Bento XVI saudou hoje a delegação de alunos e formadores do Seminário Maior do Patriarcado de Lisboa, que celebram os 75 anos da sua abertura. Após endereçar uma “bênção particular” aos presentes, o Papa disse que “este tempo do Seminário gera uma maturação particularmente significativa na vossa consciência: deixais de olhar para a Igreja «de fora», para vos sentirdes dentro dela como se fosse vossa casa. Ganhais assim aquele «sentire cum Ecclesia» que fará de vós humildes e fiéis servidores da Verdade, pastores segundo o Coração de Deus”. “Pedro disse um dia: «Vou pescar!» e aqueles que estavam com ele responderam: «Nós também vamos contigo!». Queridos amigos, subi para a barca, saiamos para a pesca! Às ordens de Cristo-Rei…”, indicou ainda. Seminário dos Olivais: 75 anos de história Em Dezembro de 1929, alguns dias após ter sido nomeado Patriarca de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira dirigiu-se a Roma, sendo na ocasião criado Cardeal pelo Papa Pio XI. De acordo com o próprio Cardeal Patriarca, foi num dos seus encontros com o Santo Padre que este o questionou acerca do seu programa de acção na diocese. O Cardeal Cerejeira começou por responder que o primeiro ponto consistia na fundação de um seminário. Foi de imediato interrompido pelo Papa, que lhe disse: «Não hesite um momento. Esse é o caminho». E, questionado de novo por Pio XI acerca dos recursos com que o Patriarca contava para a realização da obra, este respondeu: «Com a Providência». «Pois conte com ela. Ela não lhe há-de faltar» – disse Papa. A Igreja tinha acabado de sair das perseguições da I República. O clero encontrava-se desanimado e desmobilizado. E, como ele, também a grande maioria dos cristãos. Diante do recém-eleito Patriarca de Lisboa havia uma tarefa imensa: a de reconstruir o tecido cristão da sociedade. Para o fazer, necessitava não apenas de mais clero como, sobretudo, de clero «com um estilo novo». Em que consistia esse estilo? Creio que o podemos resumir em duas grandes ideias que desde o seu início têm norteado o Seminário dos Olivais: em primeiro lugar, seriedade na formação espiritual e teológica; depois, a atenção ao mundo, às suas formas de vida e às questões que coloca, com o objectivo de lhe mostrar que o Evangelho de Cristo é o único lugar que verdadeiramente transforma, renova e dá sentido à vida humana. Esta atenção ao tempo novo ficou bem patente no próprio edifício, inaugurado daí a um ano: com linhas modernas, dialogava na perfeição com as últimas novidades arquitectónicas, e, sobretudo, com aquelas que depois haveriam de marcar a Lisboa das avenidas novas e da cidade universitária. Novidade, trouxeram-na também os Padres dos Sagrados Corações que, vindos de vários países europeus por insistência do Patriarca, não só introduziram um corte com a tradicional formação sacerdotal feita no velho Seminário de Santarém, como ainda trouxeram o fervilhar de debates que marcavam a Europa dos anos 30. Mas, principalmente, a seriedade na formação espiritual e teológica; e esta estava toda ela centrada na Liturgia, celebrada, conhecida, vivida. Os sacerdotes aqui formados eram chamados pelos colegas mais velhos como os «padres do cimento armado», para referir a solidez da sua formação mas também a novidade da mesma. É do conhecimento público que, ao longo destes 75 anos, nem sempre o Seminário dos Olivais viveu num «mar de rosas»: basta recordar a dolorosa crise de finais dos anos 60 e princípios dos anos 70, quando, a dado momento, apenas 4 seminaristas transitaram de ano. Uma vez mais, no entanto, a seriedade na formação espiritual e teológica (esta última adquirida agora no seio da Faculdade de Teologia da Universidade Católica), e a constante atenção aos sinais dos tempos foram a chave para o renascer do Seminário. Os números dos inícios dos anos 60 (o Seminário chegou a ter 182 seminaristas) não foram, é certo, repetidos. Mas hoje creio poder afirmar sem erro, que o Seminário dos Olivais constitui um sinal de esperança para a diocese de Lisboa e para aquelas outras que aqui enviam os seus seminaristas. Olhando agora para trás, podemos dizer que todas estas realidades encarnaram de um modo providencial em dois dos seus reitores. Em primeiro lugar, encarnaram na figura de Mons. Pereira dos Reis, que havia de deixar a sua marca indelével na instituição e, sobretudo, no coração de todos quantos com ele aprendiam a ser padres. Depois encarnaram também (e de forma não menos marcante) na figura de D. José Policarpo, actual Patriarca de Lisboa e reitor do Seminário ao longo de praticamente 3 décadas (de 1970 a 1997). Olhando para estes 75 anos da existência do Seminário dos Olivais (os primeiros alunos entraram aqui em 24 de Outubro de 1931), não podemos deixar de reconhecer que as palavras de Pio XI se foram quotidianamente transformando numa realidade: a Providência não esteve apenas presente na fundação e construção do Seminário; foi ela também que o conduziu por entre todos os percalços de uma história que, sendo humana é sobretudo história de Deus com todos aqueles que por aqui algum dia passaram. Cón. Nuno Brás da Silva Martins – Reitor do Seminário dos Olivais