O fenómeno de fé que hoje se concentra na Cova da Iria e que envolve comunidades cristãs de todo o mundo, não é uma complexidade teológica nem um desafio que só os estudiosos alcançam. O acontecimento da Cova da Iria é um encontro com os mais pequenos. Com três crianças pastores, que nada sabiam das opções políticas de um mundo em guerra nem das motivações anticlericais republicanas da época.
Francisco, Jacinta e Lúcia, são os escolhidos para um encontro inesperado que propunha um itinerário para alcançar a paz. A “senhora de branco” não lhes pede que, no mês seguinte, voltem àquele lugar com teólogos, clero ou intelectuais… pede-lhes que sejam eles, ali presentes em cada dia 13. Aquelas crianças simples e com pouca instrução escolar bastavam para que a mensagem fosse acolhida.
As crianças não foram apenas os videntes em 1917, elas são também a simplicidade e a humildade essenciais para a manifestação de Deus no meio do mundo. Por isso, Fátima é um grande catecismo para os mais novos, é uma escola de fé para aqueles que compreendem as coisas grandes sem as reservas e a complexidade dos preconceitos dos adultos. Lúcia nas memórias, narra a sua infância e a dos primos, marcada pela presença central da família e da oração em comum. Francisco, descreve a vontade de estar junto do Jesus “escondido” no sacrário da igreja paroquial de Fátima. Jacinta quer resgatar almas para que não se percam no inferno. O terço é a oração que as crianças conhecem e que a senhora lhes apresenta como ferramenta espiritual capaz de mudar o mundo e converter nações.
Hoje, os Papas vieram a Fátima, multiplicaram-se os congressos teológicos e aprofunda-se a investigação em torno dos acontecimentos ocorridos há 100 anos, mas as crianças continuam a ser os protagonistas deste mistério. Todos os meses, no terceiro sábado, o Santuário prepara-lhes um momento celebrativo e catequético. Mas, será nas comunidades cristãs, a muitos quilómetros da Cova da Iria, que o acontecimento de Fátima inspirará certamente, o trabalhado de catequistas e animadores pastorais que encontram na mensagem de Fátima a pedagogia da simplicidade que cativa e envolve os mais pequenos. A prova disso salta à vista naquele que é o “13 de Maio dos pequeninos” em que se transformou a Peregrinação Nacional das Crianças a Fátima. Uma enchente de pequenos peregrinos que ali chegam disparando perguntas não muito diferentes das dos pastorinhos… quem é vossemecê? O que quer de nós? Como chegamos ao céu?…
Este centenário não nos pode afastar dos pastorinhos, ainda que um deles tenha crescido e vivido até aos 97 anos. Os beatos Francisco e Jacinta são uma oportunidade para os mais pequenos entenderem a santidade, o que a fé lhes propõe e que caminho devem fazer na Igreja. Este é um desafio pastoral rico e interpelante, que deve ser aprofundado neste centenário das aparições.