“Os tempos ainda não estão amadurecidos para se pensar nisso, se o Papa assim decidisse, haveria conflitos, rupturas e solavancos na sociedade”, disse D. José da Cruz Policarpo ao ser questionado sobre a possibilidade da ordenação de mulheres na Igreja Católica. O Cardeal-Patriarca de Lisboa foi um dos conferencistas convidados para um colóquio promovido pelo Instituto Jurídico da Comunicação da Faculdade de Direito de Coimbra e à margem da sua intervenção exortou a se “rezar muito ao Espírito Santo” para que esse assunto seja esclarecido no seio de toda a Igreja. No entanto, D. José Policarpo confessou não partilhar a ideia da mulher ser tudo o que um homem é, nem o contrário, mas disse advogar a “beleza da diferença”, e a preservação da “riqueza inaudita” da mulher na sociedade. Numa intervenção intitulada “A Religião e a Lei”, o Cardeal-Patriarca fez uma retrospectiva da evolução das relações entre o Estado e a religião, concluindo que o Concílio Vaticano II deu expressão à conhecida frase “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, para estabelecer uma distinção entre as realidades profana e religiosa. “Esta distinção é fundamental para que as relações do Estado laico com a Igreja e com as outras religiões seja harmónica, sem conflitos que prejudiquem a harmonia da sociedade”, sublinhou. Noutra parte da sua conferência, D. José Policarpo considerou ser necessário distinguir bem a natureza das coisas como garante e “verdadeiro fundamento da distinção dos poderes” e clarificação dos “limites do direito do Estado reger as realidades religiosas”. Esta distinção, aliás, “não impede a convergência quanto aos grandes valores morais defendidos pela Igreja e pelo Estado, nomeadamente a promoção da dignidade da pessoa humana, a liberdade de pensar e de se exprimir ou a promoção da justiça e da paz. Na sua perspectiva, as leis não precisam de ser religiosas para regerem e protegerem valores humanos que também são valores religiosos, mas quando o Estado não respeita esses valores “o conflito pode surgir, não um conflito de religião, mas sim de cultura e de civilização”. Em Portugal, a concretização da liberdade religiosa para os católicos exprime-se através da Concordata celebrada com a Santa Sé, mas com um sentido de equilíbrio, pois não poderia pôr em causa, a favor da Igreja, os direitos fundamentais das outras confissões religiosas, explicou. D. José Policarpo, interveio no painel intitulado “Direito, Comunicação Social e Religião”.