Obra inédita dá a conhecer autos natalícios do Algarve

Tradições esquecidas são recuperadas “Natal Tradicional II” é o nome do livro que recolhe as tradições dos autos natalícios na região do Algarve. Esta obra que será brevemente editada, mostra como as tradições são ricas e apesar de não serem revividas, não estão esquecidas. Uma parceria a duas mãos que juntou o Padre José Cunha Duarte, responsável pela parte etnográfica e o irmão, o Padre Afonso Cunha Duarte, responsável pela análise literária dos autos e suas fontes. Há cerca de 20 anos o Padre José Cunha Duarte iniciou a recolha etnográfica dos cantares, tradições da região algarvia. O primeiro volume com o título “Natal no Algarve – Raízes Medievais” foi um resumo de todos os cantares particulares recolhidos em todo o Algarve, Esta obra contem ainda informação sobre todos os grupos de cantares de charolas, que correspondem a um canto com dança medieval, assim como de janeiras, falando das suas origens. Passados tantos anos a dança desapareceu mas ficaram os cantares. Para este segundo volume, os co-autores fizeram um estudo sobre os teatros, chegando mesmo a descobrir o livro que serviu de base aos autos algarvios. A obra apresenta a origem do teatro religioso, a forma como começou dentro da Igreja e as suas representações durante as vigílias. “Na noite de Natal era tradição haver representações e as comunidades juntavam-se, uma vez que as representações serviam também como catequese”, lembra o Padre José Cunha Duarte. Era tradição na noite de Natal, na noite de fim de ano e na noite dos reis, sendo representados na praça do Rossio, no Algarve. “A origens dos autos e o fundamentos deles, preservam e dão a conhecer a nossa cultura”, assim acredita o co-autor, Pe José Duarte. Assim, a obra cita todas as fontes de origem dos autos natalícios e as bases onde os próprios autores realizavam a escrita dos autos. Planeiam também publicar um auto inédito encontrado na Biblioteca de Faro, o Auto dos Três Reis Magos, assim como o Auto dos Pastores e um estudo sobre um auto recolhido por José de Leite Vasconcelos. A obra reserva também um capítulo às cantigas de Santa Maria. “Quem ler os autos natalícios repara que quando se fala de Maria, todas as metáforas se desenvolvem nas cantigas de Santa Maria”, sendo cópia do original, refere Pe José Cunha Duarte. Os autos já não são representados porque “a I República proibiu as manifestações públicas dos autos”, explica o Pe José Duarte. Em 1917 ainda se encenou o Auto dos Reis e 1925 foi a última representação do Auto dos Pastores. “A década de vinte ainda assistiu a algumas tentativas de representações, depois perderam-se”, dá conta o co-autor. Ainda vão persistindo algumas tradições: no Barlavento Algarvio ainda existem os cantares ao menino, “que antigamente eram acompanhados por representações, agora só continuam os cantares”, elucida. Na obra estão anexos outros teatros algarvios. O Combate dos Mouros, que ainda hoje se representa em Santa Catarina da Fonte do Bispo, com uma periodicidade bienal. Antigamente também havia a procissão de Nossa Senhora das Dores, no Algarve, onde as pessoas iam em procissão atrás do andor a cantar vivas a Nossa Senhora. “Recolhemos a tradição, que hoje apenas se circunscrevem a declamações, das Loas de Santa Catarina da Fonte do Bispo, da cidade de Loulé”, esclarece o Pe José Duarte. Apresentam ainda como apêndice da obra, o teatro monumental de Albufeira, que consiste num presépio com movimento de 24 cenas, com todas as figuras feitas em barro. “Este texto vai ser publicado pela primeira vez e seis fotografias das imagens”, sublinha. E como as tradições não se ficam por aqui, têm ainda um projecto sobre os costumes e tradições algarvias, nomes próprios usados nesta região do país. “Porque se assim não for, daqui a uns anos ninguém se lembra destes costumes”. Com o primeiro volume, o autor dá conta de um enriquecimento. Com o segundo volume destes estudos sobre as tradições o Padre José Duarte gostaria que os grupos de teatro encenassem algumas peças e levassem à cena estas recriações”. Fica a sugestão.

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