Docente da UCP integra delegação da Santa Sé na Conferência de Lisboa e lembra responsabilidade de cada pessoa para o «cuidado da Casa Comum»
Lisboa, 29 jun 2022 (Ecclesia) – António Cortês, docente da UCP que integra a delegação da Santa Sé na Conferência dos Oceanos, a decorrer em Lisboa, apelou ao compromisso individual e coletivo para superar os desafios colocados pelas alterações climáticas.
“Precisamos de políticas, de tratados, mas ninguém é pequeno demais para fazer a diferença”, disse o professor português em declarações à Agência ECCLESIA.
O docente da Faculdade de Direito – Escola de Lisboa, da Universidade Católica Portuguesa, realçou que se cada pessoa fizer a sua “quota-parte”, como evitar “usar plásticos de utilização única”, apoiar a pesca sustentável, “contribuir para reduzir a pegada carbónica”, pode ajudar a fazer a diferença.
“Às vezes, um simples gesto como a separação dos lixos em casa pode fazer a diferença”, acrescentou.
O entrevistado, membro integrado e coordenador da linha de investigação de Assuntos Marítimos, Governação dos Oceanos e Direito do ‘Católica Research Centre for the Future of Law’, participou esta terça-feira num diálogo participativo, que decorreu no Colégio Pedro Arrupe, à margem da Conferência dos Oceanos da ONU.
“A grande revolução é a revolução do coração e, neste evento, o missionário Pedro das Filipinas disse que nós precisamos de uma linguagem, como a religiosa ou artística, que toque o coração”, salientou António Cortês.
Portugal, em conjunto com o Quénia, organiza até 1 de julho a segunda Conferência dos Oceanos, sob o lema “Salvar os Oceanos, Proteger o Futuro”; a delegação da Santa Sé é presidida pelo núncio apostólico, D. Ivo Scapolo.
António Cortês explica que “as preocupações” desta representação são as que o Papa Francisco manifestou na encíclica ‘Laudato Si’, que “em vários pontos foca os oceanos”.
“Já em 2015, o Papa revelava a sua preocupação com questões como a subida do nível do mar, a perda da biodiversidade, as alterações climáticas que são uma questão que está estreitamente ligada com os oceanos. A degradação oceânica e as alterações climáticas são duas fases do mesmo problema, embora nem sempre se dê conta disso, julgo que nesta conferência isso tem ficado bastante patente”, desenvolveu.
O docente universitário acrescenta que uma das preocupações que o Papa já tinha manifestado na sua encíclica ecológica e social “é o problema da poluição” e nesta conferência tem sido muito salientado o “problema da poluição dos plásticos, que é gravíssimo”.
“Em 2050, possivelmente, teremos mais massa de plástico no oceano do que peixe, o que é assustador, e a preocupação da Santa Sé nesta conferência é efetivamente a preocupação do nosso cuidado pela casa comum, de que os oceanos são uma parte essencial uma vez que cobrem 70% da superfície terrestre”, assinalou.
“Não é possível um cuidado da casa comum, sem o cuidado dos oceanos”, acrescentou António Cortês.
O Vaticano lançou um documento sobre a água, ‘Aqua fons vitae’ (água, fonte de vida), no dia 30 de março de 2020, onde desafiou as paróquias de todo o mundo a abandonar o uso de garrafas de plástico e a investir em sistemas amigos do ambiente.
O Governo português espera ver aprovada uma ‘Declaração de Lisboa’ na segunda Conferência dos Oceanos, que ajude a concretizar o ODS 14, acelerando o combate à poluição e reforçando a preservação da biodiversidade e a sustentabilidade.
OC/CB
O Papa alertou hoje, em Roma, para as consequências da seca e do aumento de temperatura, com incêndios e “sérios danos às atividades produtivas e ao ambiente”.
“Desejo que se coloquem em prática as medidas necessárias para enfrentar estas urgências e para prevenir emergências futuras. Tudo isto nos deve fazer refletir sobre a tutela da criação, que é responsabilidade nossa, de cada um. Não é uma moda, é uma responsabilidade: o futuro da terra está nas nossas mãos e nas nossas decisões”, declarou, após a recitação do ângelus na solenidade de São Pedro e São Paulo. |