Os desafios de Larry Clark

“Miúdos”, mais conhecido pelo seu título original “Kids”, marcou em 1995 o início da carreira de Larry Clark como realizador. Tomando por base um romance da sua autoria revelava um realismo intensamente cru em relação à juventude contemporânea, a que o realizador, já então com 52 anos, decisivamente não pertencia. Na sua curta obra de meia dúzia de filmes a receita foi-se repetindo em retratos sociais de extrema agressividade, em análises com muitas vertentes positivas mas, sobretudo, revelando a desilusão e o desgosto com o previsível futuro, sempre com recurso a uma violência física e psicológica claramente excessiva. Entre os mais marcantes dentro desta linha contam-se, além do referido “Miúdos”, “Bully – Estranhas Amizades” (2001) e “Ken Park – Quem és Tu?” (2002). Hoje, com mais de 60 anos, Larry Clark parece ter arrefecido um pouco, sem prejuízo de manter o seu interesse pelos problemas sociais, nomeadamente os que envolvem a juventude. Realizou agora “Wassup Rockers – Desafios da Rua”, pondo em confronto dois bairros de Los Angeles de diferentes estruturas sociais: o perigoso e pobre South Central e o do máximo luxo e vida despreocupada de Beverly Hills. Tudo se passa em função da intervenção de um pequeno grupo de rapazes vindos do primeiro bairro que, confrontados com o luxo que nunca conheceram para si próprios se comprazem nas provocações e confrontos numa afirmação pessoal capaz de confortar muitas carências conhecidas desde a nascença. Larry Clark atinge a mesma profundidade dos filmes anteriores, expõe os problemas com clareza e objectividade. E não necessitou de ir ao mesmo grau de violência visual, preferindo, de uma forma mais cinematográfica, deixar ao espectador a capacidade de interpretar as situações muito para além do que directamente lhe é apresentado. Francisco Perestrello

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Agência ECCLESIA

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