Responsáveis católicos temem agravamento da pobreza e reações de protesto
Lisboa, 14 out 2011 (Ecclesia) – O presidente da Confederação Nacional das Instituições Particulares de Solidariedade Social (CNIS), mostra-se preocupado com o aumento das medidas de austeridade anunciadas esta quinta-feira pelo primeiro-ministro português.
“O que de facto me assusta é o corte no subsídio de férias e de Natal para quem ganha mais de mil euros, mas todos os outros acabam por ser afetados”, afirmou o padre Lino Maia, em declarações à Renascença.
Pedro Passos Coelho, líder do executivo de coligação PSD-CDS/PP, revelou ao país que o Orçamento de Estado (OE) prevê a eliminação do subsídio de férias e de Natal para os funcionários públicos com vencimentos ou pensões acima de mil euros por mês, enquanto durar o programa de ajustamento financeiro, até ao final de 2013.
Os vencimentos situados entre o salário mínimo e os 1000 euros ficarão sujeitos a uma taxa de redução progressiva, que corresponderá em média a um só destes subsídios.
O presidente da CNIS salienta que “todos os trabalhadores da Função Pública são atingidos severamente” pelas novas medidas de austeridade.
O padre Lino Maia diz que a sociedade está perder esperança, cujo espaço começa a ser ocupado pelo receio.
“As perspetivas vão sendo cada vez mais negras e cada vez parece que há menos espaço para a esperança”, frisa.
O presidente da Caritas Diocesana de Vila Real, por seu lado, teme que os cortes anunciados pelo Governo aumentem o número de famílias que já recorrem ao fundo social para pagamento de faturas ou de rendas de casa.
Vila Real é a diocese que mais tem recorrido ao Fundo Social Solidário que foi criado pela Conferência Episcopal há pouco mais de um ano.
O padre Ernesto Lúcio Creio afirmou à Agência Lusa acreditar que “a partir de janeiro vai ser pior”.
“É uma série de peso financeiro em cima da classe média, que acabará por desaparecer”, apontou.
O bispo emérito de Setúbal, D. Manuel Martins considerou hoje que as medidas anunciadas quinta-feira pelo Governo vão fazer “escorrer muito sangue” e assumiu-se como “derrotado” ao fim de 84 anos de vida a lutar contra a fome.
Em entrevista à agência Lusa a propósito das medidas do OE para 2012, o prelado disse que as mesmas vão provocar “uma desgraça muito grande” em Portugal.
“Não sei se o povo terá forças para ir para a rua, mas muitas coisas graves poderão acontecer”, sublinhou.
A presidente do Banco Alimentar Contra a Fome, Isabel Jonet, considerou que as medidas apresentadas pelo Governo são “muito duras” e particularmente gravosas para as famílias “com orçamentos muito reduzidos, sem folga para mais reduções”.
Já o bispo das Forças Armadas, Januário Torgal Ferreira, lamentou que os sucessivos “desvios colossais” não sejam explicados nem provados e considerou que as medidas anunciadas pelo governo revelam “falta de lucidez”.
“Estou disposto a colaborar e a cooperar, como é meu dever, para salvar o meu país, mas tenho muito medo que uma tentativa salvacionista se transforme num suicídio”, disse o também vogal da Comissão Episcopal da Pastoral Social.
A votação na especialidade do OE, cujo prazo de entrega na Assembleia da República termina no dia 17 de outubro, decorrerá nos dias 24, 25 e 28 de novembro.
O OE 2012 será sujeito a votação final global no Parlamento no dia 29 de novembro, segundo decisão tomada em conferência de líderes parlamentares.
O chefe do Governo afirmou que há um desvio orçamental de 3 mil milhões de euros, anunciando ainda que o executivo vai “ajustar” o calendário de feriados e permitir que as empresas privadas aumentem o horário de trabalho em meia hora por dia, sem remuneração adicional.
RR/Lusa/OC