Paulo Rocha, Agência Ecclesia
Os dias desta semana foram ocasião de muitos encontros e reencontros. E aconteceram em sintonia com a linha do tempo que corresponde às marcas na história de 60 anos de sacerdócio de um padre que foi e é um comunicador, que marcou gerações de profissionais dos media e contagiou sobretudo jovens, mulheres e homens, comunidades, grupos e tantas geografias onde esteve, acompanhado por um microfone ou uma câmara de filmar. Sempre, desde meados dos anos 60 e até hoje, com a determinação criativa de mostrar o acontecer do Evangelho em cada pessoa, em cada sítio.
Refiro-me, claro, ao Padre António Rego. Felizmente, esta semana permitiu a realização de homenagens há muito pensadas e sonhadas…! Primeiro, a condecoração do presidente da República com o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique; depois, uma homenagem do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, onde foi diretor durante décadas. Trata-se de um órgão da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, portanto uma estrutura da Igreja Católica em Portugal, da Conferência Episcopal Portuguesa, que coordena e dinamiza o setor das comunicações sociais, onde trabalhou e trabalha o Padre Rego.
Mas comecemos pelos encontros. O primeiro chegou com um almoço, em Lisboa. Foi ocasião para recordar os tempos em que o Padre Rego residiu nos Mártires, trabalhou com outros sacerdotes na Rádio Renascença e viveu as tensões geradas pelos anos da transição para a democracia. Quantas histórias foram contadas, aquelas jamais escritas, que falaram de encontros entre um cardeal da Igreja Católica e um presidente do Conselho, as pressões e as prisões, as nomeações, os vetos e a resiliência de muitos anos até à liberdade de toda a sociedade.
Depois, já em Fátima, outro encontro para recordar outra fase da vida, quando o Padre Rego residia na Bela Vista, na Estrela, com outros sacerdotes, e cultivou dons da criatividade em tantos meios de comunicação e em tantos programas e páginas dos jornais nacionais. Foi nessa ocasião, em 1979, que nasceu o 70×7 e foi também durante esses anos que escreveu a “Palavra entre Palavras”, no Diário de Notícias. Depois, tantos programas na rádio, na RDP, que perduraram no tempo, a par da transmissão da missa na televisão e na rádio. Mas a Bela Vista foi ocasião para recordar tantos serões, jogos de sueca, conversas, sonhos, projetos e também dias para o desporto no Estádio Nacional, em cada sábado, o acolhimento de tantos amigos para jantares animados e as gravações no pequeno estúdio, no sótão da casa, onde nasceram tantos programas e onde foram realizadas muitas emissões, prontas a passar na rádio.
Um terceiro encontro, este com tantas companheiras e tantos companheiros que embarcaram num grande desafio: fazer nascer uma televisão, a TVI. E corresponde a uma terceira residência do Padre António Rego, em Lisboa. No caso, na Igreja de Nossa Senhora de Fátima, onde conviveu com dois ou três sacerdotes, companheiros durante décadas na universidade, nos movimentos, nas paróquias. Entre tantas pessoas, recordo as memórias partilhadas por uma médica, que foi também médica de família, e estreita agora a preocupação pelo bem estar do Padre Rego, a viver os anos 80 (os dele). Foram momentos para ter presente toda a família, nomeadamente as irmãs Marciana e Vera, que estão sempre por perto, a Marília e a Irmã Alda, religiosa dominicana, que acompanhou cada década do irmão padre, agora também a celebrar 60 anos de Vida Religiosa.
No Palácio de Belém, onde recebeu as insígnias de Marcelo Rebelo de Sousa, e sobretudo em Fátima, onde decorreu a homenagem da Igreja Católica, os momentos do percurso de vida pessoal e profissional do Padre Rego preencheram todos os abraços, cada conversa, muitas memórias…
A sessão de homenagem aconteceu no fim dos trabalhos das Jornadas Nacionais de Comunicação Social e quis ser um tributo de coração a coração, olhos nos olhos, com muita amizade. Aconteceu na certeza de que a Igreja, a instituição, é composta pela hierarquia, que esteve presente, e por cada batizado, por cada colega do Padre Rego que com ele viveu as seis décadas de sacerdócio. Após duas horas, não se cumpriram formalismos lavrados em ata, mas partilharam-se emoções de tantos momentos vividos com o homenageado e reafirmaram-se as razões para uma homenagem querida por todos, os que estavam presentes e muitos mais…
Claro que uma homenagem não esgota os motivos para distinguir o homenageado. E se, por um lado, não foi a única, uma vez que sucede à evocação dos 60 anos de ordenação sacerdotal realizada pela Diocese de Angra e sobretudo ao dia de festa promovido pela família, em Ponta Delgada, no dia da ordenação sacerdotal, 21 de junho, por outro, as reuniões, os guiões, os projetos, os sonhos partilhados permanecem nas memórias de tantos e nos cadernos de alguns. E são esses apontamentos de uma vida que é necessário não perder, porque correspondem a uma forma de comunicar, ao fascínio por mostrar, com teimosia, como o próprio afirmou, o Evangelho a acontecer.
Um trabalho por fazer e que espera seguidores? De todo! Por exemplo, o entusiasmo do Padre Rego foi e é deixado em torno da marca Ecclesia, da agência de notícias e dos programas que passam na televisão e na rádio, assinalados pelo diálogo inter-religioso, desde 1997, e que continuam a recriar, em cada dia, o entusiasmo e a criatividade deixada no legado do Padre Rego. Muito trabalho realizado por uma equipa que não desiste de dar espaço e tempo nos media ao tema religião, mesmo que raramente conheça a notoriedade mediática de episódios, mesmo que falsos, que alimentam as audiências. Talvez não seja esse o horizonte destes projetos, marcados por vivências muito pessoais, e muito menos é razão para desistir! O Padre Rego diz porquê, nas várias lições que nos deixa. No livro-entrevista que tive a sorte de fazer, intitulado “A Ilha e o Verbo – Dos vulcões da atlântida à galáxia digital”, o Padre Rego afirma: “Não tenho nenhuma costela partida por causa de grandes abraços de felicitações nem de agradecimento. Nem isso foi o que mais me interessou!”
Na área da comunicação, a religiosa como qualquer outra, também acontecem ilhas, grupos, fontes e contactos que são sempre os mesmos, apesar das “palmadinhas nas costas” a todos. Comportamentos de pouca relevância diante da marca comum que a todos deve animar, em qualquer meio, em todas as geografias, quando ligados pelas mesmas convicções: somos todos seguidores do mesmo Mestre, Jesus Cristo, e, no caso do jornalismo sobre o tema religião, temos a mesma inspiração e podemos seguir as mesmas pistas, as que nos foram deixadas pelo Padre Rego. Esse é o grande desafio, no presente e no futuro, e foi esse o sinal maior deixado por todos os presentes na sessão de homenagem que aconteceu no dia 27 de setembro de 2024. Porque quando permitimos que cada eu seja genuíno, sem filtros, facilmente construímos em conjunto! Vamos a isso, fiéis a um legado… Obrigado Padre Rego!