ONU condena violência contra cristãos no Iraque

Milhares de pessoas em fuga por causa da ofensiva lançada no bastião da Al-Qaeda no Norte do país O representante especial da ONU para o Iraque, Staffan de Mistura, condenou “veementemente” esta Segunda-feira a recente onda de violência contra a comunidade cristã de Mossul, bastião da Al-Qaeda no Norte do país. Este responsável falou do “assassinato de civis”, mostrando a sua inquietação perante “o aumento da violência contra os cristãos nos últimos dias, em particular nos arredores da cidade de Mossul”. Segundo comunicado da ONU, estes actos “visam aumentar as tensões e exacerbar a instabilidade num momento crítico”. “As Nações Unidas e os seus parceiros seguem com inquietação a situação”, indica Staffan de Mistura. O representante da ONU recorda que as minorias “são parte integrante do Iraque”. A comunidade católica existe nesta região desde os primeiros séculos do Cristianismo, guardando tradições próprias únicas no mundo. Este Domingo, Bento XVI lembrou as populações cristãs do Iraque, convidando a rezar “pela reconciliação e paz em algumas situações que provocam alarme e grande sofrimento”. A comunidade caldeia (a que congrega o maior número de católicos no país) reza na mesma língua que Jesus falava, o aramaico, e sobrevive há 2 mil anos sem nunca ter tido um rei ou um império cristão no território. Vivem no país antes dos tempos de Maomé e falam a língua local, mas a recente hostilidade de grupos muçulmanos armados desencadeada com a invasão norte-americana já reduziu o número de cristãos para cerca de metade. A mais recente onda de violência, na terceira maior cidade do Iraque, levou à fuga de cinco mil pessoas. O governo de Bagdad enviou 900 polícias para a capital de Nínive e ordenou a detenção dos responsáveis pelos ataques. “Os cristãos têm o direito de viver em segurança e com dignidade, são uma partedo povo iraquiano”, refere um comunicado do chefe do Executivo de Bagdad, Nouri al-Maliki. O texto dá conta da decisão governamental de reforçar a segurança nos bairros cristãos de Mossul, cidade de onde saíram, desde Sexta-feira, mais de 1300 famílias. O governador de Ninive, reconheceu existir uma campanha de propaganda anticristã e de actos contra a referida comunidade. 11 cristãos foram mortos e, no Sábado, três casas de cristãos foram destruídas com explosivos. Situada 370 quilómetros a norte de Bagdad, Mossul é uma das mais perigosas cidades do Iraque. Em Fevereiro passado, o Arcebispo caldeu da cidade, D. Faraj Rahho, foi raptado e encontrado morto algumas semanas mais tarde. A morte do Arcebispo Rahho foi o primeiro caso a atingir um membro do episcopado local. Em Junho de 2007, um padre e três diáconos foram assassinados em Mossul, capital da província de Nínive. Na mesma cidade, em Janeiro de 2005, fora sequestrado o arcebispo da comunidade siro-católica, D. Basile Georges Casmoussa. Segundo dados divulgados pela agência AsiaNews, do Pontifício Instituto das Missões Estrangeiras, entre 2003 e 2007 houve 172 assassinatos de cristãos iraquianos. Os cristãos originários da área entre o Iraque, a Turquia a Síria e o Irão – onde os cristãos são aceites desde o século I – têm recusado criação de um encalve étnico-religioso nas planícies de Nínive, alegando que tal solução resultaria numa espécie de “gueto”. História Estes cristãos representam umas das mais antigas comunidades do Oriente, remontando ao século II. Acredita-se que o Apóstolo Tomé, antes de seguir o seu caminho até à Índia, terá deixado na região dois discípulos, Mar Addai e Mar Mari. Da sua pregação nasceu uma Igreja que, nos primeiros séculos do cristianismo, demonstrou uma enorme vitalidade e se espalhou nas regiões que hoje são a Síria, o Irão e o Iraque. As raízes cristãs são testemunhadas por mosteiros e conventos nos séculos V e VI. A chamada Igreja Assíria do Oriente, obteve a autonomia no concílio de Markbata, em 492, com a possibilidade de eleger um Patriarca com o título de “Católico”. Em 1830 o Papa Pio VIII nomeou o “Patriarca da Babilónia dos Caldeus” como chefe de todos os católicos caldeus. A sede deste Patriarcado era Mossul, no norte do Iraque, e seria transferida para Bagdade em 1950, após a II Guerra Mundial. O rito Caldeu é um dos 5 principais ritos do cristianismo oriental e desenvolveu-se entre os séculos IV e VII, antes da conquista árabe. A denominação de “caldeu” prevalece no Ocidente desde o séc. XVII, embora os habitantes da região prefiram a designação “siro-oriental”. As celebrações conservam o uso do aramaico e possuem gestos, espaços e ritmos muito especiais, que remontam ao tempo dos primeiros apóstolos, em alguns casos.

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