Os três níveis da comunicação social da Igreja

Eduardo Cintra Torres aponta para a necessidade de apostar na Internet e na profissionalização da comunicação Qualquer debate ou reflexão sobre a relação da Igreja com a comunicação social deverá esclarecer antecipadamente do que estamos a falar, para desfazer quaisquer equívocos e para que a própria Igreja possa tomar as medidas adequadas. Eu dividiria o tema em três: – a relação da Igreja, enquanto instituição inscrita na sociedade civil, com os media em geral dessa mesma sociedade civil, como as TVs, as rádios, os diários generalistas e de referência, etc. – a Igreja enquanto produtora de comunicação social, seja ou não proprietária dos media (rádios nacionais, regionais e locais, programas exprimindo as posições da Igreja, os jornais em papel e na internet, etc.) – a Igreja enquanto produtora de comunicação religiosa, isto é, de eventos quotidianos, semanais, anuais ou esporádicos do exclusivo domínio do ritual e da fé (eucaristia, terço, Fátima, Vaticano, visitas papais, etc.) Quanto à relação da Igreja com outros órgãos de informação, ela não pode deixar de passar pela profissionalização da comunicação. É impossível ignorar-se que todo o conteúdo tem forma: não há mensagem que nos chegue sem forma (palavras, sintaxe, retórica, fotos, imagens em movimento, cenário, iluminação, etc.). O conteúdo tem de ser adequado aos destinatários, a começar pelos jornalistas que serão os intermediários. O risco de adulteração da mensagem é maior quando a adaptação ao destinatário não é feita pela própria entidade que a pretende comunicar. Fazem parte da profissionalização: primeiro, as técnicas do marketing (a palavra não deve assustar, é apenas uma palavra; se se quiser, podemos inventar outra: audiencing, isto é, adaptar a mensagem à audiência concreta com a máxima eficácia); segundo, a reflexão sobre qual o registo em que os representantes da Igreja, por ser Igreja, devem comunicar com os media para que a comunicação seja adequada e profícua. Quanto à Igreja enquanto produtora de comunicação: deveria, em primeiro lugar, usar a Internet o mais rápida e amplamente possível. A Internet é uma rede, tal como a Igreja: como não adequar a primeira às necessidades da segunda? Em segundo lugar, o refrescamento formal dos media ou dos conteúdos da comunicação da Igreja deveria ser considerado uma prioridade, porque a responsabilidade da ineficácia comunicacional mais facilmente reside no mensageiro do que na mensagem. Quanto à Igreja enquanto produtora de comunicação religiosa: dada a rigidez dos ritos, as eventuais alterações para maior eficácia da comunicação só poderão ocorrer a três níveis: – melhorias no âmbitos das próprias celebrações, em especial da música. Esta deve ter qualidade no reportório e na interpretação para ser transmitida a nível nacional ou mesmo internacional. Não esqueçamos que, sendo transmitidas audiovisualmente, as cerimónias católicas ficam sujeitas à comparação com toda a música de todo o mundo, quer em termos de reportório quer de interpretação. A Igreja poderia nomear uma comissão de músicos profissionais que organizasse ou encomendasse temas para um novo reportório de qualidade e que fosse mais galvanizador do que o actual. Em termos de interpretação, deveria escolher os intérpretes nas celebrações transmitidas pela rádio e TV dado que essa transmissão atribuiu às celebrações um carácter não apenas local mas universal. – Renovação dos aspectos de conteúdo das homilias, de forma a que transmitam não apenas a palavra religiosa mas ligando-as à realidade da comunidade e/ou audiência que as acompanha; atentar às formas actuais da comunicação em público (ao vivo e pelos media) de modo a que os celebrantes comuniquem verbal e não-verbalmente por processos adequados às pessoas de hoje. – Alterações nas transmissões audiovisuais de cerimónias que, sem ofender o seu carácter religioso, as tornem mais atractivas para a audiência; por exemplo, pela introdução de um comentador que explique as cerimónias e a sua simbologia (incluindo nas missas dominicais na TV) ou pela introdução ou sobreposição de imagens do mundo ou da arte cristã (se uma homilia fala da fome do mundo, por não mostrá-la em imagens sobrepostas? Se a missa é de Natal, porque não mostrar os episódios bíblicos do Natal através da melhor arte dos museus e templos do mundo); e ainda pela criação de apontamentos de reportagem de 30 a 60 segundos (a introduzir antes ou depois da missa) sobre a paróquia onde se realiza a eucaristia ou sobre o trabalho social realizado pelos seus paroquianos? Eduardo Cintra Torres

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Agência ECCLESIA

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