Os 75 anos da Sociedade Missionária da Boa Nova

I. Ideário 1.1. «Esta é a história de (Aarão e) Moisés no dia em que falou YHWH a Moisés no monte Sinai» (Nm 3,1). «1Moisés estava a apascentar o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madiã. Conduziu o rebanho para além do deserto, e chegou à montanha de Deus, ao Horeb. 2O anjo de YHWH apareceu-lhe numa chama de fogo, do meio da sarça. Ele olhou e viu, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não era devorada. 3Moisés disse: “Vou desviar-me do caminho para ver esta visão grande: Por que razão não arde a sarça?” 4YHWH viu que ele se desviava do caminho para ver; e Deus chamou-o do meio da sarça, e disse: “Moisés! Moisés!” Ele disse: “Eis-me aqui!”» (Ex 3,1-4). A história de Moisés é uma história como as outras, e não é uma história como as outras. Conduzindo o rebanho, viu uma Visão grande, e, com o intuito de ver mais e melhor, saiu do seu caminho, deixou o seu rebanho. Com uns grandes olhos desejosos de ver e habitado por um grande Porquê, Moisés aparece como uma criança à medida do Evangelho (Mc 10,13-16). Ouviu uma voz que o chamava, e respondeu de pronto: “Eis-me aqui!” A história de Moisés não começa quando nasce, não descreve os seus projectos, não elenca os seus sucessos. A história de Moisés é a história de uma visão que o provoca e da Palavra de Deus que o convoca, e que ele ousa ver e a que ousa Responder. 1.2. O Deus bíblico manifesta-se sempre atento e compassivo para com o seu povo e comprometido na libertação de todas as escravidões. É quanto se pode ver neste texto paradigmático do Livro do Êxodo: «7YHWH disse: “Eu bem vi a opressão do meu povo que está no Egipto, e Ouvi os seus gritos diante dos seus opressores; Conheço, na verdade, os seus sofrimentos. 8Desci a fim de o libertar da mão dos egípcios e de o fazer subir desta terra para uma terra boa e espaçosa, para uma terra que mana leite e mel…”» (Ex 3,7-8). O Deus bíblico revela aqui a sua identidade, não afirmando-se e defendendo-se à volta do seu “eu”, do seu “céu”, resguardando-se dentro das portas douradas da sua eternidade, mas DESCENDO até à alteridade do outro, de quem “Vê a opressão”, “Ouve os gritos”, “Conhece os sofrimentos”, tem em vista uma solução ou resposta. Face aos gritos de Israel, qual será a resposta de Deus? A resposta de Deus não será alguma coisa, mas Alguém. Será Moisés. Quando o seu povo grita, Deus responde sempre da mesma maneira. Responde com Moisés., com os Profetas, e, finalmente, com Jesus Cristo. 1.3. Mas também hoje, quando o seu povo grita, Deus continua a responder da mesma maneira, chamando os discípulos de Jesus Cristo e toda a sua Igreja para socorrer e libertar os seus filhos. É neste “ponto de vida” que se situam também os missionários que devem sempre, como Moisés, saber desviar-se do seu caminho, para Ver, Ouvir e Responder melhor à Palavra que os convoca e os provoca. A Sociedade Missionária da Boa Nova entrou num desafio assim há 75 anos. Muitos companheiros nossos deram a vida por se terem desviado do caminho para Ver, Ouvir e Responder melhor. Que o Senhor da messe nos mantenha atentos, compassivos, comprometidos e fiéis. Dados históricos 1.4. No dia 3 de Outubro de 2004 entrámos, em termos de cronologia, no 75.º ano de vida da nossa Sociedade Missionária, que vamos completar no próximo dia 3 de Outubro de 2005. Na verdade, a nossa Sociedade Missionária, então com o nome de Sociedade Portuguesa para as Missões Católicas, foi fundada em 3 de Outubro de 1930 mediante carta da Santa Sé a nomear o Senhor D. João Evangelista de Lima Vidal, Arcebispo de Vila Real, como Superior Geral da erigenda Sociedade Portuguesa para as Missões Católicas, e a conferir-lhe indicações para o desempenho do cargo, de acordo com as Constituições então aprovadas ad experimentum pela Santa Sé. Foi assim que, também por indicação da Santa Sé, foram postos como fundamento da nova Sociedade os Colégios das Missões que já então existiam em Tomar, Cucujães e Cernache do