Jornalista analisa papel da Organização das Nações Unidas no mundo, no dia em que assinala 79 anos
Lisboa, 24 out 2024 (Ecclesia) – O jornalista José Pedro Frazão, da Renascença, defendeu hoje, em entrevista à Agência ECCLESIA, que nada vai mudar na ação da Organização das Nações Unidas (ONU) se o Conselho de Segurança não for alvo de uma reforma.
“Enquanto não for feita esta reforma do Conselho de Segurança, nomeadamente a articulação do direito de veto e eventuais mudanças nessa matéria, julgo que pouco pode acontecer de consequente na ação da ONU”, afirmou, no programa Ecclesia, transmitido hoje na RTP2, no âmbito do Dia da Organização das Nações Unidas, que hoje se assinala.
O jornalista mostrou-se cético em relação a mudanças na ONU, salientando que é “muito difícil mexer” neste complexo do órgão da organização.
“É verdade que se isso fosse alterado, poderia ter um impacto multiplicador noutras áreas, noutros domínios, e que a ONU deixasse de ser apenas um local de proclamações, tratados não vinculativos”, ressaltou.
José Pedro Frazão alertou que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que surgiram a seguir aos Objetivos do Milénio, são “um quadro de objetivos da humanidade que tem muita probabilidade de não ser cumprido”.
“Portugal também tem o seu trabalho a fazer, mas as questões de redução da pobreza, as questões de acesso à água, à qualidade, à educação, a vários direitos sociais, marca passo. E não é com uma declaração de princípios que muitas vezes lá vamos”, sublinhou.
Sobre o financiamento da Organização das Nações Unidas, o jornalista da Renascença refere que se Donald Trump, candidato à presidência dos Estados Unidos da América, for eleito, a ONU vai passar um “mau bocado”, devido ao facto de este país ser um importante contribuinte.
“[A ONU] não pertence à primeira linha, nem à segunda, nem à terceira linha de prioridades de Donald Trump”, realça.
Na entrevista, o jornalista José Pedro Frazão considerou que a Organização das Nações Unidas tem um lugar “ainda bastante relevante no mundo inteiro” e que permanece “uma linha de vida fundamental para muitas populações”.
“Neste momento, embora corra o risco de ser uma gigante ONG, digamos assim, como muitos gostam de dizer, às vezes até para menorizar o seu papel, a verdade é que é, de facto, uma organização essencial para muitos países”, assinalou.
Questionado sobre o surgimento de outras organizações que vêm disputar o protagonismo da ONU, José Pedro Frazão deu o exemplo da negociação climática, referindo que apesar dos instrumentos financeiros do grupo dos sete países mais industrializados do mundo (G7) e dos 20 países mais industrializados (G20) em relação a energias limpas, a verdade é que “nada supera” o “instrumento negocial das convenções das Nações Unidas sobre as alterações climáticas”.
“Não existe nada que supera esse multilateralismo ao nível destes tratados. E isso é ainda fundamental”, frisou.
O entrevistado falou ainda na realização da Conferência das Nações Unidas sobre a Biodiversidade, que se realiza em novembro, na Colômbia, e outra sobre a desertificação, em dezembro, que mostram como a ONU tem uma agenda que tem “em linha de conta o equilíbrio do planeta”.
“E isso é algo que não está propriamente, se calhar, na primeira linha da ação do G7, digo eu”, indicou.
Fundada a 24 de outubro de 1945, a Organização das Nações Unidas é atualmente composta por 193 Estados-membros, tendo como objetivo “unir todas as nações do mundo em prol da paz e do desenvolvimento, com base nos princípios da justiça, dignidade humana e no bem-estar de todos”.
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