Termina hoje a IV edição das Jornadas Interprovinciais da Pastoral Psiquiátrica, promovidas pelo Instituto São João de Deus. Estão a participar colaboradores que trabalham na pastoral da saúde em Portugal e de três províncias em Espanha, onde prestam um serviço religioso, formando ao todo um grupo de 70 pessoas. O Instituto São João de Deus tem seis casas de saúde psiquiátricas espalhados pelo país. No Telhal, no concelho de Sintra, S. João de Deus, no Funchal, S. João de Deus, em Barcelos, S. José, Areias de Vilar, também em Barcelos, Ponta Delgada em S. Miguel e S. Rafael em Angra do Heroísmo, ambas nos Açores. Sob o tema “Pastoral em Saúde Mental, Princípios de Terapia Integral” as temáticas pretendem reflectir “sobre as metodologias na pastoral da saúde e sobre a hospitalidade e empenho. As conferências funcionam como base para um trabalho de grupos onde estas reflexões são debatidos à luz da avaliação de necessidades dos utentes e da intervenção que é dada” explica Susana Queiroga, Assessora da Pastoral da Saúde e Animação. Pastoral Integrada A pastoral realizada com doentes psiquiátricos, que se traduz na atenção personalizada e activa, desenvolvendo-se num trabalho contínuo, pretende-se integrada em equipas médicas, com psicólogos, enfermeiros, entre outras qualificações multidisciplinares. O objectivo é que esta pastoral seja realizada em consonância com a família do utente. O acompanhamento espiritual do doente na pastoral de saúde tem em conta toda a sua história, e passa muito pela conversa, pela presença e conforto inseridos num contexto multidisciplinar. Varia sempre de centro para centro e depende das equipas constituintes, da sua dinâmica, mas “as linhas orientadoras da pastoral da saúde, além da assistência religiosa que prestam, passa também pela animação e por uma reunião de elementos lúdicos a que os doentes se possam dedicar” refere a Acessora da Pastoral. Segundo Susana Queiroga “ainda não temos dados específicos que nos dêem um feedback sobre o efeito da pastoral da saúde. São dados que estão em estudo”, apenas em Espanha são conhecidos resultados. Esta falta de dados nacionais traduz-se num atraso na realização concreta de uma pastoral da saúde mais organizada. Até agora, “a pastoral é feita e coordenada nos diferentes centros de saúde mental, com base na presença activa dos agentes e num documento de estratégia e dinâmica de São João de Deus” refere Susana Queiroga, mas o objectivo é que as equipas da pastoral estejam incluídas na planificação das intervenções da saúde. Segundo explica Vitor Cotovio, Director da Casa de Saúde do Telhal, “esta ligação ao plano nacional de saúde ainda não é efectiva” apesar de a Ordem Hospitaleira, na prática deter “mais de metade das camas no tratamento psiquiátrico” refere o Director. Este projecto, faz parte de um caminho começado há algum tempo, quando a pastoral começou a ser encarada como parte integrante no tratamento desenvolvido com os doentes. A nível nacional estão a desenvolver-se projectos sobre cuidados continuados de âmbito genérico, “mas vai sair legislação especificamente sobre cuidados de saúde mental” refere Vitor Cotovio. A psiquiatria está a ser reorganizada, e existe uma comissão de reestruturação dos serviços de psiquiatria, que em Março deverá apresentar um levantamento sobre os serviços de psiquiatria nos hospitais gerais, com vista a uma reorganização dos serviços. O problema do financiamento “O instituto está disponível para trabalhar na rede de cuidados continuados” Progressivamente pretende-se que a Ordem Hospitaleira seja reconhecida como parceira no sistema nacional de saúde, aspecto “constatado na prática, mas não ainda reconhecido”. Os hospitais públicos acabam por procurar a ajuda da ordem hospitaleira porque não conseguem dar resposta. “Por alguma razão nos procuram para dar resposta a questões que o estado não consegue. Queremos formalizar, mas há sempre a barreira financeira” refere Vitor Cotovio. O financiamento é uma grande dificuldade dos projectos. A diária que é paga num hospital estatal é superior à taxa paga num hospital pertencente à Instituição. “O financiamento das despesas é feito com base nesta diária” que só se consegue rentabilizando os recursos e apostando na flexibilidade. “O sistema público tem mais funcionários que nós, mas nós continuamos a apostar no espírito de missão”. E neste espírito de missão que cultivam, há casos de sucesso que vão acontecendo. “Procuramos a desinstitucionalização, que é diferente de «desospitalizar»”. Há os casos das unidades de vida que funcionam como comunidades que se formam a partir de doentes que após avaliação, apresentam competências para ou voltar para a família (quando existe), ou viver em apartamentos que serão depois supervisionados por monitores e acompanhados de perto. “A legislação que irá sair irá requalificar também estas unidades” refere o director da casa de Saúde do Telhal. Um trabalho que celebra este ano 400 anos de história.