Bonjardim. D. João Evangelista de Lima Vidal, continuando como Bispo de Vila Real, dispôs-se também, com determinação e zelo exemplares, a aceitar o novo cargo, vindo residir, também por indicação da Santa Sé, no Colégio das Missões de Cucujães. No seguimento destes propósitos e trabalhos e dos seus bons frutos, a Sociedade Portuguesa para as Missões Católicas oi erecta em Instituto Clerical de Direito Pontifício no dia 24 de Outubro de 1932, mediante a Carta Autógrafa Suavi Sane, de Sua Santidade o Papa Pio XI. Dois dias depois, em 26 de Outubro de 1932, acontece o início real desta Sociedade Missionária, com o Juramento, segundo as Constituições, dos seus cinco primeiros membros. Dinamismo missionário 1.5. A nossa Sociedade Missionária nasceu, portanto, do dinamismo missionário das Igrejas Diocesanas que estavam em Portugal e que de há muito se organizavam e preparavam para a acção missionária, mormente nos Colégios acima referidos, e da solicitude do Papa Pio XI, que em 3 de Outubro de 1930 a dotou com as primeiras Constituições e nomeou o seu primeiro Superior Geral. A nossa Sociedade Missionária nasce assim firmemente ancorada no dinamismo missionário da Igreja portuguesa e na providência da Santa Sé. Deu logo os primeiros passos e os primeiros frutos. Em 13 de Junho de 1940, na Carta Apostólica Saeculo Exeunte Octavo, o Papa Pio XII, saudando a nação portuguesa nos oitocentos anos da sua história e dirigindo-se aos Senhores Bispos de Portugal, pôde afirmar: «Tendes no meio de vós, e sem dúvida o apreciais condignamente, um monumento insigne da solicitude que merece a esta Sé Apostólica a educação das vocações missionárias, e é a Sociedade Portuguesa para as Missões Católicas Ultramarinas, fundada pela providência e energia do Nosso imortal Predecessor Pio XI, de v. m., a qual é para nós igualmente objecto de especiais cuidados e esperanças». E pouco depois, acrescenta: «Aos Directores dos Colégios da mencionada Sociedade Missionária, como também aos Superiores das outras Corporações religiosas, queremos abrir o Nosso coração, para que vejam bem as Nossas preocupações apostólicas e quanto desejamos que as vocações missionárias sejam devidamente cultivadas e solidamente formadas». 1.6. Desde o princípio, a Sociedade Missionária assenta os seus fundamentos na missionariedade ad gentes da Igreja portuguesa e na diocesaneidade dos seus membros, diferenciando-se aqui dos Institutos de Vida Consagrada. Foi assim no princípio. É assim ainda hoje, em que sentimos a alegria de vermos cada vez mais sacerdotes diocesanos e leigos a quererem calcorrear connosco os caminhos da missão. Por tudo damos graças a Deus. Os ventos sempre novos do Espírito foram guiando os nossos caminhos, orientando os nossos passos, primeiro para Moçambique (1937), depois para o Brasil e Angola (1970), mais tarde para a Zâmbia (1980) e para o Japão (1998). Em toda a parte nos temos dedicado e queremos continuar a dedicar-nos cada vez mais e melhor ao anúncio do Evangelho, ao Diálogo com outros povos e culturas e ao Relato das maravilhas de Deus. 1.7. Depois de termos dedicado os dois anos anteriores à escuta, vivência e pregação do Evangelho e à prática da vida apostólica como uma necessidade, com os lemas “O Evangelho faz a diferença” e “Ai de mim se não evangelizar!”, entrámos neste ano das bodas de diamante da nossa Sociedade Missionária com o lema “75 anos em missão com Ele”. Queremos que este lema seja verdade na nossa vida. Certamente o foi sendo na vida dos companheiros que nos precederam, e que, com o seu testemunho, por vezes até ao sangue, sabiam que não estavam sozinhos, sabiam em quem tinham confiado, sabiam a quem seguiam no caminho. “75 anos em missão com Ele” é, portanto, uma constatação e uma herança, mas pretende ser também um programa, um desafio, uma provocação para nós, Hoje. Para os tempos de hoje 1.8. Tendo sempre diante de nós essa nuvem de testemunhas, hoje é a nossa vez de correr com os olhos fixos n’Ele (cf. Hb 12,1-2). Bagagem essencial para o caminho: «3O amor e a fidelidade não te abandonem: ata-os ao teu pescoço, escreve-os na tábua do teu coração, 4e encontrarás graça e bondade aos olhos de Deus e dos homens. 