Conhecimento da realidade leva D. José Alves a apontar para os problemas da interioridade e do envelhecimento O novo Arcebispo de Évora quer dar continuidade ao projecto pastoral que os antecessores desenvolveram, “um processo de transformação pastoral que a diocese de Évora tem sofrido”. Em declarações à Agência ECCLESIA, D. José Alves destaca o conhecimento do terreno que já possui, sublinhando as dificuldades colocadas pela interioridade. Évora está condicionada pela desertificação e pelo envelhecimento da população, em especial dos meios mais pequenos. “São condicionantes graves para o desenvolvimento sócio-económico e também pastoral de qualquer local”, adianta o novo Arcebispo. Esta realidade pede uma “adaptação e remodelação dos projectos pastorais”, pois o número de jovens e crianças está a diminuir e o número das pessoas mais velhas, aumenta. “Isto vai condicionar toda a pastoral, nas paróquias mais pequenas”, aponta, Sem esquecer a preocupação pela área vocacional, o novo Arcebispo de Évora afirma que é notória a falta de novos padres e consagrados, um aspecto a que um Bispo “não se pode alienar”. Apesar de serem poucas, D. José Alves sabe que actualmente surgem mais vocações no Alentejo que em anos anteriores. “Houve um acréscimo, apesar de em número reduzido”, observa. Apenas na medida em que houver mais vocações ao sacerdócio, “se poderá renovar o clero”, adianta sem esconder a preocupação pelo envelhecimento dos sacerdotes. A crise do clero é real, mas “não é tão grave como se fala tendo em conta que a população está a diminuir, em particular nas dioceses do interior”. A desertificação populacional é outra das preocupações que o novo Arcebispo manifesta. Esta será uma questão a acompanhar de perto, “fazendo alguma pressão, uma vez que a responsabilidade directa é das entidades governativas”. Acrescenta que esta situação “não está nas mãos dos bispos”, mas não refuta o exercício de “alguma influência através de algumas propostas que podemos lançar”. Marca de D. Maurílio Durante 26 anos D. Maurílio Gouveia esteve à frente da maior diocese do país, geograficamente falando, anos em que imprimiu uma marca indiscutível. Suceder-lhe implica reconhecer as marcas que o agora Arcebispo Emérito, deixa na região. Um homem “dinâmico”, aponta D. José Alves que, recorda, “teve a felicidade de estar na diocese na altura em que o Papa João Paulo II visitou o Santuário de Vila Viçosa”. D. Maurílio foi “um apaixonado pela juventude e fez muita coisa nessa área, dedicando-se e congregando os jovens”. O novo Arcebispo reconhece que esta “é uma das classes onde a pastoral mais se deve empenhar, pois é onde se sente de forma aguda a mudança social e pastoral”. O agora Arcebispo Emérito “foi um homem dedicado à diocese”, dando especial atenção às visitas pastorais e às missões nas paróquias. Visitou, pelo menos, duas vezes toda a diocese, “onde manteve um contacto muito próximo com as populações”. “É-lhe característico a devoção a Nossa Senhora”, reconhece D. José Alves, havendo em todo o território uma especial devoção mariana, também pela existência do Santuário de Nossa Senhora da Conceição, em Vila Viçosa. D. Maurílio Gouveia é um homem “voltado para os problemas sócio-económicos e muito virado para a cultura”. Évora é também uma cidade cultural, já de longas tradições, recentemente reavivadas, pelo pólo dinamizador da cultura que é a Universidade. Regresso às raízes D. José Alves considera que dar continuidade a este trabalho é “uma responsabilidade, até por ser a maior diocese em extensão do país”. D. José Alves esteve durante muitos anos na diocese de Évora, onde em 1998 foi ordenado Bispo. Por isso adianta que “o reconhecimento do terreno está feito”. Mas não esconde que, na ausência de 10 anos, “muita coisa muda”. Isso obriga a uma actualização, mas o novo Arcebispo considera que “os muitos conhecimentos que mantenho na cidade de Évora e até mesmo na diocese, serão benéficos. “Tive oportunidade de percorrer toda a diocese e conheço todo o terreno”, sublinha. O conhecimento, admite, permite ganhar terreno, mas reconhece, também, que o trabalho de há 10 anos atrás, “precisa de novos moldes”. D. José Alves quer perceber as transformações que ocorreram e a partir daqui, “definir linhas de orientação pastoral”. Conhecedor da Diocese que o vai receber no próximo dia 17 de Fevereiro, o novo Arcebispo de Évora, D. José Alves, parte de Portalegre–Castelo Branco, a diocese que o acolheu durante três anos e meio, já com saudade. Em 2004 saiu de Lisboa, onde trabalhou como Bispo auxiliar desde 1998, para Portalegre. Ali viveu e trabalhou durante três anos e meio, tempo onde “criei uma relação afectiva com as pessoas e também uma relação eclesial, de trabalho e compromisso”, pelo que sente já “alguma nostalgia” por interromper uma relação.