João Paulo II revelou ontem que sonha com uma nova Europa, sem “nacionalismos egoístas”, promotora da paz e da família, ao receber esta o Prémio Internacional Carlos Magno. “Penso numa Europa sem nacionalismos egoístas, na qual as nações sejam consideradas como centros vivos de uma riqueza cultural que merece ser protegida e promovida para o benefício de todos”, referiu no breve discurso que antecedeu a entrega do prémio, promovido pela cidade alemã de Aachen. O Prémio Internacional Carlos Magno, estabelecido na Alemanha ocidental, em 1949, quando a cidade de Aachen se encontrava em ruínas após a II Guerra Mundial, é entregue em reconhecimento do compromisso do Papa em favor da unidade entre os povos europeus. “Que a Europa, que na história sofreu tantas guerras sangrentas, possa converter-se num agente activo da paz no mundo!”, desejou João Paulo II, tendo presente a história do prémio. A ocasião foi aproveitada pelo líder da Igreja Católica para reafirmar a validade da herança cristã na construção europeias, desejando que na nova UE “as conquistas da ciência, da economia e do bem-estar social não se orientem a um consumismo sem sentido, mas estejam ao serviço de todo homem necessitado e da ajuda solidária para aqueles países que tentam alcançar a meta da segurança social”. “Penso numa Europa cuja unidade se fundamente na autêntica liberdade. A liberdade de religião e as liberdades sociais amadureceram como frutos preciosos sobre o humus do cristianismo. Sem liberdade, não há responsabilidade: nem diante de Deus, nem diante dos homens”, acrescentou. Como de costume, o Papa deixou uma palavra de especial atenção aos jovens. “Os jovens compreendem-se com muita facilidade entre si, para além das fronteiras geográficas. Como pode nascer uma geração juvenil aberta à verdade, à beleza, à nobreza, ao que é digno de sacrifício, se na Europa a família já não se apresenta como uma instituição aberta à vida e ao amor desinteressado?”, perguntou. Esta foi a primeira vez que o prémio Carlos Magno foi entregue fora de Aachen, em mais de 50 anos de história. João Paulo II foi considerado pelos promotores do mesmo como “um eminente e exemplar modelo dos valores europeus para o povo de todo o mundo, harmonizando na sua vida o respeito pela dignidade e a liberdade do ser humano, pela igualdade, pela solidariedade e pelo sentido de responsabilidade pelos seres humanos”.
