Padre e…. Bispo

D. Manuel Linda inaugura espaço para o Ano Sacerdotal em que a Agência ECCLESIA dá a conhecer diversas facetas dos padres no nosso país Nos últimos tempos, os colegas padres e alguns leigos brincavam com ele sobre a hipótese de ser bispo. "Eram brincadeiras, mas não passavam disso" – disse à Agência ECCLESIA D. Manuel Linda, nomeado bispo auxiliar de Braga, no passado dia 27 de Junho. Com o título de Case Mediane e Auxiliar de Braga, D. Manuel Linda relatou a vivência dos dias passados entre o telefonema da Nunciatura Apostólica e a data da sua nomeação.

Os dias foram muito intensos e "ocuparam-me o tempo todo" porque "estamos no fim do ano académico no Seminário de Vila Real". Com toda a naturalidade disse que "sinto-me padre a 100%, mas bispo ainda não".

No domingo (21 de Junho), o email – datado das 07horas e 43minutos – deste sacerdote da diocese de Vila Real tinha um pedido expresso: "ligar para determinado número da Nunciatura Apostólica". Depois de visualizar esta mensagem pelas 22 horas, "interpretei o que se passava, mas naquele dia não liguei".

Como tinha um serviço na manhã do dia seguinte, D. Manuel Linda colocou o telemóvel em modo silencioso, mas "estava, continuamente, a receber chamadas de um número de Lisboa". Cerca das 12 horas e liberto do trabalho matinal, "liguei para o respectivo número". Recebeu a notícia quando caminhava na rua… "admito que tenha ficado branco" – sublinhou.

Nascido a 15/04/1956 na Freguesia de Paus, Concelho de Resende, Distrito de Viseu, Diocese de Lamego, o novo bispo auxiliar de Braga frequentou os Seminário Menor (Resende) e Maior (Lamego) da Diocese de Lamego, bem como o Instituto de Ciências Humanas e Teológicas (Porto), já como aluno da Diocese de Vila Real. Foi ordenado presbítero no Dia de Portugal e de Camões (10 de Junho) do ano de 1981.

O facto de ter lido o email na véspera "deu-me alguma calma". Após a celebração eucarística, o titular de Case Mediane foi almoçar ao Seminário de Vila Real, onde é reitor, e "procurei que a cara não demonstrasse nada de especial". A notícia que mudaria a sua vida alterou os seus comportamentos e "creio que os meus colegas descobriram". E explica a fragilidade: "provavelmente estava menos falador naquele dia".

A introspecção apoderou-se de D. Manuel Linda e, na tarde de 22 de Junho, "não conseguia concentrar-me". Esteve a trabalhar, mas a execução "era quase automática" porque "não tinha a cabeça fria" (Risos). Desempenhou todas as funções desse dia, porém "sabe Deus como" e "às vezes com pouca dimensão humana".

Os primeiros dias foram especiais e "comecei a dar-me conta do peso do episcopado". A consciência das novas tarefas na diocese minhota apoderaram-se do novo bispo auxiliar de Braga. "Curiosamente, nem pensei na mitra nem no solidéu" – confessa. E desabafa: "não podemos levar estas coisas de ânimo leve".

Nessa Terça-feira (dia 23 de Junho), D. Manuel Linda recebe um telefonema de sua mãe. Depois das conversas entre mãe e filho, será que o instinto maternal adivinha? Esta pergunta-lhe: "É verdade que vais para bispo?". Como estava sujeito ao segredo, "não pude dizer-lhe nada", mas devolveu-lhe a questão: "E a mãe gostava?". Não sabemos a resposta da mãe do titular de Case Mediane, mas "mostrou apreensão porque respeita o ministério episcopal". (Risos). No entanto, deu-lhe a palavra que este queria ouvir: "Tu ordenaste-te para servir a Igreja, vê lá como a podes servir".

Foi nessa lógica de serviço que D. Manuel Linda saiu das terras do Marão e se deslocou, no dia 24 de Junho, a Lisboa para falar com o Núncio Apostólico. Desde o telefonema da Nunciatura até à data da nomeação "dormi bem" visto que "não tenho problemas de insónias" – realça o prelado.

No seu dia-a-dia, o vigário episcopal para a cultura e coordenador da pastoral da diocese de Vila Real utiliza a gravata na sua indumentária. Depois de saber da ida para a diocese de Braga ainda não pensou o que fazer à colecção de gravatas que possui. No seu ar bem-disposto disse que está disponível para "dar algumas, mas a minha casa de origem tem muito espaço".

