Padres atentos aos mais desprotegidos

«A Igreja não é só os sacerdotes, mas é através destes que, predominantemente, o mundo colhe a mensagem de Deus e a identidade da Igreja. Não são os únicos. São os primeiros», disse ontem o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. Jorge Ortiga, na abertura do V Simpósio do Clero, a quem pediu para reforçar o seu apoio aos mais excluídos, nomeadamente nas grandes cidades, onde existem maiores problemas de exclusão. «A presença do padre na cidade é como noutro local qualquer», mas «a realidade das zonas urbanas está estruturada no isolamento », o que vem prejudicar o trabalho pastoral da Igreja, afirmou o Arcebispo de Braga. No encontro, que teve ontem início em Fátima e que termina sexta-feira, os cerca de 400 inscritos (50 são da Arquidiocese de Braga) — entre padres e bispos — vão debater o reforço da comunhão eclesial, quer dentro da hierarquia da Igreja quer junto da comunidade envolvente. «Se a nossa comunhão é universal então deve ser maior com os mais desfavorecidos », afirmou D. Jorge Ortiga, que apela aos sacerdotes para terem «um cuidado muito grande com aqueles que estão à margem da própria sociedade». «A opção preferencial da Igreja é para com os mais pobres e mais desfavorecidos » pelo que o papel dos padres não pode ser somente o serviço religioso, considerou o presidente da CEP. No encontro serão debatidas questões como as mudanças que os padres enfrentam na sua vida pessoal para se adaptarem às exigências da vida moderna, entre outras matérias. O pagamento de impostos foi uma das questões que originou polémica no passado recente, mas D. Jorge Ortiga considera que esta matéria já está ultrapassada e que «não existem problemas » pendentes. Agora, a Igreja quer modernizar a relação dos sacerdotes com a sociedade, tendo em conta a «realidade multicultural» da população. «A realização deste simpósio tem como grande objectivo a partilha e comunhão entre os sacerdotes de várias dioceses», preparando- os para «o diálogo ecuménico e inter-religioso» e para uma «maior abertura aos desafios» que a Igreja enfrenta, resumiu D. Jorge Ortiga. Condenação da violência doméstica A presidente da Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP), Manuela Silva, apelou ontem aos sacerdotes para se envolverem mais na condenação dos casos de violência doméstica, nomeadamente através das homilias das missas dominicais. Os sacerdotes «têm um importante papel» no «combate à violência doméstica», quer através das homilias, quer incentivando as mulheres vítimas de maus-tratos a denunciarem os casos, considerou Manuela Silva, durante uma palestra sobre os “desafios da cultura contemporânea ao sacerdote e à Igreja”, que integra o V Simpósio do Clero. O combate à violência doméstica, a «necessidade de uma nova evangelização» da população e o reforço do auxílio aos desfavorecidos foram algumas das propostas feitas pela dirigente da CNPJ que, contudo, lamentou a «rigidez das estruturas paroquiais » para enfrentar estes desafios. Este problema verifica-se nomeadamente nas grandes cidades, onde os padres lideram «paróquias gigantescas» que dificultam o trabalho pastoral junto dos crentes. Além disso, os seminários devem também reformar alguns modelos educativos para prevenir a «propensão de muitos presbíteros para o autoritarismo», defendeu Manuela Silva. Por seu turno, o padre jesuíta Hermínio Rico, docente da Universidade Católica, exortou os sacerdotes a terem um cuidado adicional com as homilias e pregações, já que os leigos estão cada vez habituados a «melhores comunicadores » que conhecem através dos media. Esta “concorrência” veio dificultar a passagem da mensagem cristã, que em muitos casos colide com outros modelos veiculados pela sociedade de hoje, defendeu. «Mais do que preparar o conteúdo temos de preparar melhor a forma», defendeu o sacerdote, considerando que existe também uma «grande diferença» entre as expectativas dos seminaristas para a sua vida sacerdotal e o estatuto social dos padres. «A identidade do padre tem uma conotação negativa », levando mesmo muitas famílias a dissuadirem os filhos de seguirem esta vocação, o que não sucedia há uns anos. Nos trabalhos de hoje intervêm dois professores da Faculdade de Teologia-Braga — João Duque e o padre Mário Rui Oliveira, pároco de Tibães —, Alfredo Teixeira, Maria de Lurdes Figueiral, cónego António Janela e Enzo Bianchi, prior do Mosteiro de Bose.

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