Paulo Rocha, Agência Ecclesia
No último discurso de despedida da Cartuxa de Évora, o prior, padre Antão Lopez, referiu-se ao último mês da presença dos monges em Portugal como um tempo “emocionado e emocionante”, não só pelo que aconteceu em torno do Mosteiro Scala Coeli, mas também porque “hora do adeus” passou por muitas horas nos meios de comunicação social.
Em Évora, o ambiente de silêncio e clausura foi habitado por todos os que quiseram conhecer os corredores onde apenas caminhavam alguns monges, as celas onde cada um rezava e trabalhava, os jardins que os aproximavam do Criador, a capela para horas madrugadoras de tempos de a oração, a biblioteca, o refeitório e até o cemitério onde também os últimos quatro monges queriam ser sepultados. Tempos e espaços exclusivos de alguns monges, os que passaram pela Scala Coeli nos últimos 60 anos, que rapidamente se estenderam não só a quem visitou o Mosteiro da Cartuxa no último mês de outubro, mas a todos os que se ligaram e se ligam às lentes e microfones que registaram tudo o que acontecia na Cartuxa e o partilharam nas últimas semanas. E o padre Antão notou-o com gratidão! No tal último discurso dizia que “Portugal continuou a reunir-se, agora diante dos televisores, para saber dos Cartuxos”, através de “todas as emissoras, os principais magazines e revistas, as rádios…”
E assim aconteceu!
Pensar esta possibilidade poderia ser pouco provável no quadro de um relacionamento nem sempre fácil, que conhece tempos e gramáticas não coincidentes pela natureza de cada ambiente, o mediático e o religioso. Mas foi uma feliz constatação no que diz respeito à clausura da Cartuxa de Évora, normalmente de portas fechadas, espaço reservado e “indisponível” para os media. Noutras circunstâncias, esses seriam os ingredientes bastantes para um argumento extraordinário, real ou fictício, a inspirar um guião com todos os ingredientes para gerar impacto, emoções, audiências nos media. Como aconteceu, não pela via da suspeita, mas da verdade e da transparência.
Cada vez que era emitida ou publicada uma reportagem sobre a vida de poucos monges, de octogenários em diante, a mostrar o grande claustro ou as pequenas celas, a oração de dia e de noite ou o trabalho a todas as horas, sempre aconteceu sempre sem filtros, tando os dos media como os da instituição, do mosteiro. Uns e outros, os comunicadores e os comunicados não se preocuparam com o melhor ângulo, a perspetiva interessada (ou interesseira), a mensagem a passar. A verdade e a autenticidade do que se via e ouvia sobrava para o impacto que tanto se procura na comunicação, também do facto religioso. Assim acontece desde a primeira reportagem que vi sobre a Cartuxa, realizada pelo padre António Rego para o programa 70×7, em 1982, como a que o Henrique Matos trouxe ao mesmo programa, quase 40 anos depois.
Nas Jornadas de Comunicação deste ano, onde a formação proposta foi em torno do “Impacto da Imagem”, os participantes sublinharam uma conclusão transversal aos vários contributos e aos debates realizados: a autenticidade tem de ser a marca de qualquer comunicação, feita com rosto!
A Cartuxa de Évora e os monges que deixaram a “Escada do Céu”, assim como os serviços diocesanos que colaboraram na comunicação de um mês de despedidas, mostraram que quando a comunicação é feita com verdade e autenticidade, resulta e há encontros entre setores aparentemente distantes, a Igreja Católica e os media.
(Este texto já começou a ser escrito há uns dias. É concluído num dia em que se evoca São Bartolomeu dos Mártires, quando é lido o decreto da sua santidade, na Sé de Braga, e após ter participado na audiência pública do Papa francisco, na última quarta-feira, para assinalar os 25 anos da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã e ter a possibilidade de entregar ao Papa uma peça comemorativa dos 40 anos do programa 70×7. Dois exemplos, um do passado e outro dos dias de hoje, de comunicação com verdade e autenticidade. A seguir!)
Cartuxa: Em Évora há uma «Escada para o Céu» – Reportagem especial