Papa despede-se da República Checa

13ª viagem de Bento XVI ultrapassou fronteiras e falou à Europa ainda em reconstrução, após a experiência do comunismo

Bento XVI concluiu na tarde desta Segunda-feira uma visita de três dias à República Checa, que o próprio classificou como “comovente”.

Na cerimónia de despedida, em Praga, o Papa recordou os momentos passados com a comunidade católica, voltando a referir-se às raízes cristãs dos territórios eslavos, comprovadas por vários santos e mártires.

Passando em revista o programa iniciado no Sábado, Bento XVI destacou os encontros com representantes de confissões cristãs, do mundo académico e com os jovens do país.

O breve discurso papal conclui-se com uma citação atribuída a Kafka – “Quem tem a capacidade de ver a beleza, não envelhece” – para apelar à capacidade de “construir um mundo que reflicta algo da beleza divina”.

[[v,d,598,Papa despede-se da República Checa]]À partida, o presidente da República Checa, Václav Klaus, agradeceu em italiano ao Papa por uma visita “memorável” e pela “coragem” de apresentar posições nem sempre “politicamente correctas”.

20 anos depois da queda do regime comunista na República Checa, o Papa foi ao coração da Europa falar a todos os povos que passaram pela experiência dos regimes totalitárias e continuam à procura do melhor rumo para a integração numa Europa que Bento XVI quis apresentar como uma “casa”, ainda em reconstrução.

Logo na sua primeira intervenção, muito retomada pela imprensa internacional, o Papa  acenou ao 20.º aniversário da “Revolução de veludo”, que marcou o fim do regime comunista, em que “a circulação de ideias e movimentos culturais era rigidamente controlada”. “Uno-me a vós e aos vossos vizinhos para dar graças pela vossa libertação daquele regime opressivo”, disse.

Duas décadas passadas sobre a “Revolução de Veludo”, que devolveu a democracia ao território checo, “continua o processo de cura e reconstrução, internamente e no contexto mais amplo da unificação europeia e de um mundo cada vez mais globalizado”.

Domingo, em Brno, o Papa afirmou que a História mostra o “absurdo a que o homem pode chegar sempre que exclui Deus das suas opções”, numa alusão aos regimes totalitários da Europa Central e de Leste.

 

Encorajar a Igreja

Com dificuldades em lidar com o período do pós-comunismo, a minoria católica foi desafiada a ser “criativa” por Bento XVI, o qual quis vincar “o papel insubstituível do Cristianismo para a formação da consciência de cada geração e para a promoção de um consenso ético de fundo, ao serviço de cada pessoa que chama «casa» a este continente”.

Papel chave nas diversas intervenções papais foi reservado para a relevância do Cristianismo nesta “pátria espiritual” europeia, com críticas às “novas formas que tentam marginalizar a influência cristã na vida pública”, “muitas vezes sob o pretexto de que os seus ensinamentos prejudicam o bem-estar da sociedade”.

“Quando a Europa se coloca à escuta da história do cristianismo – disse – escuta a sua própria historia. As suas noções de justiça, liberdade e responsabilidade social, juntamente com as instituições culturais e jurídicas estabelecidas para defender estas ideias e as transmitir às gerações futuras são plasmadas pela sua herança cristã”.

Mais tarde, num encontro com representantes do mundo académico, em Praga, Bento XVI advertiu que marginalizar a religião significa impedir o diálogo entre as culturas, “de que nosso mundo tem necessidade urgente”.

Ali, declarou que o regime comunista deixou feridas, com “a ideologia redutora do materialismo, a repressão da religião e a opressão do espírito humano”. “Em 1989, todavia, o mundo foi testemunha – de maneira dramática – do desmoronamento de uma ideologia totalitária falhada e do triunfo do espírito humano”.

Já nesta Segunda-feira, Bento XVI deixou um apelo à Igreja checa, para que os seus crentes sejam “credíveis”. Numa homenagem a São Venceslau, na cidade de Starà Boleslav, o Papa pediu fiéis “prontos a difundir em todos os âmbitos da sociedade os princípios e ideais cristãos em que se inspira a sua acção”.

Como em todas as viagens, um momento particular foi dedicado aos jovens. Alertando contra as “visões ilusórias de felicidade espúria”, que leva à tristeza e solidão, Bento XVI convidou os presentes a transformar a “doutrina em acção”.

O Papa convidou os jovens checos a serem “mensageiros da esperança” para a Igreja e para o mundo, convidando os presentes para a Jornada Mundial da Juventude que irá decorrer em Madrid, em Agosto de 2011.

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