Leigo e teólogo português evocou resposta aos casos dos abusos sexuais, sensibilidade ambiental e sinodalidade

Braga, 13 mar 2025 (Ecclesia) – O teólogo João Duque, pró-reitor da Universidade Católica Portuguesa (UCP), considera que o pontificado de Francisco, iniciado há 12 anos, vai deixar “um rasto forte da transformação”, na Igreja e na sociedade.
“Vai ficar um rasto forte da transformação da passagem de Francisco pelo papado, que ainda lá está, evidentemente, ainda estará, mas ninguém é eterno e temos de pensar no futuro”, assinalou João Duque, hoje, em entrevista à Agência ECCLESIA.
O pró-reitor da Universidade Católica Portuguesa destaca que um dos “aspetos salientes” do Papa Francisco” é tocar “a vida real das pessoas”, o que não quero dizer que outros Papas não tivessem, mas “é notório em todo o seu pontificado”.
“Tem a ver com o estilo também de pastor, em certa medida, latino-americano. O nosso estilo europeu é tendencialmente, com exceções, evidente, mais frio, mais institucional. Ele, na verdade, tinha dado mostras deste estilo no seu ministério na América Latina e transferiu, evidentemente, para o estilo do papado, como é habitual”, explicou João Duque, acrescentando que aí se situa também a “diversidade das personalidades dos Papas”.
Há 12 anos, no dia 13 de março de 2013, o conclave escolheu o cardeal argentino Jorge Mario Bergolglio, arcebispo de Buenos Aires, como sucessor de Bento XVI.
O primeiro Papa jesuíta e o primeiro pontífice sul-americano na história da Igreja assumiu o inédito nome de Francisco.
“Apesar de personalidades muito diversas e de contributos muito válidos de todos os Papas anteriores, a perspetiva europeia, apesar de tudo, limita a perspetiva sobre a Igreja e sobre o mundo”, observou o professor da Faculdade de Teologia da UCP.
João Duque lembra que o Papa é bispo da Diocese de Roma que tem um significado primeiro simbólico “relativamente a toda a Igreja, à presença do Cristianismo em todo o globo”, e, depois, sobretudo no último século, “centralizou em Roma muitos aspetos da governação da Igreja”.
“O que significa que, estando a Igreja, na perspetiva dos cristãos, que são quem constitui a Igreja, a tornar-se cada vez mais forte nos outros continentes e, cada vez, eventualmente, mais débil no continente europeu, não faria mais sentido que os Papas continuassem a ser exclusivamente europeus. Considero, independentemente de quem venha a seguir, que essa prática da diversidade de origens do bispo de Roma será para ficar”, desenvolveu o leigo português.
No Programa ECCLESIA, transmitido esta quinta-feira, na RTP2, o entrevistado comentou também o atual pontificado quanto aos casos dos abusos sexuais, a sensibilidade ambiental de Francisco e a sinodalidade.
“Ele orientou o seu ministério no sentido de combater o estilo clerical, centralista, mas sobretudo clerical do exercício da liderança nas comunidades eclesiais, que, depois, inevitavelmente, podem conduzir à questão do abuso. Ele foi corajoso, penso que não haveria um caminho diferente”, desenvolveu o teólogo.
Sobre o desafio da sinodalidade na Igreja Católica, que foi o tema da reflexão do último Sínodo dos Bispos (2021/2024), o leigo minhoto, que conhece muitas comunidades cristãs, considera que “esse estilo está a passar, é um caminho inevitável para a construção da Igreja”, que pode ter “aplicações mais radicais ou menos radicais”.
“O Papa Francisco é um Papa muito inteligente e até estratégico em certo sentido, e é muito inteligente esta decisão última, para certas transformações na organização das comunidades eclesiais, das dioceses, e do conjunto das dioceses e da Igreja mesmo, articulada a partir da governação romana”, analisou João Duque.
Francisco, que celebra hoje o 12.º aniversário de eleição pontifícia, está internado no Hospital Gemelli, desde 14 de fevereiro, tendo sido diagnosticado com uma infeção polimicrobiana das vias respiratórias, que se agravou para uma pneumonia bilateral; deixou de ter prognóstico reservado na última segunda-feira, após a estabilização da infeção respiratória.
HM/CB/OC