Papa explica decisão sobre Bispos lefebvrianos

Bento XVI torna pública esta Quinta-feira uma carta dirigida aos Bispos católicos de todo o mundo para explicar a remissão das excomunhões de 4 Bispos da Fraternidade São Pio X, em Janeiro deste ano, que tinham sido ordenados pelo falecido Arcebispo Lefebvre sem mandato pontifício, no ano de 1988. Este não é o primeiro esclarecimento oficial sobre a decisão do Papa, particularmente contestada em virtude da inclusão, no grupo dos quatro prelados, de D. Richard Williamson. A 4 de Fevereiro passado, a Secretaria de Estado do Vaticano emitiu uma nota, esclarecendo que para ser readmitido nas funções de Bispo na Igreja Católica. D. Williamson deve “distanciar-se de forma absolutamente pública e inequívoca” das suas declarações “negacionistas ou reducionistas” sobre o Holocausto. “As posições de D. Williamson sobre a Shoah são absolutamente inaceitáveis e firmemente repudiadas pelo Santo Padre”, referiu o Vaticano. O comunicado esclarecia que Bento XVI não conhecia essas declarações – produzidas numa entrevista à televisão sueca – “no momento do levantamento da excomunhão” a este e outros três Bispos lefebvrianos, que aconteceu no dia 24 de Janeiro (ver Decreto da Congregação para os Bispos). Acrescenta-se, aliás, que “a situação jurídica da Fraternidade Pio X não mudou, não gozando de momento de nenhum reconhecimento canónico na Igreja Católica” e que os quatro Bispos em causa “não têm funções canónicas na Igreja e não exercem licitamente qualquer ministério na mesma”, esperando o Vaticano uma “total adesão” da sua parte “à doutrina e disciplina” eclesiais. Nesse contexto, pode ler-se que um futuro reconhecimento da Fraternidade fundada por Mons. Lefebvre implica “o pleno reconhecimento do Concílio Vaticano II”, no qual se repudia claramente o anti-semitismo. Anteriormente, o Pe. Federico Lombardi, divulgara um comunicado para especificar “os novos pedidos de esclarecimentos sobre a posição do papa e da Igreja sobre o tema da Shoah”. “O pensamento do Papa sobre o tema do Holocausto foi manifestado com muita clareza na Sinagoga de Colónia, a 19 de Agosto de 2005; no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, a 28 de Maio de 2006; na audiência pública de 31 de Maio no Vaticano e na audiência de 28 de Janeiro, com palavras inequívocas”, disse. Nesta última data, Bento XVI reafirmou a sua clara condenação do Holocausto, considerando que este acontecimento trágico deve ser para todos “um alerta contra o esquecimento, a negação ou o reducionismo”. O Papa quis “renovar com afecto a expressão da minha plena e indiscutível solidariedade com os nossos irmãos destinatários da primeira Aliança”, o povo judaico. “Nestes dias, em que recordamos a Shoah, vêm à minha memória as imagens das minhas repetidas visitas a Auschwitz, um dos lugares em que se consumou o massacre cruel de milhões de judeus, vítimas inocentes de um ódio cego, racial e religioso”, disse na audiência geral. “Desejo que a memória da Shoah leve a humanidade a reflectir sobre o imprevisível poder do mal, quando conquista o coração do homem”, alertou. “A violência feita contra um só homem é violência feita contra todos”, afirmou ainda Bento XVI, precisando que “a Shoah mostra em especial, às velhas e novas gerações, que só o caminho do diálogo e da escuta, do amor e do perdão, conduz povos, culturas e religiões do mundo à desejada fraternidade e paz na verdade”. Nessa ocasião, como destaca agora o Pe. Lombardi, o Papa explicou “claramente” o objectivo da revogação das excomunhões. “Isso não tem nada a ver com uma legitimação das posições negacionistas do Holocausto, claramente condenadas pelo pontífice”, reiterou. Decreto da Congregação para os Bispos «Removida a excomunhão a quatro bispos da Fraternidade São Pio X» Na sua carta de 15 de Dezembro de 2008, dirigida a Sua Eminência o Senhor Cardeal Dario Castrillón Hoyos, Presidente da Pontifícia Comissão «Ecclesia Dei», D. Bernard Fellay solicitava de novo, em nome próprio e dos outros três Bispos consagrados no dia 30 de Junho de 1988, a remoção da excomunhão latae sententiae declarada formalmente através de um Decreto do Prefeito desta Congregação para os Bispos com data de 1 de Julho de 1988. Na mencionada carta, entre outras coisas, afirma D. Fellay: «Continuamos firmemente determinados na nossa vontade de permanecer católicos e de colocar todas as nossas forças ao serviço da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é a Igreja Católica romana. Com espírito filial, aceitamos os seus ensinamentos. Acreditamos firmemente no Primado de Pedro e nas suas prerrogativas, e por isso nos causa tanto sofrimento a situação actual». Sua Santidade Bento XVI – paternamente sensível ao mal-estar espiritual revelado pelos interessados por causa da sanção de excomunhão e confiado no empenho expresso na referida carta de que não poupariam qualquer esforço para aprofundar, nos colóquios que fossem necessários com as Autoridades da Santa Sé, as questões ainda abertas, a fim de se poder chegar depressa a uma solução plena e satisfatória do problema que está na sua origem – decidiu reconsiderar a situação canónica dos Bispos Bernard Fellay, Bernard Tissier de Mallerais, Richard Williamson e Alfonso de Galarreta, que se criou com a sua consagração episcopal. Com este acto, deseja-se consolidar as recíprocas relações de confiança e intensificar e dar estabilidade à ligação da Fraternidade São Pio X com esta Sé Apostólica. Este dom de paz, no termo das celebrações natalícias, pretende também ser um sinal para se promover a unidade na caridade da Igreja universal e chegar à eliminação do escândalo da divisão. Espera-se que este passo seja seguido pela solícita realização da plena comunhão com a Igreja de toda a Fraternidade São Pio X, dando assim testemunho de verdadeira fidelidade e de verdadeiro reconhecimento do Magistério e da autoridade do Papa com a prova da unidade visível. Com base nas faculdades que me foram expressamente concedidas pelo Santo Padre Bento XVI, em virtude do presente Decreto removo aos Bispos Bernard Fellay, Bernard Tissier de Mallerais, Richard Williamson e Alfonso de Galarreta a censura de excomunhão latae sententiae declarada por esta Congregação no dia 1 de Julho de 1988, enquanto declaro desprovido de efeitos jurídicos, a partir da data de hoje, o Decreto então emanado. Roma – Congregação para os Bispos, 21 de Janeiro de 2009 Card. Giovanni Battista Re, Prefeito da Congregação para os Bispos

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