Papa espera Cardeais prontos a servir

Segundo consistório do pontificado marcado por forte mensagem de amor pela Igreja e contra o carreirismo Bento XVI presidiu, esta manhã, ao segundo consistório do seu pontificado, deixando aos 23 novos Cardeais uma forte mensagem contra o “arrivismo” ou o carreirismo dentro da Igreja, à qual se devem dedicar num “serviço de amor”. Na sua homilia, o Papa lembrou que a sua missão é a de serem “servos”, dedicando-se à Igreja até ao derramamento de sangue, como simboliza a púrpura do cardinalato. Numa Basílica de São Pedro completamente lotada por 7 mil fiéis, a que se somaram 20 mil fiéis no exterior da igreja que acompanharam a celebração através de quatro ecrãs gigantes, Bento XVI quis vincar que a vida dos cristãos não deve ser orientada por privilégios ou desejo de poder. “Todo o verdadeiro discípulo de Jesus pode aspirar apenas a uma coisa: partilhar a sua paixão, sem reivindicar qualquer recompensa”, observou. Os cristãos são chamados a “assumir a sua condição de servo, seguindo os passos de Jesus, gastando a sua vida pelos outros de forma gratuita e desinteressada”. “O humilde dom de si mesmo pelo bem da Igreja deve caracterizar cada gesto e cada palavra nossa, não a busca do poder e do sucesso”, prosseguiu o Papa. Para Bento XVI, “a verdadeira grandeza cristã não consiste em dominar, mas em servir” e é “o ideal que deve orientar” o serviço dos Cardeais. “Passando a fazer parte do colégio cardinalício, o Senhor pede-vos um serviço de amor: amor por Deus, pela sua Igreja, pelos irmãos, com uma dedicação máxima e incondicional, usque ad sanguinis effusionem (até ao derramamento de sangue), como reza a fórmula de imposição do barrete e como mostra a cor vermelha das vestes”, destacou. Citando uma passagem do Evangelho, em que os discípulos discutiam qual deles seria o mais importante, o Papa referiu que “o arrivismo levou a melhor, por um momento, sobre o medo que os tinha assaltado, a ambição leva os filhos de Zebedeu (os Apóstolos João e Tiago, ndr) a reivindicar para si mesmos os melhores lugares no mundo messiânico dos fins dos tempos”. “Na corrida aos privilégios, os dois sabem bem aquilo que querem, bem como os outros dez, apesar da sua virtuosa indignação. Na verdade, porém, eles não sabiam o que estavam a pedir”, explicou. Bento XVI mostrou-se ainda consciente dos riscos que a nova missão implica para os Cardeais, pedindo “doçura e repeito” mesmo nas maiores dificuldades. “Sei bem quanta fadiga e sacrifício comporta o cuidado das almas, mas conheço a generosidade que sustenta a vossa actividade apostólica quotidiana”, constatou. “Nas circunstâncias que estamos a viver, é-me grato confirmar o meu sincero apreço pelo serviço fielmente prestado por vós em tantos anos de trabalho nos vários âmbitos do ministério eclesial”, declarou aos 23 Cardeais hoje criados, a quem pediu uma “estreitíssima comunhão com o Bispo de Roma”. Antes do Papa, o Cardeal Leonardo Sandri, primeiro do elenco dos novos Cardeais, pronunciou um discurso de homenagem a Bento XVI, em nome de todos, prometendo ao Papa um apoio incondicional dos purpurados na defesa da vida humana, desde a sua concepção até á morte natural. “Como Vossa Santidade – disse – queremos servir a causa do homem, estamos prontos a segui-lo quando reafirma que a pessoa sem Deus perde-se a si mesma; quando, tornando-se defensor do homem, ensina que o matrimónio e a família são a célula original da sociedade, que a vida deve ser defendida desde o primeiro instante, que os direitos fundamentais de cada um, e em particular a liberdade religiosa, devem ser respeitados e reivindicados ; quando defende a dignidade da pessoa humana perante todas as opressões”. Universalidade Na sua homilia, o Papa classificou esta celebração como “uma providencial ocasião para oferecer urbi et orbi, à cidade de Roma e ao mundo inteiro, o testemunho da singular unidade que liga profundamente os Cardeais ao Papa, Bispo de Roma”. “No Colégio dos Cardeais revive assim o antigo presbyterium do Bispo de Roma, cujos componentes, ao mesmo tempo que desempenhavam funções pastorais e litúrgicas nas várias igrejas, não lhe faziam faltar a sua preciosa colaboração no que dizia respeito ao cumprimento das tarefas ligadas ao seu ministério apostólico universal”, recordou. Bento XVI sublinhou que “os tempos mudaram e a grande família dos discípulos de Cristo encontra-se hoje disseminada em todos os Continentes, até aos mais remotos confins da terra, fala praticamente todas as línguas do mundo e a ela pertencem povos de todas as culturas”. Nesse sentido, “a diversidade dos membros do Colégio cardinalício, tanto pela proveniência geográfica como cultural, põe em relevo este crescimento providencial e evidencia ao mesmo tempo as novas exigências pastorais a que o Papa deve dar resposta”. Observando que cada um dos novos Cardeais “representa uma porção do variado Corpo místico de Cristo que é a Igreja espalhada por toda a parte”, Bento XVI assegurou pensar com afecto nas “comunidades confiadas aos cuidados pastorais” de cada um deles, “especialmente as que mais provadas são pelo sofrimento, por desafios e dificuldades de diversas espécies”. No final da cerimónia, o Papa fez questão de sair da Basílica do Vaticano para ir cumprimentar os que se encontravam na Praça de São Pedro, enfrentando o frio e o vento, aos quais agradeceu “a vossa presença orante e a vossa participação neste momento tão importante”. Numa breve intervenção, Bento XVI frisou que os novos Cardeais a universalidade da Igreja, que fala em todas as línguas e “abraça todos os povos, todas as culturas”. “Bom Domingo, bom regresso, obrigado pela vossa presença”, concluiu. Amanhã, Solenidade de Cristo Rei, os Cardeais celebram com Bento XVI na Basílica de São Pedro, onde terá lugar a entrega do anel cardinalício, antecedida pela fórmula “recebe o anel da mão de Pedro, sinal de dignidade, de solicitude pastoral e de mais sólida comunhão com a Sede de Pedro”. Foto: Lusa

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Agência ECCLESIA

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