Os perigos da sociedade sem ética

Fundação SPES juntou políticos e pensadores ao longo de 12 sessões, nas cidades de Lisboa e Porto, analisando o «caos» internacional Enquanto o mundo está mergulhado numa grave crise, a Fundação SPES promoveu um curso livre de «Ética e Política», ao longo de 12 sessões nas cidades de Lisboa e Porto. Lições de alerta e pistas de ajuda a solucionarem o «caos» internacional. Logo sessão inaugural (12 de Janeiro), o administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, Marçal Grilo, sublinhou que “a Política é talvez a actividade mais nobre que um cidadão pode desempenhar ao serviço da sociedade em que está integrado”. Todavia deixa um alerta: “esta acção desenvolvida no chamado Mundo da Política está eivada de riscos e vícios porque infelizmente, para muitos, a acção política é apenas uma forma de se satisfazerem interesses de grupos que utilizam o Poder em benefício próprio e sem pensar no Bem Comum”. A primeira obrigação ética «A Economia, na sua tensão com a ética» foi o tema desenvolvido pelo economista José Manuel Moreira. “Há sempre uma tensão entre ética e economia”, mas a grande dificuldade reside “no mau entendimento do que é a economia” – disse à Agência ECCLESIA o economista da Universidade de Aveiro. Para quem quer melhor o funcionamento da Economia, José Manuel Moreira aconselha: “temos de saber o que é a Economia e o mercado”. Num Estado que gasta “quase metade daquilo que as pessoas produzem”, o economista pede “mais competência” às instâncias governativas. Nas aulas, José Manuel Moreira afirma aos alunos que a primeira obrigação ética “é ser competente”. Num mundo com dois mercados (político e económico) “é essencial perceber como eles funcionam”. E exemplifica: “se num jogo de cartas as pessoas fazem batota, eu não devo atribuir a batota ao jogo, mas sim atribui-la às pessoas”. Um dos erros que as pessoas cometem “é confundirem economia de mercado e batota”. Num país onde a justiça e segurança “não funciona, isto enviesa e afecta todo o jogo”. Um teólogo do século XVI, Domingos de Souto, afirmava que os “vícios do comércio não são próprios do comércio, mas dos comerciantes”. Nestas tensões entre ética e economia, José Manuel Moreira apela ao conhecimento contínuo. “Se eu quero diminuir o desemprego, mas não sei como funciona a Economia há o perigo de aumentar o desemprego”. Despertar as consciências Na lógica do conhecimento, Guilherme d´Oliveira Martins referiu, na última sessão do Curso «Ética Política», realizada ontem (18 de Fevereiro), em Lisboa, que é fulcral “despertar as consciências para a liberdade e responsabilidade e semear cultura”. No lançamento desta semente, o presidente do Centro Nacional de Cultura afirma que os resultados “não aparecem de um dia para o outro”. Aliás – sublinhou o orador – “não há cultura nem educação sem a capacidade de aprender”. O que distingue uma sociedade desenvolvida e uma sociedade atrasada “não está no conjunto dos bens materiais, mas na capacidade de ensinar” – disse. Ao olhar para a sociedade actual e a crise vigente, o presidente do Centro Nacional de Cultura declarou que “a crise financeira é civilizacional e de valores”. E acrescenta: “o belo, justo, bom e verdadeiro não são abstracções, mas realidades que devem estar enraizadas”. Os valores só fazem sentido “se forem assumidos” – pediu. Nos últimos anos, a literatura que teve mais sucesso aponta para “as receitas de boa vida e que ajudam a viver melhor”. As receitas apontadas são vistas “pura aparência e ilusão”. O código não substitui o carácter Neste mundo das ilusões, a confiança adquire-se pelo respeito de um conjunto de regras “e não tanto por impor coisas” – denunciou José Manuel Moreira. Neste caminho ético, “nenhum código ou lei substitui o carácter”. Ao olhar para a realidade, o economista de Aveiro afirmou à Agência ECCLESIA que a sociedade “está cada vez menos vertebrada”. A raiz dos problemas está identificada, mas “todas as crises têm o lado positivo”. A situação actual “não se pode manter por mais tempo”, mas “infelizmente muitas políticas defendidas incentivam as pessoas a endividarem-se”. E recorda: “No seu sentido original, economia significava poupança”. E finaliza: “o incompetente não é ético”.

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Agência ECCLESIA

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