Bento XVI manifestou hoje a sua vontade de aproximação ao mundo ortodoxo, lembrando que Roma e Constantinopla são “Igrejas verdadeiramente irmãs”. Na audiência geral desta semana, hoje dedicada à figura de Santo André – irmão de São Pedro e evangelizador do mundo grego – o Papa disse aos cerca de 35 mil peregrinos presentes que “também na relação fraterna entre Pedro e André, a Igreja de Roma e a Igreja de Constantinopla se sentem, de modo especial, irmãs”. Em 1964, o Papa Paulo VI devolveu as relíquias de Santo André, guardadas na Basílica de São Pedro, ao bispo metropolita ortodoxo de Patrasso, na Grécia, onde se acredita que o Apóstolo foi crucificado – um gesto de grande impacto ecuménico. Depois de na semana passada ter abordado a delicada questão do primado de Pedro, que definiu como “elemento constitutivo da Igreja”, mas que ligou à busca da unidade dos Cristãos, Bento XVI abordou hoje a figura do Apóstolo André, “um dos primeiros eleitos” por Jesus para seu discípulo. O Papa destacou ainda, na figura de Santo André, a sua fidelidade perante a cruz, convidando os fiéis a “considerar e acolher” os males que os atingem como “as nossas cruzes” e como parte da “cruz de Cristo”. Na saudação aos peregrinos, em português, Bento XVI lembrou que a Igreja bizantina honra Santo André “com o nome de Protóklitos, ou seja o que foi ‘chamado primeiro’, por ter sido o primeiro entre os apóstolos a seguir o Senhor”. “Depois dele viriam todos os demais, antes de mais Pedro, a quem o Messias confiaria a sua Igreja. André foi o apóstolo do mundo grego; por isso, ele exprime uma simbólica aliança entre a Igreja de Roma e a de Constantinopla”, referiu na nossa língua. “Ao recorrer à intercessão deste grande apóstolo, peço a todos os peregrinos presentes de língua portuguesa, especialmente os grupos vindos de Portugal e do Brasil, que rezem pela unidade da Igreja e pela comunhão de todos os cristãos”, concluiu. Questão central A questão do primado do Papa é um dos principais temas do diálogo entre as várias Igrejas Cristãs. Nenhuma contesta o primado de honra que o Bispo de Roma tem na Igreja universal, mas isto não resolve, até ao momento, a questão relativa à jurisdição desse primado – até porque as Igrejas de fundação apostólica se consideram, em muitos casos, com a mesma dignidade de Roma. Para os católicos, o primado do Papa não é apenas de honra, mas de pleno poder de governo. Pouco depois do início do seu pontificado, Bento XVI fez questão de afirmar que a sua missão enquanto Papa, não é um obstáculo à plena e visível unidade entre os Cristãos. “Que o ministério petrino do Bispo de Roma não seja visto como obstáculo, mas sim como apoio para o caminho rumo à unidade, e nos ajude a realizar quantos antes o desejo de Cristo: Ut unum sint (que todos sejam um)”, disse. João Paulo II, na encíclica “Ut Unum sint”, de 1995, referiu que a questão do primado do Bispo de Roma implicava “um novo estudo sobre a questão de um ministério universal da unidade cristã”.