Francisco deu entrevista a revistas jesuítas e retoma reflexão sobre o papel das mulheres ou a homossexualidade
Cidade do Vaticano, 19 set 2013 (Ecclesia) – O Papa Francisco afirmou numa entrevista divulgada hoje que as mudanças e reformas na Igreja exigem tempo e discernimento, apresentando como prioridade para os católicos a “proximidade” com os outros.
“Muitos, por exemplo, pensam que as mudanças e as reformas podem acontecer em pouco tempo. Eu creio que será sempre necessário tempo para lançar as bases de uma mudança verdadeira e eficaz, e este é o tempo do discernimento”, refere, em declarações às revistas do Jesuítas, divulgadas em Portugal pela ‘Brotéria’.
O Papa retoma o que afirmou na viagem de regresso do Brasil (28 de julho) e defende que é necessário “refletir melhor sobre a função da mulher no interior da Igreja”.
“O génio feminino é necessário nos lugares em que se tomam as decisões importantes. O desafio hoje é exatamente esse: refletir sobre o lugar específico da mulher, precisamente também onde se exerce a autoridade nos vários âmbitos da Igreja”, destaca.
Francisco regressa a outras declarações, no mesmo voo de regresso, em que afirmou que “se uma pessoa homossexual é de boa vontade e está à procura de Deus”, não era “ninguém para julgá-la”.
“Dizendo isso, eu disse aquilo que diz o Catecismo. A religião tem o direito de exprimir a própria opinião para serviço das pessoas, mas Deus, na criação, tornou-nos livres: a ingerência espiritual na vida pessoal não é possível”, sublinha.
Seis meses depois de ter iniciado o seu pontificado, o sucessor de Bento XVI revela que teve de fazer já aquilo que, nalguns casos, “pensava fazer depois” como resposta “a uma exigência que nasce das coisas, das pessoas, da leitura dos sinais dos tempos”.
A entrevista, que decorreu em três encontros no mês de agosto com o padre jesuíta Antonio Spadaro, especialista em comunicação e diretor da revista italiana ‘La Civiltà Cattolica’, aborda o rumo que Francisco quer dar à Igreja, no seu pontificado.
“Vejo com clareza que aquilo de que a Igreja mais precisa hoje é a capacidade de curar as feridas e de aquecer o coração dos fiéis, a proximidade. Vejo a Igreja como um hospital de campanha depois de uma batalha: é inútil perguntar a um ferido grave se tem o colesterol ou o açúcar altos, devem curar-se as suas feridas”, sustenta o Papa.
Francisco diz que se tem de dar prioridade a um anúncio “mais simples, profundo, irradiante” da mensagem de Jesus, advertindo que “o edifício moral da Igreja corre o risco de cair como um castelo de cartas, de perder a frescura e o perfume do Evangelho”.
“Não podemos insistir somente sobre questões ligadas ao aborto, ao casamento homossexual e uso dos métodos contracetivos. Isto não é possível. Eu não falei muito destas coisas e censuraram-me por isso, mas quando se fala disto, é necessário falar num contexto”, precisou.
O Papa argentino diz ter aprendido com a sua experiência de governo nos jesuítas e como arcebispo de Buenos Aires e manifesta a vontade de fazer “consultas reais, não formais”.
“Agora oiço algumas pessoas que me dizem: ‘Não consulte demasiado e decida’. Acredito, no entanto, que a consulta é muito importante”, observa.
Neste contexto, adianta que a primeira consulta dos oito cardeais que nomeou para o aconselharem no governo da Igreja (1 a 3 de outubro) não é uma decisão simplesmente sua, “mas é fruto da vontade dos cardeais, tal como foi expressa nas Congregações Gerais antes do Conclave”, em março.
Jorge Mario Bergoglio apresenta-se como um “pecador para o qual o Senhor voltou o seu olhar” e liga a sua vocação de jesuíta ao facto de residir atualmente na Casa de Santa Marta e não no Palácio Apostólico do Vaticano.
“Procurava sempre uma comunidade. Eu não me via padre sozinho: preciso de uma comunidade”, assinala.
A entrevista está disponível, na íntegra, no site da ‘Brotéria’ e será publicada em papel, no próximo número da revista.
OC