Palavras de abertura da 195.ª Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa

Caros Irmãos no Episcopado e demais participantes nesta Assembleia Plenária

1. Ao iniciarmos os nossos trabalhos, cabe recordar alguns factos de especial relevo, acontecidos depois da nossa última Assembleia Plenária.

Antes de mais, os referentes a pessoas. A criação cardinalícia do Senhor D. António Marto foi para todos nós motivo de alegria e confirmação eclesial. Alegria, pela justa e particular atenção com que o Papa Francisco o escolheu para um lugar de tanta responsabilidade na Igreja. Confirmação, por contemplar alguém que no Episcopado Português tão bem tem desempenhado os sucessivos encargos que lhe foram confiados – e muito especialmente o referente à celebração do Centenário das Aparições de Nossa Senhora em Fátima, com tanto benefício para a Igreja dentro e além de Portugal.

Sucederam-se as nomeações para o Episcopado. D. António Luciano Costa para Viseu; D. Francisco Senra Coelho para Évora, depois do seu bom trabalho como Bispo Auxiliar em Braga; D. Daniel Henriques para Bispo Auxiliar de Lisboa; D. Rui Valério para Bispo das Forças Armadas e de Segurança; D. Armando Esteves para Bispo Auxiliar do Porto. Desejo a todos as maiores felicidades na missão que o Santo Padre lhes confia – felicidades necessariamente pascais e por isso mesmo garantidas. Sem esquecer a gratidão que devemos a D. José Francisco Sanches Alves, D. Ilídio Pinto Leandro e D. António Bessa Taipa, pelo trabalho que desenvolveram nas Dioceses de que agora são eméritos.

Retenho ainda a feliz nomeação de D. José Tolentino Mendonça para Arquivista e Bibliotecário da Santa Igreja Romana. É motivo de felicidade para a Igreja de Portugal ver alguém tão próximo em função tão relevante, como plenamente justificam os seus comprovados méritos culturais, ao serviço da evangelização.

Não esqueço D. António Rafael, que Deus chamou a Si. Por ele rezamos também.

 

2. Sobre acontecimentos, começo por destacar o 9.º Simpósio do Clero, organizado pela Comissão Episcopal das Vocações e Ministérios e acontecido em Fátima de 3 a 6 de setembro passado.

O tema foi “O Padre: ministro e testemunha da alegria do Evangelho” e contou com a intervenção de vários oradores nacionais e estrangeiros. Reconhecendo a qualidade de todos, permito-me sublinhar as do Cardeal Beniamino Stella e Monsenhor Jorge Carlos Patrón Wong, respetivamente Prefeito e Secretário da Congregação para o Clero. Pelo conhecimento direto que têm da situação do ministério sacerdotal e do respetivo processo formativo, de acordo com a Ratio Fundamentalis Institutionis Sacerdotalis, esclareceram-nos muito e bem sobre o pensamento do Papa Francisco a este propósito e o que se requer para o realizar, antes e depois da ordenação sacerdotal.

Relevo também o contributo de Mons. Juan Maria Uriarte, Bispo Emérito de San Sebastian, versando “O celibato presbiteral: sua nobreza, dificuldades e etapas”. Pela fundamentação teórica e prática e pela boa sequência da exposição, foi muito esclarecedor e bem acolhido pelo Simpósio. A divulgação do seu livro sobre o tema (O celibato. Apontamentos antropológicos, espirituais e pedagógicos, Paulinas, março 2018) e as entrevistas que deu na altura foram particularmente oportunas e tiveram bom impacto mediático.

Outras contribuições, especialmente as de D. António Couto e Pablo d’Ors, complementadas por testemunhos sacerdotais sobre vários pontos e aplicações pastorais, bem como os tempos de celebração, fizeram do Simpósio um momento alto de vivência e convivência sacerdotal para o conjunto do País, agregando cerca de quatro centenas de padres.

Na abertura do Simpósio, os Bispos presentes enviaram ao Papa Francisco uma mensagem cujos termos retomo, continuando a ser os nossos: «Os Bispos de Portugal […] aproveitam esta ocasião para, antes de mais, agradecer a Sua Santidade a oportuna e corajosa Carta ao Povo de Deus, sobre o drama do abuso de menores por parte de membros responsáveis da Igreja. Também nós partilhamos o sofrimento do Santo Padre e de toda a Igreja e propomo-nos seguir as orientações para erradicar as causas desta chaga. Empenhar-nos-emos em incrementar uma cultura de prevenção e proteção dos menores e vulneráveis em todas as nossas comunidades. Neste momento, perante tentativas de pôr em causa a credibilidade do Seu ministério, queremos manifestar-Lhe a nossa fraterna proximidade e o total apoio à Sua pessoa, a plena comunhão com a sua missão de Pastor universal e completa adesão ao Seu magistério».

As centenas de sacerdotes presentes no Simpósio aplaudiram esta mensagem com uma longa e calorosa salva de palmas, bem significativa da adesão do clero português aos propósitos do Santo Padre.

 

3. O outro acontecimento que destaco é mais recente e universal. Refiro-me à XV Assembleia geral ordinária do Sínodo dos Bispos, realizada em Roma no passado mês de outubro. A nossa Conferência foi ali representada por D. António Augusto Azevedo e D. Joaquim Mendes, presidentes das Comissões Episcopais mais diretamente ligadas ao tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”. Um dos pontos desta nossa assembleia é dedicado à partilha da sua experiência sinodal e do mais determinante que ela nos traz.

