Até 2016 vão ser publicados 30 volumes e um dicionário da primeira coleção «verdadeiramente completa» das obras do pregador
Lisboa, 09 fev 2013 (Ecclesia) – O padre António Vieira continua a inspirar Portugal, 405 anos após o nascimento, considera José Eduardo Franco, diretor do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa anunciou esta quarta-feira um financiamento de 500 mil euros para a publicação, até 2016, de 30 volumes com toda a obra do sacerdote, além de um dicionário.
Em declarações à Agência ECCLESIA, José Eduardo Franco, coordenador do projeto juntamente com Pedro Calafate, afirmou que a iniciativa, além de valorizar o “imperador da língua portuguesa”, segundo palavras de Fernando Pessoa, contribui para retomar algumas das suas intuições.
Com “determinação e coerência” o religioso jesuíta “acreditou que o projeto de Portugal era possível e viável”, num tempo em que os seus territórios eram ameaçados por potências estrangeiras, referiu o responsável.
José Eduardo Franco sustenta que as ideias do padre António Vieira se inscrevem “na corrente maior do pensamento português, que é a universalista, ou seja, a da rejeição de um Portugal isolado e orgulhosamente só, mas que, pelo contrário, tem um papel importante na construção de um mundo mais fraterno”.
“Além de nos ensinar a tolerância e a inclusão, Vieira lutou contra a segregação e a opressão, como se atesta no combate contra a escravatura dos Índios no Brasil e à discriminação entre cristãos velhos e novos, estes de segunda categoria”, sublinha.
O historiador contabilizou, desde 1850, mais de 15 tentativas de obras completas do padre António Vieira em Portugal, Brasil, Alemanha e Itália “que nunca foram até ao fim”.
O atual projeto começou a ser planeado em 2000, e desde então os financiamentos recebidos foram “migalhas, manifestamente insuficientes” para as necessidades, explicou José Eduardo Franco.
A recolha da obra do pregador reúne 32 especialistas de mais de 25 universidades de Portugal e do Brasil, a que se acrescenta uma equipa de duas dezenas de investigadores, entre os 20 e 30 anos, com formação em latim, paleografia, história, filosofia e teologia.
O apoio da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa paga o salário mensal dos 20 especialistas, que trabalham a tempo inteiro.
“Já é uma grande coisa oferecer emprego a 20 pessoas. É uma oportunidade que se dá a jovens investigadores, formados nas nossas universidades, em áreas das Ciências Humanas, onde há poucas perspetivas de trabalho em Portugal”, salienta.
A coleção “verdadeiramente completa” do padre António Viera é “colossal”, dado que cada volume tem entre 400 e 500 páginas.
“Voltámos sempre aos primeiros testemunhos, mesmo no caso de textos que já foram alvo de publicação, o que explica o facto de o esforço e o investimento serem maiores. Este critério é que dá credibilidade e permite dizer que se trata de uma investigação de raiz”, aponta.
O lançamento dos três primeiros volumes ocorre a 4 de abril, na Reitoria da Universidade de Lisboa, ao fim da tarde, com a apresentação a ser feita por D. Manuel Clemente, bispo do Porto e historiador, bem como por um investigador brasileiro.
A sessão conta ainda com o ator e encenador Luís Miguel Cintra, que vai reproduzir um dos sermões do Padre António Vieira.
RJM