Papa aborda relação entre fé, razão e ciência

Dez anos depois da publicação, por João Paulo II, da Encíclica “Fides et Ratio”, a Pontifícia Universidade Lateranense promoveu nestes dias em Roma um Congresso Internacional sobre esse tema. Recebendo no Vaticano os 300 participantes nessa iniciativa, Bento XVI sublinhou a “actualidade” daquela Encíclica do seu predecessor, tecendo aprofundadas considerações sobre o valor da “razão” e os princípios éticos a que não se pode eximir a investigação científica. Sublinhando a “largura de vistas e profundidade” de que dá provas, naquele documento, João Paulo II, o actual Papa recordou que, num período em que se teorizava a debilidade da razão, a Encíclica sublinhava a “importância de conjugar fé e razão na sua recíproca relação, embora no respeito da esfera de autonomia própria de cada uma”. “Com este magistério, a Igreja fez-se intérprete de uma exigência que emerge no actual contexto cultural. Quis defender a força da razão e a sua capacidade de alcançar a verdade, apresentando uma vez mais a fé como uma forma peculiar de conhecimento, graças à qual uma pessoa se abre à verdade da Revelação”, indicou. Como escreve João Paulo II na “Fides et Ratio”: “É a fé que provoca a razão a sair do seu isolamento e a correr riscos por tudo o que é belo, bom e verdadeiro. A fé advoga assim, de modo convicto e convincente, a razão”. Bento XVI advertiu, contudo, que se verificou “um deslizar, de um pensamento predominante especulativo para um mais experimental”, em que “o desejo de conhecer a natureza se transformou na vontade de a reproduzir”. Ora, sublinhou ainda o Papa, “a ciência não tem condições para elaborar princípios éticos”. “Pode apenas acolhê-los e reconhecê-los como necessário para debelar as suas eventuais patologias”, precisou. “Neste contexto, a filosofia e a teologia tornam-se ajudas indispensáveis com as quais confrontar-se para evitar que a ciência proceda isoladamente por caminhos tortuosos, cheios de imprevistos e de riscos”, disse ainda. Tudo isto “não significa, de modo algum, limitar a investigação científica ou impedir a técnica de produzir instrumentos de desenvolvimento. Trata-se, isso sim, de manter desperto o sentido de responsabilidade que possuem a razão e a fé, em relação à ciência, para que esta permaneça no sulco, ao serviço do homem”.

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