Apesar de não ter muito tempo, D. Manuel Linda confessa que gosta muito de "corridas de automóveis". Como a cidade de Vila Real recuperou o circuito automóvel, a simpatia pelas velocidades renasceu. Quando era mais novo – "agora não tenho ido muito" -, o novo bispo gostava também de MotoCross. Nunca praticou nenhum destes desportos, mas noutros tempos "conduzia com mais velocidade". A prudência dos anos tirou-lhe a adrenalina das velocidades.

Em relação ao desporto-rei, o bispo auxiliar de Braga confessa que quando "era adolescente sofria com o futebol". O nacionalismo ainda existe quando a selecção joga, mas "não dou saltos na cadeira quando Portugal marca um golo". Nota-se que gosta de futebol, mas não sabemos as cores da sua equipa preferida. "Rigorosamente já não tenho clube, houve alturas em que tive e vibrava muito com ele". (Risos)

Nos seus tempos de jovem padre – "era menino e moço com 24 anos" – o actual titular de Case Mediane foi nomeado para uma paróquia "considerada difícil". O facto de ter criado um boletim paroquial, mas com notícias da zona "acalentou o ego daquela gente que depois me recebeu de braços abertos". Com experiência na Comunicação Social, D. Manuel Linda esteve na génese de uma rádio local: a Rádio Voz do Marão. "Só por si a Comunicação Social não faz um homem novo, mas é um instrumento valiosíssimo".

O actual bispo de Lamego, D. Jacinto Botelho, foi reitor do seminarista Manuel Linda na diocese de Lamego. Num contexto "muito próprio, o meu ano optou por amadurecer vocacionalmente fora da diocese" – contou. Nesse ano, o actual bispo de Lamego tinha passado a Vigário-Geral da diocese e na substituição da reitoria, "nós – talvez coisas ingénuas de adolescentes – achámos que poderíamos amadurecer fora de Lamego".

O «célebre» bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, foi o tema da tese de doutoramento do novo bispo auxiliar de Braga. "Quando comecei a estudá-lo, esta figura da Igreja não estava suficientemente estudada". Depois da leitura das homílias de D. António Ferreira Gomes proferidas na diocese de Portalegre e, depois, no Porto "dei-me conta que a temática social, aquilo a que chamamos moral sociopolítica, seria a grande referência do pensamento dele" – enfatizou.

No domínio da literatura, Miguel Torga e José Régio são os seus autores preferidos. "Já escrevi um artigo para a Revista «Brotéria» sobre a mundividência de Miguel Torga". O escritor de S. Martinho da Anta (Vila Real) que foi adoptado pela cidade do Mondego "diz-me muito" porque "andava sempre em busca do religioso e nunca o encontrou verdadeiramente". A poesia de Régio também "me toca imenso" – frisou.

Apreciador de Arte Sacra, D. Manuel Linda recebeu – por coincidência – um «presente» no dia da nomeação para bispo auxiliar de Braga: a inauguração, no Seminário de Vila Real, de uma exposição de treze telas sobre S. António. "Uns quadros fantásticos" – disse. Apesar de gostar de pintura reconhece que "sou um desastre na arte de pintar". E lamenta: "aliás, não sei como fui tão pouco dotado nestes domínios" (Risos).

É o homem da Pastoral da Cultura na diocese de Vila Real, mas "na cultura entendida como pensamento e como criação". Nas suas viagens pelas grandes cidades, gosta de "visitar os museus de referência". Já esteve várias vezes em Madrid e "conheço o Museu do Prado muito bem".

A falta de tempo impede-o de viajar mais, mas conhece algumas partes do mundo. "Fico extasiado quando vejo alguns monumentos". A primeira vez que viu a catedral de Milão (Itália) apeteceu-lhe "encostar a uma parede e ficar ali a ver toda aquela simbólica". O contacto com a catedral de Colónia (Alemanha) "pôs-me deslumbrado" e "fiquei muitos minutos a observar aquela obra, absolutamente espantosa".

Nomeado no Verão de 2009, D. Manuel Linda disse que gosta "muito de praia", mas reconhece que passava "mais despercebido" antes da notícia das suas novas funções eclesiais.

Como a data da ordenação ainda não está marcada – "em princípio será na segunda quinzena de Setembro" – D. Manuel Linda afirma que ainda não "leu o rito da ordenação nem o directório dos bispos". O lema episcopal ainda não está escolhido, mas colocará as tónicas "do espírito da alegria e da esperança" no seu episcopado.

"Se for obrigado a ter brasão gostava de colocar um campo em branco onde a vida escreverá algo" – declarou. No domínio da simbólica a cunhar no seu brasão, D. Manuel Linda confessou que gosta do castanheiro – "árvore da minha região" – ou então do pinheiro que "resiste a muitas intempéries".

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Agência ECCLESIA

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