14 estações da Via-Sacra no Coliseu deixaram críticas às chagas da sociedade atual
Cidade do Vaticano, 18 abr 2014 (Ecclesia) – O Papa evocou hoje os sofrimentos provocados pela doença e o abandono, ao concluir a Via-Sacra desta Sexta-feira Santa, no Coliseu de Roma, e condenou as injustiças cometidas por “cada Caim contra o seu irmão”.
“Todos juntos, recordemos os doentes, lembremos todas as pessoas abandonadas sob o peso da cruz, a fim de que encontrem na provação da cruz a força da esperança, da esperança da ressurreição e do amor de Deus”, disse.
Após as 14 estações, que evocam o julgamento e execução de Jesus, Francisco disse que Deus colocou na cruz de Cristo o peso dos pecados da humanidade, “a amargura” da traição, a “vaidade” dos prepotentes, a “arrogância dos falsos amigos”.
“Era uma cruz pesada, como a noite das pessoas abandonadas, como a morte dos entes queridos”, referiu, num texto lido antes da bênção final, mas era também “uma cruz gloriosa”, porque simboliza o amor de Deus.
“Na cruz vemos a monstruosidade do homem, quando se deixa guiar pelo mal, mas também vemos a imensidão da misericórdia de Deus, que não nos trata segundo os nossos pecados”, precisou, antes de citar uma oração de São Gregório de Nazianzo (século IV).
O mal, declarou, “não terá a última palavra”, mas sim “o amor, a misericórdia, o perdão”.
A critica às chagas da sociedade atual tinha dado o mote às reflexões preparadas por D. Giancarlo Bregantini para esta celebração.
O arcebispo de Campobasso-Boiano (Itália) referiu que no madeiro levado por Jesus até ao calvário estão “o peso de todas as injustiças que produziram a crise económica, com as suas graves consequências sociais: precariedade, desemprego, demissões, dinheiro que governa em vez de servir, especulação financeira, suicídios de empresários, corrupção e usura, juntamente com empresas que deixam os países”.
Nas reflexões feitas pelo arcebispo italiano, o sofrimento das mulheres também esteve em destaque.
Neste contexto, D. Giancarlo Bregantini pediu que se chore “pelas mulheres escravizadas pelo medo e a exploração”, mas recordou que “não basta bater no peito e sentir comiseração”.
As mulheres devem “ser tranquilizadas como Ele fez, devem ser amadas como um dom inviolável para toda a humanidade”, acentuou o prelado.
O texto da Via-Sacra teve como tema «Rosto de Cristo, Rosto do Homem» e numa das estações D. Giancarlo Bregantini criticou também as condenações e “acusações fáceis, os juízos superficiais entre o povo, as insinuações e os preconceitos que fecham o coração e se tornam cultura racista, de exclusão e de descarte, juntamente com as cartas anónimas e as calúnias horríveis”.
Um operário e um empresário juntos, dois sem-abrigo, crianças, idosos, doentes e presos transportaram a cruz esta noite, no Coliseu de Roma.
Segundo D. Giancarlo Bregantini, Jesus ensina a viver, “não mais na injustiça, mas capazes, com a sua ajuda, de criar pontes de solidariedade e esperança” nesta crise.
“Lutemos juntos pelo trabalho na reciprocidade, vencendo o medo e o isolamento, recuperando a estima pela política e procurando juntos a saída para os problemas”, sublinhou.
A Via-Sacra é uma oração que tem como objetivo meditar a paixão, morte e ressurreição de Cristo e rezar a Via-Sacra significa percorrer com Jesus o caminho que leva ao Calvário.
O Papa Francisco permaneceu em oração até ao fim da Via-Sacra, que acompanhou do terraço do Palatino.
D. Giancarlo Bregantini pertence à Congregação dos Sagrados Estigmas de Nosso Senhor Jesus Cristo e é arcebispo de Campobasso-Boiano, no centro da Itália.
É conhecido pelas suas posições contra a Mafia, que o levaram a publicar um livro dedicado ao tema, em 2011.
LFS/OC
Notícia atualizada às 23h59
[[v,d,,]]