Não adianta construir cadeias ou mudar as leis se a sociedade não apostar na reinserção social dos reclusos. Esta foi a opinião unânime resultante da conferência sobre o “Sistema Prisional Português, que reforma?”, promovida pela Pastoral Prisional de Braga, e que juntou naquela cidade responsáveis do Instituto de Reinserção Social (IRS), da Provedoria da Justiça, da Ordem dos Advogados e o director-geral dos Serviços Prisionais, Luís Miranda Pereira, que pôs a nu a realidade das cadeias portuguesas, que “não podem ser valeta para onde se atira lixo”, frisou Alves Pinto, do IRS/Norte. Neste colóquio, integrado na IV Semana Fé e Cultura, de 19 a 23 de Maio, Luis Miranda Pereira defendeu uma reforma do sistema prisional porque “a actual situação não é sustentável nem é boa para ninguém”, já que existe uma sobrelotação de “100% em algumas prisões regionais” onde é impossível trabalhar ou tentar qualquer intervenção de regeneração ou de formação dos detidos. As estatísticas mostram que as prisões só conseguem ter uma intervenção profissional junto de 30 a 40 por cento dos presos, pelo que há 60 por cento de pessoas, que a sociedade rejeitou e perante as quais nada fez para não adoptarem comportamentos desviantes, que não têm qualquer apoio profissional. O director-geral das prisões notou que as cadeias são um mundo “extremamente complexo” em que por vezes nalguns estabelecimentos o seu funcionamento assenta “em práticas inaceitáveis”, em que a única forma de manter “o equilíbrio entre reclusos e guardas é estes traficarem droga à vontade de forma a não chatearem os seus vigilantes” – reconheceu Luís Miranda Pereira, afastando por completo a ideia idílica de que a cadeia “é a máquina de lavar o indivíduo” antes dele voltar de novo à sociedade.
