, apesar de o artista saber bem que a conversão no caminho de Damasco ocorreu quando Saulo era um adulto ainda jovem.

"O rosto de Saulo/Paulo – que é afinal o do próprio artista, já velho, inquieto, que procura a luz da verdade – representa o ser humano carecido de uma luz superior. É a luz da graça divina, indispensável para adquirir uma nova vista, de modo a advertir a realidade orientada para a esperança que vos espera nos céus", disse o Papa.

"Aqui, portanto, no rosto de Paulo, podemos já encontrar o coração da mensagem espiritual desta Capela: o prodígio da graça de Cristo, que transforma e renova o homem mediante a luz da sua verdade e do seu amor. Nisto consiste a novidade da conversão, da chamada à fé, que encontra a sua realização no mistério da Cruz", acrescentou.

Passando depois ao fresco que representa o martírio de Pedro, Bento XVI sublinhou o facto de que, no momento de ser crucificado Pedro volta-se para fixar o olhar naqueles que contemplam a cena, "como se nos quisesse interrogar".

O seu rosto, acrescentou, parece exprimir "o estado de espírito do homem perante a morte e o mal: há como que um desassossego, um olhar vivo, intenso, como que a procurar algo ou alguém, na hora final".

"Quem vem meditar nesta Capela – afirmou o Papa – não pode deixar de contemplar a radicalidade da questão que a Cruz nos coloca: o drama do mistério pascal: a Cruz de Cristo, Chefe e Cabeça da Igreja, e a cruz de Pedro, seu Vigário na terra".

Bento XVI observou ainda que há como que uma troca de olhares entre os dois frescos: embora sem respeitar a cronologia dos factos, Michelangelo apresenta Pedro a contemplar, na hora da sua morte, a iluminação de Paulo no momento da conversão:

"É como se Pedro, na hora da suprema provação, procurasse aquela luz que deu a Paulo a verdadeira fé. E assim, neste sentido, os dois ícones podem-se tornar em dois actos de um único drama: o drama do Mistério pascal: Cruz e Ressurreição, morte e vida, pecado e graça", precisou.

A Capela continuará a ser reservada ao Papa e seus directos colaboradores da Cúria Romana. "Para quem vem rezar nesta Capela, e antes de mais para o Papa, Pedro e Paulo tornam-se mestres na fé. Com o seu testemunho convidam a ir em profundidade, a meditar em silêncio o mistério da Cruz, que acompanha a Igreja até ao fim dos tempos, e a acolher a luz da fé, graças à qual a Comunidade apostólica pode estender até aos confins da terra a acção missionária e evangelizadora que lhe confiou Cristo ressuscitado", indicou Bento XVI.

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Agência ECCLESIA

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