Andrea Tornielli, jornalista e autor de biografia sobre Francisco, acredita que «lua de mel» inicial se vai prolongar neste pontificado
Lisboa, 17 jun 2013 (Ecclesia) – O vaticanista italiano Andrea Tornielli, autor de uma biografia sobre o Papa, afirmou hoje que Francisco pode manter a “lua de mel” com os media e que algo “já mudou” na Igreja Católica.
“A perceção da Igreja Católica mudou, não porque os escândalos e os problemas já não existam, mas porque em vez dos bastidores interessa o que está em cena”, disse à Agência ECCLESIA o jornalista e especialista em assuntos da Santa Sé, que se encontrou por várias vezes com o cardeal Jorge Mario Bergoglio, que no dia 13 de março foi eleito como sucessor de Bento XVI.
O autor da obra ‘Francisco: O Papa de todos nós’ (A Esfera dos Livros) admite que a eleição do antigo arcebispo de Buenos Aires, de 76 anos, foi uma “surpresa” e que muitas pessoas estavam “distraídas” em relação a uma figura que foi, por exemplo, o “protagonista” da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano que decorreu em Aparecida (Brasil), em 2007.
“Não é obrigatório que este clima, este momento esteja destinado a acabar: esta onda de simpatia chega mesmo dos não crentes, dos que se reaproximaram da Igreja por causa da mensagem centrada na misericórdia. É possível que este clima continue”, declara.
Para Andrea Tornielli, o Papa Francisco tem-se mantido “igual a si próprio”, uma pessoa “simples e humilde” mesmo nas decisões mais mediatizadas, como a de residir na Casa de Santa Marta e não no palácio apostólico do Vaticano, por exemplo.
“Não há nada que seja estudado para a opinião pública, de mediático, é simplesmente ele próprio: é pouco conhecido porque quando celebrava missa nas ‘villas miséria’ (bairros de lata) de Buenos Aires ia só, não tinha jornalistas consigo”, refere.
O vaticanista elogia também o facto de o Papa passar muito tempo a cumprimentar os presentes na audiência pública semanal que tem decorrido na Praça de São Pedro: “Ele pensa mesmo que não tem nada melhor a fazer do que estar com as pessoas e elas percebem isso”.
Estes gestos, acrescenta, não devem ser vistos apenas como “pormenores”, mas simbolizam a vontade de um “pastor” em estar “à frente do rebanho, para o guiar”, “no meio, como os outros” e “atrás do rebanho, para o proteger”.
“Para ele, o pastor está ao serviço do povo e isto é já mudança que pede uma autorreforma por parte de quem vê que este é o exemplo do Papa”, precisa.
O vaticanista acredita que Francisco é alguém “capaz de decidir” e que essa determinação se vai estender à reforma da Cúria Romana.
Em relação aos temas “eticamente sensíveis”, o jornalista espera uma “abordagem diferente, mais positiva, mais propositiva”, sem mudar a doutrina.
Francisco, sublinha Andrea Tornielli, quer uma Igreja que procure “facilitar a fé das pessoas, mais do que regulá-la”.
O autor está em Lisboa para apresentar a sua nova obra, na qual quis passar em revista a vida de Jorge Mario Bergoglio e identificou “temas recorrentes” que o agora Papa tem continuado a defender nas suas intervenções, no Vaticano.
“Nestas páginas percebe-se qual é a sua ideia de Igreja, como foi bispo e como está a ser Papa: parece-me que uma grande é o de uma Igreja que quer superar a autorreferencialidade, que não está fechada sobre si própria, num grande apelo a abrir as portas e ir para as periferias”, conclui.
OC