Padres seculares… diante do secularismo

“É necessário assumir que o secularismo constitui para todos e particularmente para o sacerdote um perigo mortal. Envolver-se no secularismo é sinónimo de cair na ausência de sentido para a vida”, disse D. Jorge Ortiga na homilia da ordenação de treze novos sacerdotes, decorrida na cripta do Sameiro, em Braga. “A secularidade, por outro lado, deve tornar-se para nós um verdadeiro desafio que permite que não nos contentemos em sobreviver neste mundo lutando pela preservação de relíquias ou tradições”, advertiu ainda o Arcebispo Primaz. Horas depois desta exortação-denúncia apareciam numa rábula televisiva, de um programa da manhã, dois ‘padres’ de sotaina – enquanto um outro, até ver padre ainda em exercício, se entretinha a dar uma receita de culinária noutro programa, com lugar cativo várias vezes por semana! – tentando provocar o riso (serão mesmo malucos do dito?) com tiradas à volta de pecados clericais da mesa… É comum e salutar distinguir os padres entre ‘regulares’ e ‘seculares’: aqueles como sacerdotes religiosos na linha de alguma congregação, instituto ou ordem religiosa, enquanto os ‘seculares’ são os sacerdotes diocesanos, com vínculo a um bispo e presbitério diocesanos concretizados. Se bem que os ‘regulares’ também façam parte do único presbitério, vivem-no a um título diferente (até pelos votos religiosos), tendo em conta a Igreja particular onde residem ou trabalham. Como deve, então, entender-se a distinção entre secular e secularismo? Haverá, assim, sinais que os padres devam ter/usar que os distingam tanto do século (= mundo) por forma a defenderem-se dos ataques do secularismo? Será possível, por isso, tornar os padres seculares mais comuns com o mundo ou distingui-los das coisas mundanas? Como poderemos, por outro lado, entender certos ataques anti-clericais, usando mesmo fetiches sociais desadequados (como certos fatos e roupagens, tiques ou clichés) à mentalidade dos nossos tempos? Há em toda a envolvência religiosa – dizemo-lo da católica, mas também a vemos noutros cultos e até nas novas religiões – uma necessidade de saber estar com os outros, sobretudo aqueles a quem se dirige a linguagem que usamos. Com efeito, certas formas de vestir – como a batina, o clergyman ou mesmo a túnica/alva litúrgica – só se entendem num quadro iniciático mínimo. Será que todos percebem o que isso significa? Estaremos a ser entendidos correcta, positiva e conscientemente, tanto dentro como fora da Igreja? Não basta fazer como era costume nem não fazer por reacção. É preciso que o padre secular saiba afirmar-se pelo que é: homem de Deus, inserido na sociedade dos homens e no meio do mundo sem ser do mundo, mas apontando sempre e fundamentalmente para Deus, a Quem serve. A. Sílvio Couto

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