Do seu Documento final sublinho alguns pontos que me parecem especialmente relevantes e certamente estarão presentes na nossa reflexão e atuação pastoral. Como o n.º 54, quando acentua com palavras consistentes o lugar dos jovens na Igreja, em plena pertença e participação: «Os jovens católicos não são meramente destinatários da ação pastoral, mas membros vivos do único corpo eclesial, batizados nos quais vive e atua o Espírito do Senhor. Eles contribuem para enriquecer o que a Igreja é, e não só aquilo que faz. São o seu presente e não só o seu futuro».

Afirmações assim hão de encontrar da nossa parte receção correspondente. É do “sujeito” pastoral no seu todo que aqui se trata, devendo incluir o conjunto dos batizados e a respetiva contribuição específica. Também para evitar que a disponibilidade dos jovens se confronte com autoritarismos e desconfianças da parte dos adultos e pastores, que não reconheçam suficientemente a sua criatividade e demorem a partilha de responsabilidades, como refere o mesmo número do Documento.

Aliás, toda a Igreja há decrescer com a valorização de cada um dos seus membros, em corresponsabilidade missionária. O que cada um é e traz consigo enriquece a projeção do todo eclesial para o mundo. O número 125 é particularmente explícito: «A vida sinodal da Igreja é essencialmente orientada para a missão […]. Os jovens, abertos ao Espírito, podem ajudar a Igreja a realizar a passagem pascal de saída do “eu” individualisticamente entendido ao “nós” eclesial, em que cada “eu”, sendo revestido de Cristo (cf. Gal 2, 20), vive e caminha com os irmãos e irmãs como sujeito responsável e ativo na única missão do Povo de Deus».

Relevo ainda o número 140 do Documento, pela ligação direta à pastoral vocacional a desenvolver. Depois de afirmar que «desde o princípio do caminho sinodal apareceu com força a necessidade de qualificar vocacionalmente a pastoral juvenil», acentua-lhe duas notas específicas: «É “juvenil”, porque os seus destinatários se encontram naquela singular e irrepetível idade da vida que é a juventude; é “vocacional”, porque a juventude é a fase privilegiada das escolhas de vida e da resposta ao chamamento de Deus». Para adiantar ainda que «a “vocacionalidade” da pastoral juvenil não há de ser entendida de modo exclusivo, mas intensivo. Deus chama em todas as idades da vida – do seio materno à velhice –, mas a juventude é o momento privilegiado da escuta, da disponibilidade e do acolhimento da vontade de Deus».

E este número tão esclarecedor conclui com uma incumbência que nos diz diretamente respeito: «O Sínodo avança a proposta de que anível de Conferência Episcopal Nacional se predisponha um “Diretório de pastoral juvenil” em chave vocacional que possa ajudar os responsáveis diocesanos e os operadores locais a qualificar a sua formação e ação com e pelos jovens». Havemos de levar por diante a proposta sinodal.

 

4. A insistência sinodal na projeção missionária de toda a pastoral vem diretamente ao encontro do que a Conferência Episcopal Portuguesa indicou para o presente ano pastoral: «Acolhendo com alegria a proposta do Papa Francisco de um Mês Missionário Extraordinário para toda a Igreja, nós, Bispos portugueses, propomo-nos ir mais longe e celebraremos esse mês como etapa final de um Ano Missionário em todas as nossas Dioceses, de outubro de 2018 a outubro de 2019» (Nota Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa para o Ano Missionário e o Mês Missionário Extraordinário “Todos, Tudo e Sempre em Missão”, 20 de maio de 2018, n.º 1).

Assim estamos já. Os programas de cada diocese, além da especificidade própria de cada uma, incluem esta dimensão missionária. E com objetivos concretos, assim enunciados na mesma Nota: «É por isso que apelamos uma vez mais para que em todas as nossas dioceses surjam Centros Missionários Diocesanos (CMD) e Grupos Missionários Paroquiais (GMP), laboratórios missionários, células paroquiais de evangelização que, em consonância com as OMP [Obras Missionárias Pontifícias] e os centros de animação missionária dos Institutos Missionários, possam fazer com que a missão universal ganhe corpo em todos os âmbitos da pastoral e da vida cristã, que nos animem a ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho, numa missão total que deve envolver Todos, Tudo e Sempre» (ibidem, n.º 8).

A isto nos propomos, inadiavelmente. Na verdade, as condições atuais fazem da missão uma urgência evangélica em todos os campos socioculturais e numa geografia total, longe ou perto – por vezes muito perto até. Sobretudo nas zonas mais povoadas do nosso país habitam hoje populações das mais diversas origens e abrem-se espaços de autêntica “missio ad gentes”, a par de outros que requerem “nova evangelização” e persistência da “ação pastoral” própria das comunidades estabelecidas. A projeção missionária das comunidades, intercambiando o perto e o longe, é hoje a única possibilidade da respetiva manutenção e crescimento, como foi sempre a sua legitimação “cristã” propriamente dita.

 

5. De outros assuntos trataremos nesta Assembleia Plenária. Destaco dois documentos. Um mais de fundo e prospetivo, sobre a preparação para o casamento e o acompanhamento das famílias, na esteira do que a Exortação apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia nos sugeriu. Outro mais situado, mas igualmente oportuno, lembrando os 175 anos do Apostolado da Oração em Portugal. É inegável o contributo que esta organização prestou e presta para o bem da Igreja e da sua ação apostólica.

Em Deus confiados e na proteção da Virgem Santa Maria, assim começamos a nossa Assembleia Plenária.

 

Fátima, 12 de novembro de 2018

 

+ Manuel Clemente

Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa

 

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