OE 2012: Caritas alerta para aumento do número de pobres

Eugénio Fonseca diz que a classe média vai ser «mais martirizada»

Lisboa, 14 out 2011 (Ecclesia) – O presidente da Caritas Portuguesa alertou hoje para o aumento do número de pobres com as medidas anunciadas pelo Governo e defendeu a renegociação do pagamento da dívida à ‘troika’, já que “não se sabe quando a crise vai terminar”.

Eugénio Fonseca disse à agência Lusa que, mais uma vez, é a classe média a “mais martirizada”, assistindo novamente ao agravamento da sua situação social e económica.

“Aqueles que já estavam no limiar da pobreza vão ficar mais pobres e alguns vão cair efetivamente na pobreza”, frisou o responsável, convicto de que “estas medidas vão contribuir para o aumento de número de pobres em Portugal”.

O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho apresentou esta quinta-feira várias das medidas do OE 2012, como a “expansão do horário de trabalho no setor privado em meia hora por dia” ou “ajustar o calendário dos feriados”, para além da “eliminação dos subsídios de férias e de Natal para todos os vencimentos dos funcionários da Administração Pública e das Empresas Públicas acima de 1000 euros por mês”.

Os vencimentos situados entre o salário mínimo e os 1000 euros serão sujeitos a uma “taxa de redução progressiva, que corresponderá em média a um só destes subsídios” e serão eliminados “os subsídios de férias e de Natal para quem tem pensões superiores a 1000 euros por mês”.

O presidente da Caritas Portuguesa disse ainda “não compreender” o facto de as medidas incidirem apenas nos funcionários públicos, que “vão ter menos poder de compra”.

“É uma situação preocupante”, frisou, ressalvando que “as culpas não podem ser só atribuídas a este Governo”, que já “encontrou o país numa situação muito difícil consequência de sucessivas governações que tiveram mais preocupações em servir interesses corporativos, financiando gente que já estava abastada e financiando projetos só para salvaguardar interesses de determinados grupos”.

“Todos os dias temos novidades, todos os dias descobrem os malfadados buracos económicos. Eu receio é que estejamos a destruir a esperança de um povo e que amanhã, retomada a economia, possa não acreditar mais nos governantes e percam o sentido da soberania e isso temos de preservar”, acrescentou.

Questionado sobre se esta situação pode levar a uma revolta social, Eugénio Fonseca disse que se corre esse perigo: “Estou com receio porque as pessoas estão a conter determinadas angústias e tem tendência a expeli-las e isso pode acontecer de diversas formas”.

“As pessoas devem vir publicamente manifestar a sua insatisfação mas isso pode ser feito em harmonia, sem qualquer agressividade violenta, mas acho que o povo não deve ficar de braços cruzados”, sublinhou.

A votação na especialidade do OE, cujo prazo de entrega na Assembleia da República termina no dia 17 de outubro, decorrerá nos dias 24, 25 e 28 de novembro.

O OE 2012 será sujeito a votação final global no Parlamento no dia 29 de novembro, segundo decisão tomada em conferência de líderes parlamentares.

O chefe do Governo afirmou que há um desvio orçamental de 3 mil milhões de euros, anunciando ainda que o executivo vai “ajustar” o calendário de feriados e permitir que as empresas privadas aumentem o horário de trabalho em meia hora por dia, sem remuneração adicional.

Lusa/OC

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Agência ECCLESIA

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