5Segura-te no Senhor com todo o teu coração; não te apoies na tua inteligência. 6Reconhece-O em todos os teus caminhos, e Ele endireitará as tuas veredas» (Pr 3,3-6). 1.9. Recomendou a IX AG que dedicássemos este ano jubilar à renovação do nosso “espírito eucarístico”. De resto, também o Papa convocou a Igreja para o «Ano da Eucaristia» entre Outubro de 2004 e Outubro de 2005, entregou à Igreja a Carta Apostólica Mane Nobiscum Domine (7 de Outubro 2004), e deu à sua Mensagem para o 78.º Dia Missionário Mundial (24 de Outubro de 2004) o título significativo de “Eucaristia e Missão”. 1.10. Reunimo-nos à volta da Eucaristia para vermos melhor o rosto d’Ele e dos irmãos, e para sentirmos e discernirmos melhor os caminhos da missão, de que não somos donos. A missão é d’Ele. Nós somos chamados a estar com Ele. Nunca, porém, à frente d’Ele. Ele é que é o Mestre. Nós devemos segui-l’O como discípulos fiéis. Segui-l’O. Mas também não podemos ficar demasiado para trás. Correríamos o risco de O perder de vista. E, perdendo-O de vista, como poderemos ainda segui-l’O? Como poderemos ainda estar com Ele? A Eucaristia é ainda a grande escola em que nos podemos sentar quotidianamente com Ele. A Eucaristia não é, como pensa uma parte significativa do nosso mundo de hoje, uma celebração que serve para assinalar ocasiões extraordinárias, como o nascimento, o casamento, a morte, ou uma qualquer importante efeméride. A Eucaristia ensina-nos que na nossa vida nada pode ser banal, que cada simples momento tem de ser extraordinário. 1.11. Fica connosco, Senhor, neste ano de graça. Fica connosco. Preside-nos e precede-nos sempre. E que nós estejamos lá sempre atrás de Ti, perto de Ti. Contigo. II. Programação Geral Com o intuito de celebrarmos condignamente os nossos 75 anos de vida missionária ad gentes, de nos empenharmos cada vez mais e melhor no anúncio do Evangelho experimentado como uma necessidade, e para partilharmos esta necessidade com as nossas Igrejas Diocesanas e com os nossos amigos e cooperadores, vamos realizar alguns eventos, abertos a todos os que nos queiram dar a honra e a alegria da sua presença. 2.1. Lema “75 anos em missão com Ele”. 2.2. Principais Eventos – 3 de Outubro de 2004: I Encontro de Confraternização dos Familiares dos Membros da Sociedade Missionária da Boa Nova, no Seminário de Cucujães, já realizado com elevada participação. – 12 de Fevereiro de 2005: Peregrinação ao Santuário do Sameiro (Braga), das 11h00 às 16h00. – 14-18 de Março de 2005: Peregrinação a Roma, incluindo um breve encontro de saudação com o Papa (dia 16). – Abril de 2005: Abertura de uma Exposição Missionária, a organizar em Cucujães, e que, no todo ou em parte, percorrerá outros espaços importantes, como Valadares e Cernache do Bonjardim, e esteja patente, sempre que possível, em alguns dos principais eventos deste ano jubilar. – 8 de Maio de 2005: Festa Missionária em Cucujães. – 18-19 de Junho de 2005: Peregrinação Missionária dos Missionários da Boa Nova ao Santuário de Fátima, a que se digna presidir Sua Eminência o Senhor Cardeal Crescenzio Sepe, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos. – 8-11 de Setembro de 2005: Congresso sobre a Missão, subordinado ao tema: “Deus no século XXI e o futuro do Cristianismo nos 75 anos da SMBN” (Valadares). – 8-23 de Setembro: I Encontro de jovens sacerdotes da Sociedade Missionária da Boa Nova. – Levaremos a efeito também, em data que oportunamente comunicaremos, uma sessão de cultura missionária em Lisboa. – Em Outubro de 2005, em dia que será oportunamente comunicado, encerraremos as comemorações no Seminário de Cernache do Bonjardim, que guarda pedaços da mais rica história missionária de Portugal. ANTÓNIO COUTO ·Superior Geral dos Missionários da Boa Nova

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