Bento XVI espera que não sejam marginalizados, mas respeitados e ajudados com amor a viver dignamente Intenção Geral do Papa para o mês de Fevereiro 1. Marginalização e afastamento Mais ainda do que a física, a deficiência psíquica é frequente motivo para comportamentos discriminatórios, pessoais e colectivos. Assim aconteceu no passado: o desconhecimento das causas das deficiências, a incompreensão dos comportamentos «estranhos» muitas vezes a elas associados, a impossibilidade de tratar adequadamente as pessoas afectadas por tais problemas… levaram as sociedades e os indivíduos a cair, facilmente, na discriminação e, mesmo, em comportamentos brutais e desumanos, face às pessoas com problemas psíquicos ou com deficiências graves. Na antiguidade, algumas culturas chegaram mesmo a promover a eliminação física dos recém-nascidos que apresentassem deficiências!… E, infelizmente, muitos destes comportamentos não desapareceram, mesmo nas sociedades mais desenvolvidas, porque as pessoas com deficiência psíquica são, quase sempre, olhadas como um peso familiar e social. Além disso, a medicina, mesmo a mais avançada, permanece incapaz de tratar muitas destas deficiências, sobretudo as mais profundas – consegue, quando muito, aliviar alguns sintomas. Nestes casos mais graves, é habitual as pessoas preferirem «ignorar» o que se passa, deixando o cuidado das pessoas com deficiência às instituições e voluntários para isso vocacionados, e o seu tratamento aos profissionais da área. 2. Na linha da frente Há, também, o outro lado: famílias que, apesar das imensas dificuldades e da falta de apoios sociais, cuidam com carinho dos seus, mesmo quando sofrem graves deficiências psíquicas; instituições totalmente devotadas a acolher e tratar estas pessoas, por vezes ao longo de toda a sua vida; profissionais e voluntários incansáveis em proporcionar condições de vida humanamente dignas às pessoas com deficiência e o carinho que a família, por vezes, não pode ou não quer dar-lhes. A Igreja, através de instituições da mais diversa índole, encontra-se na linha da frente deste serviço aos deficientes psíquicos. E fá-lo exactamente como serviço, porque é essa a sua condição, desde as origens: «O Filho do homem não veio para ser servido mas para servir e dar a vida…» (Marcos 10, 45). São muitos os cristãos que trabalham nestas instituições, uns por vocação religiosa, outros como profissionais, outros ainda em situação de voluntariado. Todos estão chamados a dar corpo à mesma atitude fundamental: servir os irmãos mais necessitados, neste caso, as pessoas com deficiências psíquicas, sendo para elas sinal do amor de Deus por todos os seus filhos e filhas. Felizmente, a Igreja não está só. Outras instituições, do Estado ou da sociedade civil, porventura em maior número do que as da Igreja, estão empenhadas na mesma causa. Profissionais e voluntários dedicados, cristãos ou não, aí trabalham e dão o melhor de si mesmos, no tratamento médico e na integração social destas pessoas. Empresas diversas integram-nas como trabalhadores produtivos e empenhados. Há ainda, sem dúvida, um caminho longo a percorrer, sobretudo relativamente às pessoas com deficiências mais graves – mas convém não menosprezar o que se vai fazendo. 3. A discriminação absoluta Este progresso, porém, nunca será pleno enquanto as sociedades continuarem a olhar como normal – e mesmo merecedor de apoio social e estatal! – a eliminação física dos deficientes, em determinadas fases da sua existência. Ora, trata-se precisamente disso quando sociedades ditas avançadas e progressistas promovem o chamado «aborto terapêutico». Estamos perante a discriminação absoluta de seres humanos totalmente indefesos, pois exerce-se de modo absoluto sobre o primeiro de todos os direitos humanos: o direito à vida. Esta discriminação promove o desprezo por certas vidas, as quais socialmente aparecem como não valendo a pena ser vividas. Não admira, por isso, que em sociedades mais «progressistas» já surjam vozes defendendo o direito a eliminar os recém-nascidos com deficiências não detectadas antes do nascimento – afinal, não estamos assim tão longe da barbárie de outros tempos!… Esta discriminação absoluta existe, tem protecção legal e direito de cidadania nas nossas sociedades. Enquanto assim acontecer, não será de todo possível vencer outras discriminações, as quais, por muitos graves, nunca serão tão absolutas quanto esta. Elias Couto