«Jesus de Nazaré» Bento XVI acabou de escrever o seu primeiro livro como Papa. O primeiro volume da obra intitula-se “Jesus de Nazaré. Do Baptismo à Transfiguração” e é uma espécie de suma teológica sobre a figura de Cristo. O anúncio da saída deste volume foi anunciado pela sala de imprensa da Santa Sé, num breve comunicado. A obra foi entregue, há poucos dias, à Libreria Editrice Vaticana. Recorde-se que no Verão de 2005, quando o Papa passava um período de repouso nos Alpes italianos, o então porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro-Valls, revelou que Bento XVI estava a reservar as manhãs das suas férias para a redacção de um livro, começado em 2002 – antes da eleição como Papa. A publicação da obra deverá ter lugar na Primavera de 2007, pela Editora Rizzoli (ligada a vários títulos relativos a João Paulo II), a quem a Libreria Editrice Vaticana cedeu os direitos de tradução, difusão e comercialização, em todo o mundo. No prefácio ao primeiro volume, o Papa diz que o livro “não é, em absoluto, uma obra magisterial, mas unicamente a expressão da minha pesquisa pessoal do rosto do Senhor”. Por isso, assegura Bento XVI, o objectivo é “tentar apresentar o Jesus dos Evangelhos como o verdadeiro Jesus, como o Jesus histórico no verdadeiro sentido da expressão”. “O ensinamento de Jesus não provém de uma aprendizagem humana, qualquer que seja. Vem do contacto imediato com o Pai, do diálogo cara a cara, do ver aquilo que está no seio do Pai. É palavra de Filho. Sem este fundamento interior, seria temerariedade”, escreve. Bento XVI cita autores da sua juventude, como Karl Adam, Romano Guardini, Franz Michel Willam, Giovanni Papini, Jean Daniel-Rops. Estes publicaram textos em que a imagem de Jesus “é delineada a partir dos Evangelhos: como Ele viveu na Terra e como, apesar de ser inteiramente homem, trouxe ao mesmo tempo Deus aos homens, com o qual, enquanto Filho, era só uma coisa”. “Assim – explica o Papa – através do homem Jesus, torna-se visível Deus e, a partir de Deus, pode ver-se a imagem do homem justo”. A obra lembra que, na investigação recente, “o fosso entre o Jesus histórico e o Cristo da Fé se torna cada vez maior”. “Os progressos da pesquisa histórico-crítica conduziram a distinções, cada vez mais subtis, entre os diversos estratos da tradição”, assinala o Papa, “e a figura de Jesus, sobre a qual se apoia fé, torna-se cada vez mais incerta, toma contornos cada vez menos definidos”. Neste contexto, Bento XVI quer apresentar uma interpretação a partir dos Evangelhos, com a consciência de que “esta figura é muito mais lógica e mais compreensível, do ponto de vista histórico, do que as reconstruções com as quais nos confrontámos ao longo das últimas décadas”.