Os médicos matam?

José Luís Nunes Martins

Quem pode obrigar outro a fazer algo que vai contra as suas convicções pessoais mais íntimas? Quem será o responsável pelo resultado desses atos, quem os prescreve ou quem os executa?

Muitas crianças têm medo de ir para o hospital, temem, sem razão, que algo de mau lá lhes aconteça. É certo que hoje se pode morrer nos hospitais por causa de infeções lá contraídas, mas outra coisa diferente em absoluto será a possibilidade de lá sairmos mortos porque alguém julgou que assim seria melhor para nós. Também é verdade que, do ponto de vista infantil, o hospital é onde se morre. Pelo que a luta pela vida passa pela resistência de não se deixarem arrastar para dentro desse tipo de edifícios!

Os médicos não matam. Nunca. Podem e devem respeitar a natureza, não devendo ser obstinados na manutenção da vida, ainda que sob o pretexto de poderem estar a realizar ensaios de que outros se podem aproveitar.

Se um doente pedir ao seu médico para que este ponha fim à sua vida, que pode fazer o clínico, se a sua entidade patronal e a lei do seu país o coagirem a fazer o que não quer e sabe que não deve?

À medicina cabe encontrar formas de sarar todo o tipo de feridas a fim de devolver a cada pessoa a sua saúde e bem-estar. Vida saudável. Vida. Se as feridas forem impossíveis de sarar, pois então deve trabalhar para que aquele que as sofre se sinta o menos mal possível.

Quem tira a vida ao outro sara-lhe as feridas? Há quem julgue que há feridas tão grandes que o melhor é cortar-se o mal pela raiz. Então acabámos de descobrir a cura para todas as doenças fatais! A morte vence sobre todas e cada uma!

O que fazer a alguém que sofre numa cama de hospital ao ponto de pedir para si mesmo a morte? Cumprir essa sua vontade ou fazer o possível para que ela perca o sentido? Matar ou dar mais vida a essa vida?

Alguém nos deu a luz da vida, para que, alguns meses depois, outro alguém nos desse à luz. Quem, por mais que saiba, poderá sentir-se no direito de dispor desse dom ao ponto de o considerar uma maldição?

Os médicos defendem a vida. Tentam saber tudo sobre os males e como os vencer. Admitir que pode haver um momento em que o melhor é retirar a vida é perder o sentido último da própria medicina.

Pode a terapêutica de um doente consumir ao erário público dezenas de milhares de euros por dia? Deveriam existir limites? Ou, a bem do estado, devem estabelecer-se valores que não devem ser ultrapassados?

 

Será que alguém só é valioso enquanto for útil, no sentido comum de utilidade? Será que um doente terminal não poderá ser um exemplo de paciência e coragem face ao sofrimento que (quase) obriga os demais a centrarem as suas vidas no mais importante de tudo?

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Agência ECCLESIA

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