João Aguiar Campos, Secretariado Nacional das Comunicações Sociais
Penso não ser sensação minha: vivemos num tempo espartilhado e fatiado. Ao longo do dia, sentimo-nos ensanduichados em horas e compromissos. Presentes num lugar, incomoda-nos estarmos atrasados em relação ao sítio onde já devíamos ter chegado; ou pressiona-nos que nos avisem que lá devemos estar “daqui a pouco”.
É neste contexto que menciono alguns dos diminutivos que hoje me apoquentam. Exprimem a medida mínima de disponibilidade; consentem-me somente uma capacidade espremida de atenção….
A quem reclama a urgência de uma conversa, muitos de nós explicamos que, depois de compactada a agenda, talvez se lhe ofereça um “tempinho”, traduzido num minuto – que depressa passa a “minutinho”.
Claro que sabemos quantos segundos tem um minuto; mas chamar-lhe “minutinho” ajuda a fazer senti-lo como uma enorme generosidade, mesmo que seja incalculável quanto está acima do nada.
Sim; como se de um bolo se tratasse, fatiamos e fatiamo-nos em sms e twitts que nem as palavras escrevem até ao fim. E por aí andamos, com a cabeça cheia de mini recados, qual porta de frigorífico cravejada de ímanes e postites.
Dos diminutivos do tempo, passamos para os da relação com os demais, a começar por casa. Nesta, não raro a ternura dita com muitos “inhos” é a forma mais elegante de nos dispensarmos de compromissos normais e/ou, a fortiori, maiores. Sim, que o amor é exigente; mas o “amorzinho” tem a obrigação de compreender que o inadiável pode ser adiado, ou que até nos deve substituir na advertência pedagógica, há dias decidida e ainda sem vez. “Cansadinhos” e “arrasadinhos”, só nos apetece que todos estejam “caladinhos”…
Convenhamos que nem Deus escapa aos nossos diminutivos. E também aqui não haveria nada de mal se neles se incluísse a dose máxima de ternura… O problema é que, não raro, integram a dose mínima de entrega – como se estivéssemos a falar de um “tem que ser”.
Assim – e dou apenas este exemplo — não dispensar a “missinha” não pode implicar a escolha criteriosa da mais breve das celebrações, de acordo com os seguintes critérios: pouca música, padre desembaraçado que não se ponha “para ali com coisinhas” ou silêncios incomodativos; e, já agora, sem longas filas na comunhão…
Ironia minha, neste olhar?..
É uma interpretação. Mas eu gostaria mais que estes parágrafos pudessem colocar-nos a pensar na desvalorização dos nossos encontros; e, a partir daí, fôssemos capazes de estar menos epidérmicos e mais comprometidos. Se quiserem: com a alegria esperar; com a alegria de estar!..
João Aguiar Campos