Alguns traços da sua vida e obra no bicentenário do seu nascimento
Leão XIII, de seu nome Gioacchino Pecci nasceu em Carpineto, em Itália, a 2 de Março de 1810 e faleceu a 20 de Julho de 1903 tendo sido Papa de 20 de Fevereiro de 1878 até à data da sua morte, em 1903. Foi o sexto filho dos sete filhos do conde Lodovico Pecci e de sua esposa Anna Prosperi Buzi. Aos oito anos de idade, juntamente com seu irmão Giuseppe, de dez anos de idade, foi enviado para estudar no novo centro educativo em Viterbo, no Seminário, onde permaneceu seis anos (1818-24), e onde adquiriu a devida formação clássica no uso do latim e do Italiano. Em 1824, quando o Colégio Romano foi restituído aos jesuítas, Gioacchino e seu irmão Giuseppe, aí estudaram humanidades e retórica. Seguiram-se três anos de curso de filosofia e ciências naturais. Em todo este processo de formação, Gioacchino distinguia-se pelas suas capacidades intelectuais. Apesar de muitos jovens romanos daquela época serem destinados à carreira pública, Gioacchino dedicou-se aos estudos de teologia. Em 1832 obteve o doutoramento em teologia, após o qual pediu e obteve a admissão na Academia dos Nobres Eclesiásticos e iniciou os estudos de direito civil e canónico na Universidade de “Sapienza”. Foi ordenado sacerdote a 31 de Dezembro de 1837. Em 18 de Janeiro de 1843 foi indicado Núncio Apostólico para a Bélgica e foi ordenado bispo titular de Tamiathis em 19 de Fevereiro de 1843. Em 27 de Julho de 1846 tomou posse como Arcebispo de Perugia, em Itália, e em 19 de Dezembro de 1853 foi nomeado cardeal com o título de Cardeal-presbítero de São Crisogno. Em 20 de Fevereiro de 1878 foi eleito para sucessor do Papa Pio IX.
É frequente falar-se do Papa Leão XIII pelas suas doutrinas sociais e económicas, nas quais ele argumentava sobre as falhas do capitalismo e do comunismo. Ficou famoso como o “papa das encíclicas sociais” sendo especialmente conhecida a encíclica Rerum Novarum, de 15 de Maio de 1891, sobre os direitos e deveres do capital e do trabalho, em que introduziu a ideia da subsidiariedade no pensamento social católico. Esta encíclica marcou o início da sistematização do pensamento social católico, chamado vulgarmente de Doutrina social da Igreja Católica e foi um contributo para o despertar de uma esquerda católica que se revia no movimento do socialismo cristão. Este documento influenciou fortemente a criação do Corporativismo e da Democracia cristã.
Além desta encíclica, Leão XIII publicou muitas outras encíclicas e outros documentos abrangendo os vários domínios da acção Pastoral da igreja, seja a nível da sua dimensão profética, seja litúrgica, seja ainda a nível social.
Mais recentemente, o Papa João Paulo II recordou-nos a sua eminente figura, pelo menos, duas vezes: por ocasião da Celebração do Centenário da encíclica Aeterni Patris e por ocasião do Congresso pelo Centenário da morte do Papa Leão XIII. Na Mensagem do Papa João Paulo II ao Comité Pontifício das Ciências Históricas por ocasião do Congresso pelo Centenário da morte do Papa Leão XIII expressa-se que “o incentivo de Leão XIII alargou-se eficazmente aos diversos âmbitos da acção pastoral e do empenho cultural da Igreja. (…) Por exemplo, sobre a atenção que o Papa Pecci reservou aos problemas emergentes no campo social na segunda metade do século XIX, atenção que ele expressou de modo especial na Carta encíclica Rerum novarum. Quanto a este assunto da doutrina social da Igreja, dediquei, por minha vez, a Encíclica Centesimus annus, com amplas referências àquele Documento fundamental (cf. nn. 4 -11). Devemos recordar também o forte impulso dado por Leão XIII à renovação dos estudos filosóficos e teológicos, particularmente com a publicação da Carta Encíclica Aeterni Patris, com a qual ele contribuiu igualmente, de modo significativo, para o desenvolvimento do neotomismo. Mencionei precisamente este aspecto particular do seu Magistério, na Encíclica Fides et ratio (cf. nn. 57-58). Finalmente, não devemos esquecer a sua profunda devoção mariana e a sua sensibilidade pastoral pelas tradicionais formas de piedade popular para com a Virgem Maria, em particular pelo Rosário. Sublinhei este aspecto na recente Carta apostólica Rosarium Virginis Mariae, na qual recordava a sua Encíclica Supremi apostolatus officio e outras das suas numerosas intervenções sobre esta oração, que ele recomendava como “eficaz instrumento espiritual para os males da sociedade” (n. 2)”.
No bicentenário do nascimento de Leão XIII (1810-2010) é, pois, de toda a justiça que se recorde a vida e a obra deste Papa que inaugurou novos tempos na História da Igreja através, sobretudo, de um pensamento social lúcido e desafiante que está longe de estar esgotado motivando todos as pessoas de boa vontade em geral e os cristãos em particular à sua leitura, reflexão e actualização.
Paulo Neves, Cáritas da Guarda