Papa defendeu solução de dois Estados para terminar um conflito «inaceitável» e rezou junto ao muro da Cisjordânia
Lisboa, 25 mai 2014 (Ecclesia) – O Papa Francisco disse hoje em Belém que israelitas e palestinos têm de ter a “coragem da paz” para colocar um ponto final no conflito “inaceitável” que afeta a situação de todo o Médio Oriente, defendendo a solução de dois Estados.
“Para todos, chegou o momento de terem a coragem da generosidade e da criatividade ao serviço do bem, a coragem da paz, que assenta sobre o reconhecimento, por parte de todos, do direito que têm dois Estados de existir e gozar de paz e segurança dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas”, declarou, perante o presidente da Autoridade Palestina, autoridades locais e membros do corpo diplomático.
Segundo o Papa, a “paz na segurança e a confiança mútua” nesta região seriam um “quadro estável de referência” para enfrentar outros problemas e um “modelo” para outras áreas de crise.
No percurso do palácio para a Praça da Manjedoura, onde decorre a Missa deste domingo, o Papa desceu do carro, aproximou-se do muro da Cisjordânia, numa paragem imprevista, recolhendo-se em oração, silenciosa, e apoiou a sua cabeça na na barreira de betão erguida por Israel desde 2002.
Após um encontro privado como Mahmoud Abbas no palácio presidencial, Francisco pronunciou o primeiro discurso em solo palestino, lembrando as “consequências dramáticas” da persistência do conflito entre israelitas e palestinos em todo o Médio Oriente.
Este conflito, precisou, “produziu tantas feridas difíceis de curar e, mesmo quando, felizmente, não se alastra a violência, a incerteza da situação e a falta de entendimento entre as partes produzem insegurança, negação de direitos, isolamento e saída de comunidades inteiras, divisões, carências e sofrimentos de todo o tipo”.
“Ao manifestar a minha solidariedade a quantos sofrem em maior medida as consequências deste conflito, queria do fundo do coração dizer que é hora de pôr fim a esta situação, que se torna cada vez mais inaceitável, para bem de todos”, prosseguiu.
O Papa pediu um maior empenho nos esforços e iniciativas “destinadas a criar as condições para uma paz estável, baseada na justiça, no reconhecimento dos direitos de cada um e na segurança mútua”.
A paz, sustentou, traz “inúmeros benefícios” e pode implicar a renúncia “a alguma coisa por parte de cada um” para que se chegue à mesma.
“Faço votos de que os povos palestino e israelita e as suas respetivas autoridades empreendam este êxodo feliz para a paz com aquela coragem e aquela firmeza que são necessárias em qualquer êxodo”, explicou.
A parte final do discurso deixou uma palavra de apreço pela comunidade cristã local, apelando para que os mesmos sejam reconhecidos como “cidadãos de pleno direito”.
Francisco elogiou as “boas relações existentes entre a Santa Sé e o Estado da Palestina”, com especial atenção à liberdade religiosa, que o Papa apresentou como uma das “condições irrenunciáveis da paz, da fraternidade e da harmonia”.
“Senhor presidente, queridos amigos reunidos aqui em Belém, Deus todo-poderoso vos abençoe, proteja e conceda a sabedoria e a força necessárias para levar por diante o corajoso caminho da paz, de tal modo que as espadas se transformem em arados e esta terra possa voltar a florescer na prosperidade e na concórdia. ‘Salam’”, concluiu.
Com o Papa e o presidente palestino estiveram representantes dos cristãos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, que entregaram mensagens a Francisco.
OC
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