As férias do Papa, iniciadas a 11 de Julho, chegaram hoje ao fim. Pelas 17h30 (hora local, menos uma em Lisboa), Bento XVI partiu da localidade de Les Combes di Introd, no Vale de Aosta (Alpes italianos) rumo ao aerroporto de Ciampino, em Roma, de onde seguiu para a residência pontifícia de Verão em Castel Gandolfo. Esta estadia foi marcada pelas intervenções do Papa em favor da paz no Médio Oriente, que incluíram a convocação de uma jornada de oração e penitência em toda a Igreja Católica. Tendo começado o seu período de descanso com uma mudança nos serviços de informação do Vaticano – o Pe. Federico Lombardi é o novo director da sala de imprensa da Santa Sé – Bento XVI teve oportunidade de comprovar a eficácia do seu homem para a informação. A tranquilidade dos Alpes apenas foi interrompida por visitas a casas religiosas e algumas perguntas de jornalistas que acompanharam o Papa. A eventual redacção de um livro e de uma nova encíclica foram os temas mais badalados, mas Bento XVI optou por não valorizar essas hipóteses, deixando no ar a ideia de que estaria, de facto, a escrever, mas sem adiantar muito mais. Os passeios pela montanha, a leitura e o piano foram as ocupações do Papa em férias, que agora se prepara enfrentar, em Castel Gandolfo, muitas questões da actualidade eclesial e mundial. É que apesar de ter estado de férias, o seu nome não deixou ser uma referência constante. Ao longo do mês de Agosto, Bento XVI ficará na residência pontifícia de Verão, a cerca de 25 quilómetros de Roma. Este palácio apostólico era carinhosamente designado como “Vaticano 2” por João Paulo II e é, curiosamente, maior do que o próprio Estado da Cidade do Vaticano. Castel Gandolfo, nas margens do lago Albano, é a escolha dos Papas para o período estival desde Urbano VIII (1623-1644), num castelo pertença da Santa Sé com direito de extraterritorialidade. Castel Gandolfo Os locais chamam à região onde está inserida a residência pontifícia os “castelos romanos”, por causa das construções que as famílias da nobreza ali levantaram. Cada castelo tem o nome do senhor da fortaleza – no caso da residência pontifícia era a família Gandulfi, natural de Génova. Cerca de 1200, os Gandulfi construíram o seu pequeno castelo que, no século seguinte passou para a família Savelli, a qual manteve esta edificação até 1596. Nesse ano, por causa de uma dívida que a família não conseguiu pagar ao Papa Clemente VIII (1592-1605), a propriedade passou para o Papa e, em 1640, declarada propriedade inalienável da Santa Sé. Urbano VIII (1623-1644), como se disse, decidiu transformar o Castelo na sua residência de Verão, adaptando e ampliando a velha fortaleza. João Paulo II foi o primeiro Papa que passou vários períodos do ano em Castel Gandolfo e não apenas no final da Primavera e Verão. Costumava passar ali alguns dias a sós, principalmente após longas viagens apostólicas ou série prolongadas de audiências ou cerimónias litúrgicas. As pessoas que ali trabalham durante todo o ano são cerca de 60, entre jardineiros, tratadores de árvores, agricultores, electricistas e pessoal da manutenção. Apenas 20 pessoas, contudo, residem na propriedade. Um heliporto foi inaugurado em 1963, durante uma visita de Paulo VI. Localidade com história Já antes do Papa, a antiga cidade de Albalonga era muito procurada e admirada – havendo uma tradição que diz ter sido fundada por descendentes de Eneias. A actual Castel Gandolfo chegou a ter controlo sobre 29 colónias, antes do advento da grande supremacia de Roma. Nessa altura, devido a uma acusação de traição na guerra contra os Etruscos, foi decidida a sua destruição. O Imperador Domiciano decidiu construir uma nova e grandiosa vila, na margem ocidental do lago. Num documento de 1030 fala-se de possessões, nesta localidade, dos monges de São Ciríaco de Roma. Uma bula de Bento IX, em 1037, concedia à Abadia de Grottaferrata uma terra colocada “intra civitatem Albanensem in loco qui vocatur supra Cucurutti”. Neste documento era indicada uma igreja de São Miguel, o que permite identificar, sem margem para dúvidas, a localidade a que se referia Bento IX com a actual Castel Gandolfo. Não se sabe nem quando, nem em que circunstâncias é que os Gandolfi tomaram posse destes territórios, mas o seu castelo existia já no século XII. Após a sua passagem para as mãos dos Papas, o Castelo sofreu uma intervenção de fundo a cargo de Maffeo Barberini, que seria o Papa Urbano VIII, o qual confiou ao arquitecto Carlo Maderno um projecto de transformação do espaço. Alexandre VII continuou a actividade de ampliação do Palácio pontifício e das muralhas exteriores. Neste período, Bernini projectou a igreja de São Tomás de Villanova e a praça em frente ao palácio. Devido à sua importância como residência de Verão dos Papas, Castel Gandolfo está cheia de armas pontifícias ou inscrições, que assinalam os melhoramentos que cada Papa promoveu. Clemente XI e Clemente XIV, por exemplo, deixaram referência ao seu trabalho para facilitar os acessos à localidade e mostram a mudança de estilo que teve lugar no século XVIII. Por esta altura, o núcleo habitacional aumentou consideravelmente, mas a partir das invasões francesas assistiu-se a uma lenta degradação, sobretudo nas propriedades da Santa Sé. Em 1870, com o fim do Estado Pontifício, a residência foi abandonada e esquecida, mas a assinatura dos Pactos Lateranenses (1929) Castel Gandolfo voltou a ser residência estival dos Papas. No anexo referente aos imóveis, declara, como sendo do Estado da Cidade do Vaticano, não somente o território de 44 hectares onde estão a Basílica e a Praça de São Pedro, palácios, museus e jardins – mas, ainda, outras 12 construções em Roma e Castel Gandolfo.