Bento XVI diz que é tempo de seguir em frente após a crise dos últimos anos Bento XVI deixou hoje um apelo em favor da reconciliação no seio da Igreja Católica nos EUA, duramente afectada pela crise dos abusos sexuais despoletada nos últimos anos, que classificou como uma “situação trágica”. “Tenho consciência da dor que a Igreja nos EUA provocou, como consequência do abuso sexual de menores”, disse o Papa na homilia da Missa celebrada esta Quinta-feira, no Nationals Park de Washington. Na terceira vez que se referiu a este tema desde que saiu de Roma, no passado dia 15, Bento XVI disse aos norte-americanos que “nenhuma palavra minha poderia descrever a dor e os danos causados por esse abuso”, “nem posso descrever de forma adequada o dano verificado no seio da comunidade da Igreja”. “É importante que todos os que sofreram tenham uma amorosa atenção pastoral, rematou o Papa, que desafiou os católicos no país a serem uma Igreja “a olhar para o futuro”, preparando-se para novos desafios. “Foram já feitos grandes esforços para enfrentar, de modo justo e honesto, esta situação trágica e para assegurar que as crianças possam crescer num ambiente seguro. Este anseio de proteger as crianças deve continuar. Encorajo cada um de vós a promover a cura e a reconciliação, ajudando aqueles que foram feridos”, prosseguiu. Bento XVI falou da importância de todos os católicos apresentarem um “testemunho convincente da esperança” num mundo que “precisa deste testemunho”, que anseia “por uma liberdade genuína” e pela realização das suas “aspirações” mais profundas. O Papa pediu que os fiéis confiem no “excelente trabalho” desenvolvido pelos sacerdotes, rezando para que a Igreja siga um caminho de “conversão, perdão e crescimento na santidade”. Depois de sublinhar a capacidade da Igreja em integrar a diversidade de grupos migrantes na “unidade da fé católica”, Bento XVI indicou que “o momento presente é uma encruzilhada, não só para a Igreja, mas para a sociedade, é um tempo de grandes esperanças”, com uma crescente interdependência mas com “sinais de alienação e polarização”, mesmo dentro da Igreja, “violência crescente”, enfraquecimento do “sentido moral” e o “constante crescimento do esquecimento de Cristo e de Deus”. Nesse sentido, convidou os presentes a “superar todas as divisões, trabalhando para preparar o caminho para Cristo”. Bento XVI vê “sinais promissores” dentro da Igreja, nas paróquias, nos movimentos, nos jovens e no “número de pessoas que todos os anos abraçam a fé católica”. O Papa conclui com uma saudação em espanhol, acolhida com uma longa salva de palmas. Bento XVI destacou a “vitalidade” dos fiéis latinos e agradeceu pelo “testemunho” da sua fé num mundo marcado por “divisões e confrontos”. “Não se deixem vencer pelo pessimismo, pela inércia ou pelos problemas. A Igreja nos Estados Unidos, acolhendo no seu seio tantos filhos imigrantes, tem crescido também graças à vitalidade do testemunho de fé dos fiéis de língua espanhola. Por isso, o Senhor vos pede que continuem a contribuir para o futuro da Igreja neste país e para a difusão do Evangelho”, afirmou. “A Igreja espera muito de vocês”, assegurou ainda. No final desta cerimónia, o Papa vai benzer a primeira pedra de uma escola católica que terá o nome de “João Paulo II, o Grande”. Mais tarde, Bento XVI vai encontrar-se com universitários católicos, com cerca de 200 representantes de outras religiões não cristãs e, de seguida, com a comunidade judaica, a quem vai entregar uma mensagem por ocasião da celebração da sua Páscoa. FOTO: Lusa